Por Luciano Siqueira Esforçado, arisco, curioso – se é livro, ele traça; debate não perde um, nem que seja sobre a educação de crianças no Japão ou a interferência do estresse no ciclo menstrual.

E assim vai amealhando conhecimento sobre temas vários, padecendo, entretanto, de uma enorme dificuldade de concatenar as ideias.

E as palavras.

Aliás, palavra que mereça ser pronunciada pelo dito cujo tem que ter sonoridade e um traço de raridade.

Uma óbvia vocação para sucessor do Marquês de Pombal, que tanto se esforçou para recuperar termos em desuso.

Certa vez eu me referia a Miguel Arraes e ouvi aquela voz grave: “Um ínclito homem!”.

Paulo Maluf, no outro extremo, dele mereceu a qualificação de “energúmeno!” Com exclamação.

No meio de uma campanha eleitoral o encontro em cima do palanque e pergunto por que não o via nas atividades de rua: “Um interregno estratégico, líder, que, com efeito, resultará num contra-ataque tático específico e sobejo.” Claro que não entendi por que a sua ausência em algumas caminhadas teria sentido estratégico, muito menos o que vinha ser “contra-ataque específico e sobejo”.

Pois bem.

O tempo passou, nunca mais o vi, julgava-o em terras distantes, talvez levado pelo desejo de figurar em algum sodalício lítero-cultural, tipo Academia de Letras do Município de Ribeirão das Almas, coisa assim.

Mas eis que o encontro na Livraria Siciliano, em São Paulo, alentado volume à mão (que preferi não olhar o título, já me prevenindo de uma indecifrável resenha).

Fiz que não o reconhecia, num gesto que minha mãe classificaria como falta de caridade.

Mas fui reconhecido e, como estava só, tive o desprazer de sua ilustrada companhia: “- Excelência, quanto tempo!

Apresento-lhe minhas congratulações pela conquista do pódio no último pleito e renovo meus pretéritos e sempre congruentes votos de confiança em vossa inexorável atuação.

E pergunto: em que consonância pretende legislar, em se tratando de um parlamentar filosoficamente nutrido por uma teoria científica que, conforme meus alumiados estudos, tem na contemporaneidade o seu apogeu?” - Só conversando com calma, amigo.

Comprometi-me com um conjunto de temas, tendo como referência a ideia de um novo projeto nacional de desenvolvimento… - Ora, nada mais edificante do que tamanha pretensão, de valoração insofismável e ao mesmo tempo profícua e, por que não?, assaz inovadora, pois que um novo projeto direcionado à Nação tendo como mola-mestra o desenvolvimento quiçá…” Não o deixei continuar.

Mirei o relógio, um compromisso imediato salvou-me de tão “insólito colóquio” (uso a expressão naturalmente em homenagem ao meu insigne interlocutor).

Despedi-me prometendo que marcaríamos um encontro caso ele visitasse a terra natal.

Pura falsidade, pois no íntimo, bem desejo que a egrégia personagem não retorne ao Recife tão cedo.

Para que as palavras permaneçam em seu devido lugar.

E as ideias também.

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