Editorial do Jornal do Commercio O recifense há muitos anos é obrigado a conviver com o descontrole urbano, considerado problemático pelo próprio poder público municipal.

Caracterizado pelo domínio do caos nas vias, praças e calçadas, onde proliferam as ocupações indevidas, onde o trânsito e a acessibilidade se tornam desagradáveis aventuras, e o lixo acumulado vira parte da paisagem diária, o descontrole urbano tem seu principal fiador nos erros acumulados no passado, ainda não corrigidos pela gestão da cidade.

Parcela da população aproveita os espaços desregulados para uso impróprio quando a permissividade do município admite as invasões com pouca ou nenhuma reação em favor da manutenção da ordem.

Um círculo vicioso se forma, com a maioria refém de minorias cada vez mais donas dos territórios conquistados.

Desta maneira, é digna de aplauso e incentivo por parte da sociedade a operação da Prefeitura do Recife que objetiva organizar o comércio informal e banir a propaganda abusiva na área central, reabrindo trilhas de mobilidade que se encontravam entupidas.

Numa ação recente, a Rua do Hospício teve o número de ambulantes diminuído quase pela metade – de 137 para 72.

Material de construção que obstruía calçadas e galerias foi retirado.

O Corpo de Bombeiros notificou lojas com licenças vencidas, e três estabelecimentos de comércio de comida foram interditados pela Vigilância Sanitária.

Intervenção semelhante já havia sido feita na Rua 7 de Setembro, e até o Carnaval a Av.

Dantas Barreto deve ser alvo da operação, iniciada em novembro e chamada de Recife!

Nosso Centro, cuja meta é o resgate das ruas centrais da cidade como espaços nobres de serviço e moradia, com a circulação renovada.

A prefeitura promete que os vendedores desalojados irão contar com programas de capacitação e geração de renda.

Mas as reclamações não param.

Os ambulantes resistem dizendo que precisam do ponto para trabalhar e sobreviver.

A questão social tem que ser levada em conta.

Entretanto, vale ressaltar que o desagrado dos camelôs e dos lojistas afetados pelas medidas é proporcional ao extenso período em que a situação não foi atacada como deveria.

Enquanto essas operações não forem assumidas pelo poder público municipal como ações corriqueiras de controle urbano, as pressões e as insatisfações tendem a continuar.

A ordem nas metrópoles contemporâneas exige rigor na fiscalização de seu cumprimento, para que o respeito comece pelo exemplo do gestor eleito e nomeado para cuidar dos interesses coletivos.

Sem essa determinação contínua, várias tentativas anteriores de arrumar as nossas vias foram dissolvidas com o passar do tempo.

A bagunça no Centro infelizmente é a regra.

Em matéria recente mostramos como a Rua da Matriz, no mesmo bairro da Boa Vista, está tomada pelos ambulantes e seus produtos.

O pedestre não consegue andar direito, por causa de obstáculos como fogões, aparelhos de TV, e até portas, janelas, pias, cadeiras quebradas e espelhos de cama espalhados na via.

Além disto, por todos os bairros, o cenário é desalentador: esgotos abertos, lixo acumulado, carroças e animais circulando livremente e uma persistente poluição sonora fazem do ambiente urbano um ambiente onde se vê facilmente o caos, e a vida beira o insuportável, causando estresse, violência e mais caos.

Quanto mais a cidade cresce, sem o necessário controle, pior a qualidade de vida.

No que diz respeito à intervenção no comércio informal, é imprescindível para a limpeza efetiva de nosso Centro que a proposta de construção de um shopping popular para abrigar os comerciantes retirados não seja condicionante para o êxito da operação.

O Recife mais limpo deve ser uma preocupação primordial da prefeitura, que não se restrinja a ações pontuais, nem se perca devido a negociações políticas.

Que o esforço empreendido não se revele em vão, com o retorno da desordem nas ruas tratadas como propriedades privadas.

O espaço público pertence a todos, e como tal deve ser defendido, de forma regular e incisiva, pelo Executivo municipal, que está fazendo exatamente aquilo que espera a população recifense.