Por Ciara Carvalho, no Jornal do Commercio Terminal Integrado da Macaxeira, na Zona Norte do Recife, 6h30.
Mais um dia de ônibus lotados, passageiros espremidos, filas gigantes, empurra-empurra, confusão para entrar e sair dos coletivos.
Passaram-se mais de dois anos da implantação do novo modelo de gestão do transporte público na Região Metropolitana do Recife (RMR) e até agora ele não disse a que veio.
Para os quase dois milhões de usuários do sistema, a mudança ficou só na troca do nome.
Saiu Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos (EMTU) e entrou Grande Recife Consórcio de Transportes.
A maior promessa anunciada, a licitação das 384 linhas que operam o sistema, continua no papel.
Os investimentos viários que criariam corredores ligando as áreas extremas do Grande Recife também não vieram.
E dos 14 municípios da RMR, apenas dois aderiram ao consórcio.
O que deveria representar a modernização no gerenciamento virou uma reestruturação meramente formal e administrativa.
As vantagens de um sistema de transporte compartilhado com os municípios, sob liderança do Estado, são consensuais.
Não é o conceito de gestão metropolitana que está em xeque.
Mas a execução dele.
Praticamente nada do que foi anunciado como avanços do novo modelo vingou.
De concreto, o consórcio passou dois anos para entregar dois terminais do Sistema Estrutural Integrado (SEI), que permite ao usuário fazer diversos deslocamentos pagando uma única tarifa.
Foram inaugurados o terminal Pelópidas Silveira, na PE-15, em Paulista, e o terminal do Cabo de Santo Agostinho, primeiro braço do SEI no Litoral Sul do Grande Recife.
Mas a exemplo de todos os outros terminais, esses dois poderiam ter sido construidos da mesma forma pela extinta EMTU, quando o controle do transporte ficava só nas mãos do Estado.
O problema é que o consórcio prometia ir além.
Desde 2009, o Grande Recife anuncia, em diferentes datas, todas elas adiadas, a licitação das linhas habilitadas para operar.
Até agora não há uma definição nem do modelo licitatório que será adotado.
A promessa é de que haveria uma concorrência pública para a escolha das empresas que continuarão a prestar o serviço.
Hoje são 18, muitas delas dominando o mesmo segmento há décadas.
Sem licitação, não há regras claras e os usuários não têm como cobrar melhorias no serviço, como a instalação de ar-condicionado nos coletivos, uma reivindicação antiga.
SEM ADESÃO - A falta de articulação política com os municípios fez com que a adesão ao novo modelo ficasse limitada apenas às cidades de Olinda e Recife.
As duas são as únicas que entregaram a gestão do transporte nas mãos do consórcio.
Jaboatão dos Guararapes pretende entrar, mas ainda não há uma data definida. “O consórcio não conseguiu executar investimentos estruturadores para o sistema de transporte.
Também não houve a conclusão do sistema de bilhetagem eletrônica, que deveria estar sob responsabilidade direta do Estado.
Sem isso, escapam informação e controle operacional do sistema”, avalia o secretário de Serviços Públicos de Jaboatão, Evandro Avelar, que estava à frente da EMTU, na época em que a ideia do consórcio metropolitano começou a ser estruturada.
Apesar de defender que houve progressos na mudança de modelo, o secretário de Serviços Públicos de Olinda, Oswaldo Lima Neto, também ex-presidente da extinta EMTU, reconhece que o consórcio poderia ter avançado mais. “Faltaram investimentos para agilizar a implementação dos novos terminais e dos corredores de trânsito.
Sem eles, não há como reestruturar o sistema viário da região”, observou.
Ele chama atenção para outro problema grave: a perda de quadros técnicos após a mudança de nome. “O consórcio é uma empresa essencialmente técnica.
E houve um esvaziamento muito grande nos últimos anos.
Isso inviabiliza o planejamento e a execução dos projetos estruturadores”, diz.
Vale lembrar que foram gastos quase US$ 1 milhão com uma consultoria do Banco Mundial (Bird) para auxiliar o Estado na criação da nova empresa.
Dinheiro que, até agora, não se traduziu em melhorias para quem depende do transporte público para se locomover na região metropolitana. “Continua a mesma bagunça, com ônibus superlotados e sem horário certo.
A lei aqui é a do salve-se quem puder”, diz o vigilante Paulo Firmo, 43, pouco antes de ficar espremido na porta traseira da linha Barro-Macaxeira.
Questionado sobre que mudança ele sentiu com a transformação da EMTU em Grande Consórcio, a resposta foi curta e direta: “Nenhuma”.