O ídolo pernambucano Por Sérgio C.

Buarque Nossa Senhora da Conceição que se cuide!

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva é o novo ídolo dos pernambucanos, adorado por 9 entre 10 cidadãos deste Estado, fascinados pelos grandes investimentos que vêm sendo realizados nos últimos anos, atribuídos ao seu poder e à sua generosidade bairrista.

A cerimônia de despedida do seu governo no Marco Zero, neste final de 2010, evidenciou a gratidão emocionada da população pernambucana, convencidos de que Lula pegou a caneta e ordenou a localização dos grandes investimentos estruturadores no seu Estado de origem.

Mas, Lula não tem sido nada generoso com suas origens, sua terra natal no Agreste pernambucano.

Com tanto poder que concedem a ele, capaz de decidir onde instalar um estaleiro privado, uma refinaria de capital aberto, e uma montadora multinacional de automóveis, por que Lula resolveu concentrar tudo em Suape?

Por que não localizou todos estes empreendimentos em Caetés, cidade tão pobre e carente onde nasceu e viveu seus primeiros anos?

Perdoem a brincadeira, mas só um pouco de ironia para contrapor aos exageros milagrosos do ex-presidente.

Não há dúvida que, para além do seu descontrole verbal e falastrão e de algumas orientações políticas bastante discutíveis, Lula fez um bom governo.

Tanto que não precisava absolutamente fazer alarde indevido e enganador de que é o patrocinador e único responsável por tudo que se investiu no Brasil e em Pernambuco em 500 anos de história.

Bastava citar a manutenção da estabilidade econômica, a elevação real do salário mínimo, a consolidação da confiança na economia brasileira e alguns projetos públicos de infraestrutura (muito menos do que a propaganda do PAC, diga-se de passagem).

Mas Lula tinha que ser mais do que um bom presidente, tinha que ser o maior e melhor que o Brasil já teve e que o mundo conheceu, numa megalomania que parece ter se transformado num delírio coletivo.

Por que Lula não promoveu os investimentos em Caetés?

O óbvio que os devotos não veem (ou não querem ver): todos os grandes investimentos produtivos que estão sendo realizados em Suape são resultados de decisões de empresas privadas ou mista (a Petrobrás é uma empresa de acionistas que acionista não gosta de perder dinheiro) que buscam a rentabilidade econômica e escolhem a localização onde existem vantagens competitivas, e nunca onde o presidente manda.

Por isso Suape e não Caetés, mesmo que o ídolo pernambucano quisesse ajudar sua pobre gente e agitasse sua poderosa caneta no palácio do Planalto.

Claro que a capacidade negociadora do governo do Estado e os estímulos adicionais concedidos (terreno, incentivos fiscais, etc.) ajudaram nas escolhas entre alternativas com competitividade semelhante.

Claro que Lula tem méritos diretos, como a duplicação da BR-101 que completou a logística da região, mas vamos distribuir os créditos de forma justa e equilibrada, sem esta mistificação do ídolo super-poderoso e milagroso.

Os diferenciais competitivos do Complexo Industrial-portuário de Suape são resultado de décadas de investimentos e foram consolidados e ampliados por vários governos e iniciativas.

A configuração favorável da economia mundial e brasileira na última década (com uma crise no meio) encontrou o complexo já pronto e deu o impulso final para o ciclo de dinamismo da economia de Pernambuco.

Desta forma, se precisam de milagre é aconselhável que os pernambucanos continuem apostando em Nossa Senhora da Conceição.

Quem sabe, ela leva pelo menos algumas boas escolas para Caetés.

PS: Sérgio C.

Buarque é economista e consultor