Evandro Éboli e Maria Lima, em O Globo BRASÍLIA - Vítima da tortura durante o regime militar, a presidente Dilma Rousseff está disposta a ir além do que fez o governo Lula em relação ao reconhecimento oficial das violências cometidas pela ditadura.
A partir de agora, o Executivo vai se empenhar na aprovação do projeto da Comissão Nacional da Verdade para que os torturadores sejam identificados.
Mas o governo sabe que não dá para ir adiante e punir os agressores porque foram todos anistiados. - O Estado brasileiro vai ter de deixar claro que houve tortura e nominar que fulano de tal é torturador. É preciso uma manifestação final de quem foi torturador e o que ocorreu nos porões da ditadura - disse um interlocutor do Palácio do Planalto.
A relação e a história de Dilma com esse passado vai tornar seu governo diferente no trato de temas como abertura de arquivos e busca pela localização de desaparecidos políticos.
Em apenas uma semana de mandato, a presidente deu algumas demonstrações que esses assuntos lhe são caros.
No discurso de posse, usou o jargão dos anos de chumbo e falou dos amigos que “tombaram no caminho” e que, como ela, ousaram “enfrentar o arbítrio”.
Outra manifestação de apreço à causa foi na festa de sua posse, quando convidou diversas colegas que estiveram presas com ela no presídio Tiradentes, nos anos 70, em São Paulo.
As antigas militantes foram a atração no coquetel do Itamaraty.
Posaram para fotos até com embaixadores de outros países, curiosos em conhecê-las.
Declaração de ministro rende puxão de orelha Nesta semana, Dilma reagiu à declaração do general José Elito Siqueira, ministro do Gabinete de Segurança Institucional.
O oficial tocou na ferida ao afirmar que o fato de haver desaparecidos durante o regime militar não era motivo de se envergonhar ou se vangloriar.
Dilma o convocou para uma conversa, interpretada como um puxão de orelha.
A iniciativa de Dilma de convocar Elito teve impacto imediato entre suas colegas.
Presidente do Grupo Tortura Nunca Mais de São Paulo, a jornalista Rose Nogueira, que esteve presa com Dilma, elogiou o comportamento da colega nesse episódio. - Diria que foi um cartão de visita de Dilma.
Não se pode ser tolerante mesmo com essas posições.
O general teve que se explicar e se espera que tenha aprendido a lição.
Dilma é assim, dura e firme de um lado, mas doce e conciliadora quando precisa ser - disse Rose Nogueira. - Lula é mais conciliador, mais popular.
Os dois têm personalidades bem diferentes.