Sílvia Freire, da Folha de São Paulo Maior contribuinte do Rio Grande do Norte, a Petrobras antecipou para o fim de dezembro –últimos dias da gestão do ex-governador Iberê Ferreira (PSB)– o pagamento de ICMS (Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços) ao Estado.
A medida revoltou o governo de Rosalba Ciarlini (DEM), que assumiu o cargo no dia 1º último e viu motivação política no pagamento da estatal.
Historicamente, o imposto é pago até o dia 20 do mês seguinte.
No caso do Rio Grande do Norte, o dinheiro entraria no caixa já na gestão da nova governadora, adversária política de Iberê.
Com a antecipação, entraram nos cofres do Estado em dezembro, segundo o atual governo, R$ 38 milhões, quantia equivalente a 90% do ICMS devido em dezembro pela Petrobras.
O dinheiro ajudou o ex-governador a quitar a folha de pagamento de dezembro e o 13º dos servidores públicos antes de deixar o cargo.
O total da folha do Estado chega a R$ 200 milhões.
Para Ciarlini, a antecipação do pagamento prejudicou as contas do Estado no início de sua gestão.
Ela afirma que seu antecessor deixou um deficit de mais de R$ 100 milhões na conta do Estado em dívidas não pagas.
ENERGIA Segundo o atual governo estadual, a Cosern, empresa distribuidora de energia do Estado, também antecipou para dezembro o pagamento do ICMS devido.
No total, R$ 43 milhões deixaram de entrar no caixa do novo governo neste mês de janeiro.
A receita mensal do Estado é de aproximadamente R$ R$ 460 milhões. “É uma coisa inusitada.
Nenhum contribuinte antecipa pagamentos.
Imagino que possa ter sido uma determinação superior [da empresa]”, disse o secretário-chefe do Gabinete Civil do Estado, Paulo de Tarso Fernandes.
ANTECIPAÇÃO Levantamento feito pela Folha mostra que a antecipação do pagamento de ICMS pela Petrobras no final do ano ocorreu apenas no Rio Grande do Norte.
O ex-secretário do Planejamento de Iberê, Nelson Tavares, negou influência política na antecipação de receita feita pela Petrobras.
O ex-governador Iberê assumiu o cargo em abril de 2010, sucedendo a ex-governadora Wilma Faria (PSB), e disputou a reeleição.
Foi derrotado por Ciarlini.
OUTRO LADO O ex-secretário do Planejamento no governo Iberê Nelson Tavares disse que o pedido de adiantamento da receita de ICMS à Petrobras foi parte de um “esforço hercúleo” para pagar os servidores do Estado e negou influência política na operação. “Procuramos captar todos os recursos possíveis para pagar a folha.
Foi feita uma solicitação à direção da Petrobras para que ela antecipasse alguma quantia para que a gente pudesse fechar a folha”, disse Tavares.
Segundo ele, a antecipação era viável, pois as vendas que geraram o imposto ocorreram ainda em dezembro. “Não houve ingerência política: o que há é um relacionamento muito bom entre a Petrobras e o antigo governante”, disse. “Espero que o atual governo mantenha.” A Petrobras informou que antecipou o pagamento do imposto não por “liberalidade”, mas por cumprimento a um decreto do governo do Estado de 27 de dezembro, no qual alterou o prazo de pagamento do ICMS.
A estatal não comentou a questão política.