O Lula que trabalha mais do que todo mundo Alguém poderia estar, neste momento, se perguntando por que o presidente Lula continua viajando o Brasil como se ele não tivesse que entregar o cargo no próximo sábado à presidenta Dilma Rousseff.

Porque era um hábito da política brasileira, e a imprensa já estava acostumada a que as pessoas não trabalhassem no último ano, ou nos dois últimos anos, ou alguns que não trabalhavam mais à tarde, ou os que não trabalhavam mais amanhã.

Pessoas que no mês de dezembro não apareciam, porque era festa, então, “para que trabalhar?

Está todo mundo descansando.

E o que esse Lula está se metendo a trabalhar até o dia 31?” Primeiro, porque nem todos os presidentes da República tiveram o gostoso prazer de inaugurar a quantidade de obras que eu tenho para inaugurar, nem todos.

E nós estamos, neste momento, colhendo um pouco daquilo que plantamos em momentos difíceis.

Eu não me lembrava mais do meu pronunciamento em Davos, no dia 25 de janeiro de 2003, quando eu tinha apenas 25 dias na Presidência e que tinha saído do Fórum Social Mundial, em Porto Alegre, e me dirigido ao Fórum Econômico de Davos.

Era a primeira vez na história que um presidente se dava ao luxo de poder frequentar, de cabeça erguida, o fórum de protesto e o fórum de proposta, o fórum econômico e o fórum dos trabalhadores, um fórum que contestava e um outro que imaginava que também, naquela ocasião, sabia tudo sobre o mundo e que desapareceu um pouco, com a crise americana de 2008.

Pois bem, eu também tinha clareza de que a minha chegada à Presidência da República tinha que mudar o patamar de governança neste país.

Ou seja, nenhum presidente da República teve que provar qualquer coisa neste país, e eu sabia que eu tinha que provar, a cada dia, como eu sabia que eu tinha que respirar, de que alguém saído do meio do povo mais humilde deste país teria condições de governar igual ou melhor do que todos os doutores que passaram pela Presidência da República deste país, eu precisava provar.

Eu não podia apenas falar, eu tinha que provar a cada dia que era possível, porque eu não queria provar a mim mesmo, eu queria provar aos trabalhadores e às pessoas mais humildes deste país, que tinham me derrotado em [19]89, que tinham me derrotado em [19]94 e que tinham me derrotado em [19]98 por desconfiança de mim e por desconfiança neles próprios, porque muita gente olhava em mim e dizia: “Como é que eu posso votar em um cara igual a mim?

Como é que eu posso votar em um cara que só tem quatro anos de escolaridade?

Como é que eu posso votar em um cara que só vai para a porta de fábrica falar em greve?

Como é que eu posso falar [VOTAR]numa pessoa tão despreparada como eu?”.

Eu tinha que provar, mais do que provar a mim mesmo, eu tinha que provar a cada um de vocês que não existe escolaridade apenas, não existe o berço onde a gente nasceu, existe determinação.

E cada um de nós pode chegar à Presidência da República, ao governo do estado, à prefeitura da cidade e fazer as coisas acontecerem.

Críticas ao trabalho da imprensa e complexo de inferioridade Eu, quando vim, Eduardo, ao Estaleiro Atlântico Sul e vi uma mulher, cortadora de cana, prestar o depoimento que ela prestou…

Porque nós somos induzidos desde pequenos, quando a gente vem lá de baixo, que a gente é inferior, nós somos induzidos.

Nós somos induzidos pelos livros, nós somos induzidos pelos meios de comunicação, nós somos induzidos pela atividade cultural que nós somos os da senzala e que quem manda são os da casa grande.

E nós queremos provar que os da senzala podem tanto quanto aqueles que moram na casa grande.

Foi essa necessidade de provar que me fez, meu caro presidente mundial da Fiat, trabalhar mais do que de hábito se trabalhava neste país; acreditar mais do que se acreditava neste país; depositar a confiança no povo mais do que se depositava neste país; acreditar na parceria mais do que se acreditava neste país; acreditar no trabalho entre os entes federados mais do que já se tinha acreditado neste país. …

Quero agradecer aos trabalhadores.

E dizer para vocês que valeu a pena, valeu a pena a gente poder ser testado.

Em 1979, tem uma frase muito famosa, minha, que quando a gente estava em uma situação difícil, no estádio da Vila Euclides, eu disse que ‘nunca mais ninguém ousasse duvidar da capacidade dos trabalhadores brasileiros’.

Portanto, eu saio da Presidência, e o legado mais importante que eu quero deixar é que vocês podem chegar lá.

Se eu cheguei, é só vocês teimarem, brigarem e perseverarem, que vocês podem mudar a história deste país, e mudar definitivamente.