Editorial do Jornal do Commercio O ministro Fernando Bezerra Coelho assumiu o maior desafio de sua carreira pública ao ser empossado na pasta da Integração Nacional.
Sua experiência como gestor público, por três vezes prefeito de Petrolina, e como secretário de Desenvolvimento Econômico, na primeira gestão do governador Eduardo Campos, quando trabalhou para atrair a implantação de uma siderúrgica e uma fábrica de automóveis para o Estado, o coloca em condições de ser importante elo entre Pernambuco e o governo da presidente Dilma Rousseff na viabilização de projetos vitais para o Estado e a região.
Sob sua responsabilidade estão duas maiores obras estruturadoras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) no Nordeste – a Transposição do Rio São Francisco e sua integração com as bacias hidrográficas do Nordeste Setentrional e a Ferrovia Transnordestina.
Nascido e criado no Sertão do São Francisco, Bezerra Coelho sabe o exato valor que a água tem para o nordestino e sua subsistência.
Ao longo de sua vida, pôde presenciar o contraste existente na região, que o seu tio e senador Nilo Coelho ajudou a transformar na Califórnia brasileira, com o início da implantação do Projeto Bebedouro, há exatos 50 anos.
Se nas margens do rio há a fartura, a possibilidade de vida próspera e abundante, alguns quilômetros adiante a miséria se instala na caatinga castigada pelo sol e pelo árido chão rachado.
Daí uma das primeiras medidas anunciadas como ministro ter sido a criação da Secretaria de Irrigação.
Com acerto, Bezerra Coelho estabeleceu como prioridade o estímulo à agricultura irrigada.
Foi ela quem mudou a paisagem e deu novo impulso econômico ao Semiárido nordestino, onde vivem 22 milhões de brasileiros.
As obras de infraestrutura hídrica e de irrigação contempladas no PAC 1 e PAC 2 alcançam R$ 14 bilhões e podem significar a universalização do acesso à água.
Nas últimas décadas, o Vale do São Francisco tornou-se o exportador de frutas (uva, manga, melão, acerola, goiaba) destinadas ao mercado europeu, além de prosperar como nova fronteira da vitivinicultura, com reconhecimento internacional, principalmente para seus espumantes.
Em 2009, eram mais de 120 mil hectares irrigados, gerando 240 mil empregos diretos.
Há ainda uma imensidão de terras e famílias esperando pelas águas da transposição.
Um dos primeiros convênios que o ministro deve assinar é o do Perímetro Irrigado do Pontal do São Francisco, no valor de R$ 240 milhões, com o qual se inaugura um modelo de gestão, através de parceria público-privada (PPP).
Bezerra Coelho tem como meta implantar outros projetos, como o Baixio de Irecê, o Projeto Salitre, o Canal do Sertão Alagoano, a Adutora do Agreste e o Canal do Sertão Pernambucano. “A agricultura irrigada é a atividade econômica que mais gera emprego por dinheiro aplicado – mais que a indústria automobilística, mais que a indústria têxtil, mais que a petroquímica”, disse o ministro em sua posse, prestigiada por governadores do Nordeste.
O ministro demonstra ter visão ampla da pasta ao afirmar a necessidade de fortalecer a Agência de Desenvolvimento do Nordeste (Adene, antiga Sudene) e a Agência de Desenvolvimento da Amazônia (ADA, antiga Sudam) e a Superintendência do Desenvolvimento do Centro-Oeste (Sudeco), dando nova dimensão aos organismos para que sejam voltados aos programas de transferência de renda.
Mas a política do governo deve ter foco no investimento, na criação de oportunidades de emprego e renda para que o Brasil se desenvolva e aos poucos elimine os programas compensatórios de erradicação da pobreza.
Para viabilizar os projetos, Bezerra Coelho pretende firmar contratos com o Banco Mundial e estimular políticas de financiamento pelo Banco do Nordeste e pelo Banco do Brasil.
Dispõe ainda dos Fundos Constitucionais de Financiamento para promover o desenvolvimento de atividades produtivas nos setores agropecuário, mineral, industrial, agroindustrial, turístico, comercial e de serviços.
Todo este esforço requer ainda que se invista na infraestrutura de transporte, na qual a Transnordestina terá papel preponderante.
A malha rodoviária da região também exigirá empenho político e parcerias com outros ministérios para sua recuperação, pois em alguns trechos encontra-se perigosa e quase intransitável, elevando o custo do transporte, e o São Francisco de uma vez por todas precisa se tornar uma importante via hidrográfica de escoamento da produção do interior de Minas Gerais à sua foz no Atlântico.