Vera Rosa e Rafael Moraes Moura, do Estadão Sem produzir surpresas, Dilma Rousseff concluiu ontem a montagem de um ministério à imagem e semelhança do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
O PT, partido da presidente eleita, ficou com a maior fatia do poder: 17 das 37 cadeiras.
Trata-se da mesma cota que a legenda detém hoje na Esplanada.
Apesar da fisionomia de continuidade do governo Lula, a escalação da equipe causou descontentamento entre quase todos os aliados.
O PMDB do vice eleito, Michel Temer, continuou com seis assentos no primeiro escalão, embora o ministro da Defesa, Nelson Jobim - filiado ao partido - seja carimbado como “cota pessoal” de Dilma e Lula.
Antes mesmo da posse, em 1.º de janeiro, uma das indicações já provoca constrangimento.
O futuro ministro do Turismo, Pedro Novais, pediu à Câmara dos Deputados ressarcimento de R$ 2.156, gastos em um motel de São Luís (MA), conforme reportagem publicada ontem pelo Estado.
Novais é afilhado político do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-MA).
Apesar do número de cadeiras, o PMDB perdeu “substância” na Esplanada, na visão do líder do partido, Henrique Eduardo Alves (RN). “Perdemos pastas como Comunicações e Saúde, que foram para o PT.
Mas sabemos que, na montagem do governo, nunca se chega ao ideal”, disse o deputado.
O PSB do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, queria aumentar o seu espaço no governo, mas acabou levando dois ministérios: Integração Nacional e Secretaria dos Portos.
A bancada do partido na Câmara esperneou, mas não houve jeito.
Ao menos por enquanto, Dilma também desistiu de criar um ministério exclusivo para cuidar da penca de problemas dos portos e aeroportos.
Promessa da campanha eleitoral, o Ministério da Micro e Pequena Empresa foi outro que ficou para depois.
Palocci.
Embora a presidente eleita tenha assegurado que não admitiria homem forte na equipe, está claro que o futuro chefe da Casa Civil, Antonio Palocci, assumirá esse papel.
Foi Palocci, por exemplo, que sondou todos os convidados para a equipe, antes de Dilma, apartou brigas e atuou como bombeiro para apagar incêndios políticos, principalmente no PT e no PMDB.
A escalação da equipe também produziu a categoria dos ministros que foram sem nunca terem sido.
Estão nessa lista o secretário fluminense Sérgio Côrtes, que teve a indicação para a Saúde bombardeada dentro do PMDB; o senador eleito Eduardo Braga (PMDB-AM), que chegou a ser confirmado por integrantes da equipe de transição como titular da Previdência, mas acabou não indo, e o deputado Ciro Gomes (PSB-CE), cotado para retornar à Integração ou assumir Portos e Aeroportos.
Na seara do PT, a corrente Democracia Socialista bateu o pé e conseguiu com que Dilma desistisse de levar Maria Lúcia Falcón para o Desenvolvimento Agrário.
No lugar de Falcón, ela nomeou o deputado eleito Afonso Florence (PT-BA), apadrinhado pelo governador Jaques Wagner.
Na contabilidade do mosaico petista, porém, a tendência Construindo um Novo Brasil (CNB), de Lula e do ex-ministro José Dirceu, levou vantagem.
Mesmo com a disposição de reforçar ainda mais a cota feminina no governo, Dilma encontrou dificuldades para montar o time e escalou só nove mulheres. “Dilma vai governar com um ministério recauchutado e dá para ver a sombra do Lula.
O máximo que conseguiu foi um remendo aqui, outro ali”, avaliou o cientista político Octaciano Nogueira, da Universidade de Brasília.
O deputado André Vargas (PR), secretário de Comunicação do PT, disse que a equipe reflete as escolhas de Dilma.
Citou como exemplo a ida de José Eduardo Cardozo (PT-SP) para a Justiça. “O ministério tem a cara da Dilma, mas, se não tivesse a marca da continuidade, seria um estelionato eleitoral”, insistiu.