Do Jornal do Commercio Há uma década, a cidade do Recife acompanha o vai-e-vem da obra de restauração do Edifício Chanteclair, no Bairro do Recife.
O serviço chegou a ser iniciado em 2001, foi interrompido, retomado e novamente suspenso.
Estava paralisado desde 2004 e começou mais uma vez em novembro do ano passado, com a recuperação das quatro fachadas e da coberta.
O prazo de conclusão da área externa é de um ano.
Mas a empresa responsável pelo prédio, a Realesis Empreendimentos, não informa quando começa a reforma interna para adaptação do imóvel aos novos usos.
Por enquanto, sabe-se apenas que o Chanteclair terá nova cobertura, proteção contra vazamento e será recoberto com telha do tipo francesa.
Uma pesquisa indicará os tons originais para a pintura das fachadas.
Nesses dez anos, o Bairro do Recife viu a recuperação de outras edificações históricas, como o Centro Cultural dos Correios, na Avenida Marquês de Olinda, o prédio da Associação Comercial de Pernambuco, na Praça do Marco Zero, e a Igreja da Madre de Deus.
Enquanto isso, o Chanteclair definhava.
Parte do teto desabou, vigas de madeira apodreceram e as obras iniciadas em 2001 sofreram desgastes.
O projeto apresentado à cidade dez anos atrás anunciava a reabertura da edificação como café-concerto e espaço cultural com oito salas de cinema.
A Realesis não confirma se a ocupação está mantida ou se haverá mudanças.
Construído no início do século 20, o Chanteclair é um conjunto de seis casas conjugadas.
Ocupa uma quadra inteira do bairro, delimitada pelo Cais da Alfândega, Avenida Marquês de Olinda, Rua da Madre de Deus e Rua Vigário Tenório.
Procurada para falar sobre a obra, a empresa também não forneceu detalhes sobre custo do serviço, data de inauguração, manutenção e administração do novo empreendimento.
No momento, um grupo de restauradores trabalha na fachada voltada para a Avenida Marquês de Olinda.
Quase tudo o que tinha sido recuperado na parede está sendo refeito.
Sol, sal e chuva danificaram o trabalho.
Em um ano, os trabalhadores terão de recuperar 733 ornatos que decoram as fachadas do casarão.
As peças menores medem 27 centímetros de altura, 38 centímetros de largura e seis metros de espessura.
As maiores têm 3,8 metros de altura, 60 centímetros de largura e 35 centímetros de espessura.
O levantamento foi feito em 2001 pelo arquiteto Jorge Passos.
Ele contou com a participação de quatro outros arquitetos no mapeamento.
A recuperação das fachadas e da coberta é executada pela empresa Jorge Passos Arquitetura & Restauro.
A mesma que iniciou a obra há dez anos.
O prédio em ruínas tem 106 janelas e 130 portas.
Internamente, exibe os sinais do abandono.
Há goteiras, entulhos e as paredes estão sujas e descascadas.
O Conjunto Chanteclair é composto de térreo, sobreloja, primeiro e segundo pavimentos.
Pertence à Santa Casa de Misericórdia, irmandade vinculada à Arquidiocese de Olinda e Recife.
Nos anos 50, 60 e 70 funcionava como casa noturna.
Nas ruas do Bairro do Recife, pedestres lamentam a situação do prédio. “É triste a falta de conservação e de cuidados com o patrimônio da cidade.
Um prédio tão grande, na entrada do bairro, deveria ter outro tratamento”, diz a recepcionista Dione Ferreira, 24 anos. “Vamos ver ser agora a obra realmente termina.
Faz muito tempo que só vejo andaimes na fachada.
Além disso, a calçada da Marquês de Olinda está interditada há anos por causa da obra”, observa a estudante Solange Araújo, 27, frequentadora do Bairro do Recife nos fins de semana.