Por Raul Jungmann Hoje (05) assume a nova Assembléia Nacional da Venezuela.
A data é importante porque, desde a equivocada renúncia à participação nas eleições gerais de 2005, a oposição foi varrida do Estado venezuelano e o Presidente Chávez impôs sua vontade urbi et orbi.(*)Depois de cinco anos, o contraditório, que existia apenas na sociedade, se deslocará para o interior do estado chavista.
Antevendo o potencial que essa rentrée confere à oposição, Chávez antecipou-se e, através de decretos votados pela dócil assembléia findante, praticamente subtraiu o mandato dos que assumem hoje, i.e., de toda a oposição parlamentar.
Com problemas crescentes que vão da inflação aos altos índices de violência urbana, passando por dois anos de queda livre do PIB e corrosão de salários e renda, o presidente venezuelano radicaliza para tentar conter a maré montante que amplia os espaços e o apelo social dos seus adversários.
Os movimentos de ambos os lados estão voltados para as eleições presidenciais de 2012.
Chávez busca comprar tempo para melhorar sua cadente popularidade e a oposição procura unificar-se em torno de um candidato competitivo, provavelmente o prefeito de Caracas.
Ao contrário do que a mídia brasileira apregoa, não existem santos nessa história.
Chávez é um golpista que assaltou com tanques o palácio presidencial de Miraflores em fevereiro de 1992.
Usando meios similares, a oposição fez o mesmo contra ele, então democraticamente eleito, em abril de 2002.
E cometeu a estupidez já referida do boicote às eleições três anos depois.
Isso deu ao presidente os talheres para tomar para si todos os poderes do Estado e ainda quebrar o poderoso sindicalismo incrustado na petroleira PDVSA, que ousara no verão de 2002/2003 convocar greves gerais.
Caso persista a atual tendência de crescimento da oposição, aceitará Chávez ser removido do poder, sem romper os tênues cordéis que sustentam a democracia venezuelana?
E a oposição?
Conseguirá controlar a exasperação de ver cada conquista alcançada ser esvaziada pelo governo, sem recair no golpismo?
Minha opinião é que a oposição venezuelana deve se preparar para uma longa e tortuosa caminhada de resistência, avanços e recuos, pois o chavismo ainda dispõe de fôlego bastante para seguir no poder por bom tempo.
Inclusive com as armas e argumentos que essa mesma oposição lhe conferiu no passado pelos erros que cometeu. (*) Fui convidado a estar lá e marchar com os deputados da oposição até a Assembléia, mas minha ida foi impossível.