Amanda Costa, do Contas Abertas Após deixar o Palácio do Planalto, o ex-inquilino Luiz Inácio Lula da Silva entrou para o seleto grupo de ex-presidentes da República, formado por José Sarney (PMDB-AP), Fernando Collor de Mello (PTB-AL), Itamar Franco (PPS-MG) e Fernando Henrique Cardoso (PSDB-SP).

Pela legislação brasileira, cada um dos ex-chefes de Estado tem à disposição, em caráter permanente, oito funcionários, distribuídos nas funções de seguranças, assessores e motoristas.

Somada, apenas a remuneração dos funcionários cedidos aos ex-presidentes deve chegar a R$ 2,7 milhões por ano, com a inclusão da cota laboral de Lula.

Sarney, Collor, Itamar e Fernando Henrique utilizam integralmente a cesta de benefícios que, além dos funcionários, inclui dois veículos oficiais de luxo e combustíveis à vontade por conta dos cofres públicos.

O modelo mais utilizado é o Chevrolet Omega.

Mas, no caso de falecimento, o benefício é interrompido e as eventuais viúvas passam a contar com uma pensão especial vitalícia e intransferível, equivalente à pensão paga a viúvas de ex-presidentes do Supremo Tribunal Federal (STF), no valor de R$ 26,7 mil.

No caso das viúvas, é proibido, contudo, acumular o benefício com quaisquer outros recebidos do Tesouro Nacional, resguardado o direito da opção por outra benfeitoria.

Os servidores são de livre escolha dos ex-presidentes e recebem treinamento especial do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República para exercerem a nova atividade.

Os cargos são distribuídos em quatro servidores para atividades de segurança e apoio pessoal, dois motoristas e dois assessores para cada um dos ex-presidentes.

Os salários individuais variam entre R$ 2,1 mil (DAS-1) e quase R$ 9 mil (DAS-5) por mês e são pagos pela Presidência.

Os servidores em atividade de segurança podem, caso seja solicitado, ter porte de arma institucional.

Mas para isso, precisam passar por avaliação que ateste a capacidade técnica e a aptidão psicológica para o manuseio da arma de fogo.

Os ex-presidentes, no entanto, não recebem remuneração ou ajuda de custo, segundo a Casa Civil.

Antes, recebiam subsídio no mesmo valor do salário embolsado enquanto presidentes, mas a regalia foi cortada há cerca de dois governos.

Segundo o cientista político Antonio Flávio Testa, “os ex-chefes de Estado merecem tratamento diferenciado e proteção especial do Estado, devido à relevância das funções que exerceram”.

Testa avalia, contudo, que ex-presidentes poderiam contribuir mais para o país. “Penso que deviam ter mandato vitalício como senadores, sem direito a voto.

Atuariam como conselheiros e formadores de opinião.

Muitos voltam ao Parlamento pelo voto, é o caso de Sarney, Collor e Itamar Franco.

Dificilmente um ex-presidente abandona totalmente a política.

Penso que poderiam ser mais atuantes no Parlamento”, analisa.

O que fazem os ex-presidentes Os cinco presidentes pós-democratização fazem parte da atual política brasileira.

José Sarney, presidente do Brasil entre 1985 e 1990, é senador e preside, atualmente, o Senado Federal.

Aliás, o parlamentar está no sexto mandato e soma mais de 40 anos, descontínuos, apenas no Senado Federal.

Sarney assumiu a presidência do país, por sucessão, em virtude do falecimento do presidente Tancredo Neves.

Foi o primeiro presidente civil após o movimento militar de 1964.

Fernando Collor de Mello, presidente do Brasil entre 1990 a 1992, elegeu-se senador em 2006, após o fim de sua inabilitação política ocasionada pelo impeachment que o afastou do poder.

Nas eleições do ano passado, disputou o governo de Alagoas, mas foi derrotado ainda no primeiro turno.

Collor foi o primeiro presidente eleito pelo voto popular depois de 25 anos do regime militar.

Itamar Franco sucedeu Collor após o impeachment, em 1992.

Permaneceu no cargo até 1995.

Nas últimas eleições, Itamar conseguiu eleger-se para ocupar uma cadeira no Senado a partir deste ano.

Já Fernando Henrique Cardoso, chefe de Estado entre 1995 e primeiro de janeiro de 2003, não pleiteou a nenhum outro cargo público, apesar de frequentemente dar opiniões sobre a política brasileira.

FHC optou por proferir palestras e tornar-se consultor internacional.

O ex-presidente Lula, no cargo desde 2003 e sucedido pela presidente Dilma Rousseff, já afirmou que, após descanso, vai andar pelo país e se dedicar a aprovar a reforma política, que considera necessária para o Brasil.

Quanto ao possível retorno à Presidência em 2014, Lula tem afirmado que “a gente nunca pode dizer nunca” e que é um político nato, deixando a dúvida no ar.

Regulamentação São quatro normas que tratam dos benefícios concedidos aos ex-presidentes, editadas nos governos de Sarney, Itamar, FHC e de Lula.

Em 2008, Lula editou o decreto 6.381 a fim de regulamentar a Lei 7.474, de 1986, sobre as medidas de segurança dos ex-presidentes da República e validar a Lei 10.609, de 2002, que ampliou de seis para oito a quantidade de servidores disponível aos ex-presidentes.

Já a pensão especial concedida às viúvas dos ex-presidentes foi instituída em 1952, mas reajustada pela Lei 8.400, de 1992.