Cristovam Buarque, em artigo no Jornal do Commercio A política, como a história, ocorre em ciclos.
O Brasil atravessa um ciclo de consolidação da democracia com pequenos avanços sócio-assistenciais: uma social democracia tímida (SDT) e também atrasada em relação às exigências do futuro.
Desde a última inflexão histórica no governo Sarney, avançou-se com mudança econômica, reunindo a abertura comercial e a estabilidade monetária depois do governo Collor e Itamar.
A partir daí, Fernando Henrique Cardoso e Lula fizeram dois governos com avanços no crescimento com estabilidade, além da realização de pequenos avanços na distribuição da renda.
O Brasil avançou, mas dentro do mesmo ciclo.
A presidente Dilma tem a chance de dar início a um novo ciclo, ou iniciará a última do ciclo atual.
Se ela não avançar em reformas que signifiquem inflexões positivas, corre o risco de ver as propostas do atual ciclo se esgotando e o próximo pleito elegendo governos conservadores, ou caindo no “esquerdismo” ou no “populismo”.
Vinte e cinco anos de um único modelo, com avanços, mas com tantas lacunas sociais, é tempo suficiente para o esgotamento.
Mas em vez da última do ciclo da social democracia tímida, o governo Dilma pode ser o primeiro de um novo ciclo que libere o País das amarras que sofre para uma social democracia transformadora.
Para isto, seu governo precisa fazer as inflexões necessárias e ir além do crescimento tradicional, com estabilidade monetária e bolsas. É preciso fazer uma reforma política, implantar medidas para blindar o poder público contra a corrupção, criar mecanismos para o controle da violência, reorientar o processo produtivo para zelar pelo equilíbrio ecológico, fomentar uma economia baseada no conhecimento da ciência e da tecnologia, fazer o SUS funcionar a contento, promover a superação do “custo Brasil” decorrente de regras corporativas e de insuficiência na infra-estrutura econômica, e, sobretudo, a mãe de todas estas reformas, promover uma revolução na educação de base.
Tudo isto, com respeito às regras democráticas e com responsabilidade fiscal.
De todas estas mudanças, a única que permitirá a presidente Dilma deixar sua marca na história do Brasil, como uma JK do século 21, será iniciar o processo de transformação radical da educação de base.
O caminho é fazer com que todas as 200 mil escolas do Brasil tenham, pelo menos, a qualidade das atuais cerca de 200 escolas federais.
Para isto, será necessário implantar a Carreira Nacional do Magistério e um programa federal de qualidade escolar, em horário integral.
Estes dois programas não são suficientes, nem darão seus resultados plenos em todo o Brasil durante um ou mesmo dois mandatos.
Mas se tomar as medidas certas para promover a ruptura no triste quadro da tragédia brasileira, Dilma será não apenas a primeira presidente mulher, mas também a primeira para um novo tempo: o ciclo Dilma.
PS: Cristovam Buarque é senador (PDT/DF)