Andreza Matais e Natuza Nery, da Folha de São Paulo Futuro articulador político do novo governo, o deputado Luiz Sérgio (PT-RJ) nega que sua indicação para o Ministério das Relações Institucionais representará um renascimento do poder de José Dirceu, de quem é amigo. “Só falei com ele duas ou três vezes nos últimos anos”, diz Sérgio sobre o ex-ministro da Casa Civil, que caiu em 2005 devido ao escândalo do mensalão.

Dirceu, que é réu no Supremo Tribunal Federal sob a acusação de chefiar o esquema, foi cassado pela Câmara também em 2005, mas integra o Diretório Nacional do PT e participou das articulações de bastidores durante a campanha de Dilma Rousseff.

Sobre a disputa para a presidência da Câmara, Luiz Sérgio diz que a eleição de um aliado é uma “necessidade estratégica” do governo e que os partidos da base têm de respeitar a escolha do PT.

Três vezes deputado federal, Luiz Sérgio foi líder da bancada do PT em 2007 e relator da CPI dos Cartões Corporativos. É autor de um projeto que regulamenta a profissão de astrólogo.

Justificou assim sua ideia: “É extremamente importante incutir na cultura brasileira um pensamento astrológico correto”.

FOLHA - Qual será o maior desafio nesse primeiro ano no primeiro ano do governo Dilma?

LUIZ SÉRGIO - O Brasil precisa de uma reforma tributária.

Ela interessa tanto à Dilma, presidente da República, quando ao (Geraldo) Alckmin, governador do PSDB.

Então, o grande desafio que vejo no ministério é exatamente propiciar o debate e a formulação de propostas em torno desse tema.

E a disputa pela presidência da Câmara?

Essa é uma questão extremamente prioritária.

O PT está construindo um acordo com o PMDB, porque ambos possuem as duas maiores bancadas da Câmara.

Mas precisamos ter humildade para reconhecer que o PT e o PMDB, sozinhos, não conseguem realizar essa necessidade estratégica.

Vamos precisar do PC do B, do PSB e do PDT. É fundamental garantir a estabilidade institucional para um governo que está se iniciando.

Mas esses partidos –PC do B, PSB e PDT– ameaçam uma rebelião e podem lançar um candidato avulso contra o PT.

Nós, na política, precisamos sempre ter o foco naquilo que nos converge.

Da mesma forma que nós não temos que interferir quando cabe ao PC do B, ao PSB e ao PDT escolher seus candidatos à Mesa (Diretora), para compor o governo O ex-ministro José Dirceu terá alguma influência dentro do Palácio do Planalto, no seu ministério?

Isso é mais uma versão do que um fato.

Como assim?

Ao longo dos últimos anos, eu devo ter conversado duas ou três vezes com o Zé Dirceu.

A convivência foi grande porque ele foi deputado e eu fui deputado também.

Eu fui da direção do PT e ele da direção nacional, então a minha ligação é tão grande com o Zé Dirceu como foi com o (Luiz) Gushiken quando ele foi presidente do partido.

O senhor fará a ponte do governo com o Congresso e demais entes da federação.

O futuro ministro da Casa Civil, Antonio Palocci, tem atribuições políticas de articulação.

O senhor vê risco de bater cabeça com o colega?

De forma alguma, porque a interface com o Congresso e a relação com os governadores se dão no Ministério das Relações Institucionais.

O gabinete civil, evidentemente, tem um papel também de articular, mas esses papeis estão muito bem definidos.