Por Adriano Ceolin, iG Brasília Um dia depois de o PMDB frear a distribuição de cargos de segundo escalão, o líder da bancada do partido na Câmara, Henrique Eduardo Alves, reconheceu insatisfações em setores da sigla e pediu a manutenção de postos.

Citou como exemplo a presidência de Furnas, cuja indicação é da bancada do Rio Janeiro. “Não vou negar que houve insatisfação.

Há setores que acham que perderam substância na montagem do ministério”, disse, em entrevista ao iG. “Algumas já estão atendidas no segundo escalão.

O Rio de Janeiro, por exemplo, tem Furnas (companhia de energia).

Queremos é manter esses espaços”, completou o deputado.

No entanto, Alves, que está no seu décimo mandato na Câmara, negou usar a votação do salário mínimo como moeda de troca.

Alves disse que pediu uma reunião com o ministro da Fazenda, Guido Mantega, para discutir o assunto. “A gente não ser surpreendido por uma proposta que venha emocional, demagógicas.

Com repercussão nas galerias, a gente pode perder o controle (da bancada)”, afirmou. iG - O PMDB está usando o salário mínimo para conseguir cargos.

O senhor poderia explicar?

Henrique Eduardo Alves - Isso é absurdo.

Não tem nada a ver uma coisa com a outra.

Salário mínimo com montagem de segundo escalão.

A questão do salário mínimo é o primeiro embate que nós vamos ter.

Estamos pedindo a coisa mais natural das naturais, que é uma conversa com a área econômica do governo. iG - Agora, se houver uma insatisfação, há uma perda de controle de situação, não é isso?

Alves - Para a gente não ser surpreendido com propostas demagógicas e emocionais no plenário, eu quero que a bancada antes converse com o ministro (Guido Mantega, da Fazenda). É importante que ele nos convença que esse é o valor, que é o aumento que o governo pode dar.

Que ele nos dê as razões econômicas, financeiras e orçamentárias.

Isso é para a gente não ser surpreendido por uma proposta que venha emocional, demagógicas.

Com repercussão nas galerias, a gente pode perder o controle (da bancada).

Pode ser os R$ 540.

Só que antes queremos definir, saber o porquê deste valor, se é realmente o valor máximo.

A bancada está consciente. iG - O vice-presidente Temer também concorda com isso?

Alves - Não falei com o (vice-presidente Michel) Temer sobre isso.

Falei com o ministro das Relações Institucionais (Luiz Sérgio).

Pedi a ele que marcasse reunião com Mantega para falarmos sobre isso.

Base aliada é isso, conversar com o governo.

Não pode deixar no plenário uma proposta de R$ 580, entendeu?

De repente, na questão emocional, naquele momento do plenário, você sabe como é.

Sem controle, sem discussão prévia, podemos ser surpreendidos. iG - O senhor apontou para o ministro Luiz Sérgio onde foram feitas escolhas muito rápidas em relação a cargos de segundo escalão?

Alves - Fiquei feliz que ele me comunicou que houve uma parada.

Muitas vezes os ministros que assumem…

Eu até entendo não é com má fé…

Eles montam sua equipe.

Agora alguns (ministros) podem ser até com má fé.

De repente, o ministro novo não sabe que naquele cargo de segundo escalão está um técnico por indicação de um partido A, B ou C.

Talvez um ministro, na ânsia de montar sua equipe, mexa nessa posição e gere um problema.

Não é só com o PMDB. É com qualquer partido.

Por exemplo, no Ministério do Turismo.

Era natural que o PMDB indicasse o presidente da Embratur, o órgão mais importante do Ministério do Turismo.

Então, verificaram que quem está no cargo é um quadro do PT (Mário Moysés).

Ele é muito bem relacionado no ministério, com um excelente trabalho realizado.

Por isso, vamos mantê-lo. iG - Então pode haver trocas.

Manter um petista no Turismo, um peemedebista na Saúde..

Alves - Então, se o cara é bom, se dá resultado, é bom manter sujeito.

Esse do Turismo é um exemplo para que ocorra em outros ministérios.

Agora tem muito ministro que não tem essa informação.

Chega lá e quer mudar a equipe.

Faz isso por desinformação.

Não vê aquela indicação feita lá trás é de um técnico, mas de outro partido.

Se vai mudar, tudo bem.

Mas conversa, explica antes a mudança e está tudo bem. iG - Agora isso não está concentrado no PMDB?

