Da Folha de São Paulo O ministro italiano das Relações Exteriores, Franco Frattini, convocou nesta sexta-feira o embaixador italiano no Brasil, Gherardo La Francesca, para consulta sobre o caso do terrorista italiano Cesare Battisti.

Segundo a agência Ansa, Frattini irá pedir para que seja entregue uma mensagem para a presidente eleita, Dilma Rousseff, que toma posse amanhã.

Segundo o ministro italiano, o seu país irá continuar a tentar a extradição, “além do nosso grande desejo de que a nova presidente possa rever a decisão do seu antecessor e se alinhe à sentença do Supremo Tribunal Federal”.

Na linguagem diplomática, a convocação de um embaixador é considerado um ato de protesto.

O Palácio do Planalto anunciou na manhã desta sexta-feira, por meio de nota, que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidiu negar a extradição do terrorista, preso no Brasil há quatro anos.

A nota diz que Lula seguiu parecer da AGU (Advocacia Geral da União), segundo quem a decisão segue todas as cláusulas do tratado de extradição firmado entre Brasil e Itália.

A argumentação jurídica utilizada pelo governo Lula para manter Battisti no país está presente no tratado de extradição, de sete páginas, firmado entre Brasil e Itália no final dos anos 80.

O argumento é semelhante ao usado pelo então ministro da Justiça, Tarso Genro, em janeiro de 2009, quando o governo brasileiro concedeu o refúgio.

O ato foi questionado e revertido no final daquele mesmo ano pelo STF.

A Itália vai recorrer da decisão, conforme disse à Folha o advogado Nabor Bulhões, que representa o governo italiano. “É crime de responsabilidade descumprir leis e decisões judiciais, como fez o presidente”, afirmou Bulhões. “Por isso o ato foi praticado no apagar das luzes do governo”.

O ministro italiano da Defesa, Ignazio La Russa, disse que “se realizou a pior previsão”.

A Itália “não deixará de tentar no plano jurídico e sobre qualquer outro aspecto permitido por lei, para que o Brasil volte atrás nesta decisão, por sorte não definitiva, que, além de ser injusta e gravemente ofensiva para a Itália, é sobretudo para a memória das pessoas assassinadas e para a dor dos familiares de todos aqueles que perderam a vida por responsabilidade do assassino Battisti”, afirmou o ministro.

O ministro Celso Amorim (Relações Exteriores) rebateu as críticas do governo italiano e disse que o Brasil não teme retaliações. “O governo brasileiro manifesta sua profunda estranheza com os termos da nota do presidente do Conselho dos Ministros da Itália, em particular com a impertinente referência pessoal ao presidente da República”, diz a nota.

Battisti está preso no Brasil há quatro anos por decisão do mesmo Supremo, que acolheu pedido da Itália.

Ele foi condenado à prisão perpétua pela Justiça de seu país por quatro homicídios ocorridos entre 1978 e 1979, quando integrava organizações da extrema esquerda.

Ele nega os crimes e diz ser perseguido político.