Governo apura negócio feito por ministro Depois de repassar à iniciativa privada terreno que pertencia à União, Bezerra Coelho comprou a área para erguer hotel SPU diz que negócio é irregular, pois contrato que cedeu o terreno à cidade de Petrolina (PE) previa apenas shopping Por RUBENS VALENTE ENVIADO ESPECIAL A PETROLINA (PE) O ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra Coelho (PSB-PE), é dono de um terreno que a União cedeu a Petrolina (PE) quando ele era prefeito da cidade.
A negociação é investigada pela SPU (Secretaria do Patrimônio da União).
Bezerra Coelho comprou o terreno em 2007 e montou uma sociedade com a Funcef (fundo de pensão dos servidores da Caixa) para a construção de um hotel de 102 quartos, em obras.
Um ano antes, quando Bezerra Coelho era prefeito de Petrolina, o município concedeu uma licença prévia para a realização da obra.
Procurada pela Folha, a SPU considerou irregular a venda do terreno, embora ainda aguarde um parecer definitivo, a ser feito pela Advocacia-Geral da União.
Para a secretaria, a área não poderia ser negociada tendo em vista uma “cláusula contratual específica que determinava o objeto do contrato (construção de shopping center)”.
A história começa em 1993, quando o então ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso (PSDB), entregou o terreno de 151 mil metros quadrados à prefeitura.
Bezerra Coelho exercia o seu primeiro mandato.
Em contrapartida, os novos proprietários deveriam erguer o primeiro shopping da cidade e uma creche, a ser doada à prefeitura.
Após licitação, a área foi repassada a uma empresa particular, a Companhia do Vale Ltda., que tinha como sócio o cunhado do ministro, Armando Reis Peixoto.
O shopping foi construído e entrou em operação em 1995, mas não foi necessário o uso de todo o terreno.
A parte não aproveitada foi então dividida em vários lotes.
Em 2007, Peixoto vendeu um dos lotes para Bezerra Coelho, onde é erguido o hotel.
Bezerra Coelho declarou que a área foi comprada por R$ 310 mil, mas corretores ouvidos pela Folha estimaram o valor do imóvel entre R$ 800 mil e R$ 1,2 milhão.
Em Petrolina, o funcionário da Funcef que acompanha a obra, o engenheiro civil Bruno Dal Moro, contou que a proposta da parceria partiu de Bezerra Coelho, o que depois foi confirmado pelo ministro.
A obra é avaliada em R$ 11 milhões.
Aquisição foi legal, afirma Bezerra Coelho O ministro Bezerra Coelho informou, por sua assessoria, que a aquisição do terreno foi “negócio travado na esfera privada” e uma operação legal, que cumpre as condições impostas pela União. “Uma vez instalado o shopping, mostrava-se crucial para viabilizá-lo economicamente a instalação de empreendimentos acessórios capazes de lhe prover clientela”, diz a nota.
Mesmo argumento foi dado pelo empresário Armando Reis Peixoto.
Ele disse que o hotel atrairá turistas e que o preço do negócio era o praticado no mercado.
Segundo a assessoria de Bezerra Coelho, a cessão do terreno à empresa do cunhado na época em que ele era o prefeito foi autorizada pela Câmara.
A assessoria disse ainda que o fato de Coelho não ser mais prefeito quando comprou o terreno “desautoriza qualquer insinuação sobre suposta influência política sua na venda.” (RV)