Não há problemas em outros partidos da base aliada?

Alves - Deve ter na base toda.

Não só PMDB.

Como o partido é governo, tem um vice-presidente da República, o partido se preocupa com o conjunto do governo.

Quando falo do PMDB, eu falo preocupado com o conjunto do governo.

Não podemos criar atrito. É um cuidado que os nossos ministros precisam ter também. iG - Líderes de outros partidos procuraram o senhor para fazer uma operação conjunta nesse sentido?

Alves - Não.

Eu estou me antecipando para que isso não venha ocorrer nos ministérios do PT, do PP, do PSB, do PMDB.

Então vamos ter cuidado.

De repente, você mexe num cara aparentemente sem importância, um segundo escalão, e não sabe que é indicação importante de um partido A, B ou C.

Para que criar esse problema?

Então, se precisa mesmo mudar, conversa antes, dialoga. iG - O senhor participou do jantar do PMDB na casa da governadora do Maranhão, Roseana Sarney, na noite desta terça-feira em Brasília?

Alves - Eu não fui.

O jantar foi apenas de confraternização, em homenagem aos ministros do PMDB.

Algumas pessoas não puderam acompanhar todas as posses.

Foi uma sinalização de que o partido está unido. iG - Como está disputa pela Presidência da Câmara?

O deputado Sandro Mabel (PR-GO) está fazendo um movimento para se lançar candidato.

O que o senhor acha disso?

Alves - Acho equivocado.

Se a oposição está respeitando a proporcionalidade, por que a base aliada não vai?

A oposição já disse que vai apoiar o deputado Marco Maia, do PT, partido com maior bancada.

Por isso, discordo do deputado Sandro Mabel.

Acho que todos nós temos de apoiar a candidatura do deputado Marco Maia.

O respeito da proporcionalidade é importante.

Encontrar um candidato de consenso é fundamental, que fale por todos, oposição e governo.

Vamos cumprir o compromisso e ajudar no que puder o Marco Maia. iG - Agora, se houver problema na formação do segundo escalão, esse acordo pode ser comprometido, não é?

Alves - Por isso que o segundo escalão ficou para fevereiro (depois da eleição do presidente da Câmara).

Até para o governo ter tempo de fazer um mapeamento.

O Luiz Sérgio assumiu agora.

Ele, por exemplo, não conhecimento das posições de cada partido.

São 14 partidos da base.

Como o ministro vai saber em 24 horas todas as posições indicadas?

Então, é bom aproveitar esses dias, fazer esse mapeamento.

E aí orienta os ministros para ter cuidado nessas substituições.

Conversar previamente.

Isso é ajudar o governo.

Não é complicar. iG - A presidenta Dilma Rousseff já manifestou que se houver aumento do valor do salário mínimo, ela irá vetar?

Como o senhor vê isso?

Alves - É natural que a presidenta defenda a sua posição.

Tem uma emenda do PDT para que o salário mínimo seja R$ 580.

Então, isso gera uma preocupação no governo.

Ela está defendendo o seu número, o que foi fixado inicialmente.

Acho que da mesma forma que o deputado Paulinho (PDT-SP) defenda R$ 580, é natural que o governo defenda os R$ 540.

Nós da base é que temos de estar preparados para a discussão e o debate do plenário.

Para que não aja decisões emocionais por conta de pressão de centrais sindicais.

Você não pode ser surpreendido no plenário por uma posição e a bancada não apoiar.

Por isso é natural conversar com a área econômica para que nos deem argumentos para defender. iG - O senhor reconhece que há alguns setores do PMDB que estão insatisfeitos com montagem do governo, por isso faz pressão para manter postos no segundo escalão?

Alves - Não vou negar que houve insatisfação.

Há setores que acham que perderam substância na montagem do ministério.

Por exemplo, na Integração Nacional, que é uma pasta com grande capilaridade.

Mas isso está superado. iG - Mas há bancadas como a de Minas Gerais e Rio de Janeiro que ficaram sem ministérios.

O senhor acha que essas bancadas podem ser atendidas com cargos de segundo escalão?

Alves - Algumas já estão atendidas no segundo escalão.

O Rio de Janeiro, por exemplo, tem Furnas (companhia de energia).

Queremos manter esses espaços.

Então, se houver alteração, que aja discussão previamente. iG - Então é essa questão: manter o que se já tem.

Alves - Sim.

E onde não for possível, que o partido seja avisado para ajudar.

Para fazer a mudança sem traumas.