Ayrton Maciel, do Jornal do Commercio Com a gestão do prefeito do Recife, João Costa (PT), sob questionamento, reflexo dos baixos índices nas pesquisas de avaliação – em sentido contrário ao que ocorre com o governo estadual do aliado Eduardo Campos (PSB) –, a disputa pelo comando da capital em 2012 pode começar bem antes do esperado, e não entre governo e oposição, mas na própria coligação governista Frente Popular, entre as três maiores legendas da aliança: PT, PSB e PTB.

O desempenho da Prefeitura do Recife atual, entretanto, não é a única das inquietações que estão mexendo com a paciência e as estratégias partidárias na frente.

Fatos, versões e especulações estão jogando lenha na fogueira para 2012, com repercussões inevitáveis em 2014, caso a unidade seja quebrada.

Se nas declarações oficiais de líderes do PSB, PTB e PT o prefeito João da Costa tem tempo para dar uma volta por cima nas avaliações da gestão, e é o candidato natural à reeleição, é fato também que o governador Eduardo Campos (PSB) tratou de acomodar no secretariado nomes regularmente cotados nos bastidores políticos como potenciais alternativas, como o petista Maurício Rands (Governo) e do socialista Danilo Cabral (Cidades).

Na última semana, um fato e uma especulação deixaram ainda mais os aliados de “orelha em pé”. À imprensa, o secretário de Agricultura, Ranilson Ramos (PSB) – muito ligado ao governador Eduardo –, declarou que, tanto em 2012 quanto em 2014, os partidos da Frente não terão necessariamente de caminhar com candidato único.

Simultaneamente, surgiu o rumor sobre insatisfação do PTB na Prefeitura e o desejo de entregar os cargos a João da Costa.

Petebistas negam a insatisfação e a decisão de deixar a PCR.

Nos bastidores, todavia, as palavras de Ranilson projetando cenários de “candidaturas próprias” em 2012 e em 2014 foram entendidas como “um recado”.

Senador eleito e presidente estadual do PTB, Armando Monteiro Neto descartou a insatisfação e a entrega das secretárias de Administração e de Serviços Públicos. “Não há possibilidade de deixarmos a PCR.

Se algum secretário está insatisfeito, é outra coisa.

Temos linha direta para tratar problemas com o prefeito.

Na Frente Popular não há problema”, acrescenta.

Procurando esclarecer a declaração, Ranilson diz que não teve a intenção de anunciar uma fragmentação da Frente, mas sim analisar os partidos “em seu sentido orgânico”, reconhecendo a legitimidade de ter candidato. “A unidade limita o projeto partidário.

Os partidos devem se afirmar do ponto de vista orgânico.

Eles têm anseios.

Não havendo unidade, em 2012 e 2014, cada um vai trabalhar a sua força e se encontram no segundo turno.

Em 2012, quem lidera a discussão é João da Costa, em 2014 será Eduardo”, diz o socialista.

FOGO AMIGO Em verdade, o fogo amigo já começou.

A composição do secretariado de Eduardo foi um sinal.

No anúncio, estavam ausentes os senadores Humberto Costa e Armando Monteiro e deputados federais do PT e do PTB. “Humberto não está satisfeito.

Inocêncio (Oliveira, do PR) também, não, com o Turismo.

A Empetur ficou nas mãos do PSB”, confidencia um aliancista, no anonimato.

O PT perdeu a Secretaria das Cidades, de grande visibilidade, para o PSB, e recebeu Transportes, Governo e Cultura, com problemas e menor visibilidade.

Uma interrogação que igualmente inquieta a Frente é João Paulo (PT).

O ex-prefeito do Recife não foi escolhido para a chapa de Eduardo, perdeu espaço na Frente e não emplacou ninguém no secretariado. “João Paulo vai ficar no PT, e não ser candidato?

O jogo está sendo jogado, mas está todo mundo insatisfeito”, joga lenha na fogueira o aliancista.

A dúvida é se João Paulo aceitaria passivamente ser excluído de 2012 ou se tornaria concreta a velha suspeita: sair do PT e ser candidato.