Por Clóvis Rossi, no Janela para o mundo Eis que Julian Assange, o criador do sítio WikiLeaks, especialista em vazamentos, foi vítima de um vazamento: o jornal “The Guardian”, uma espécie de sócio preferencial de WikiLeaks, publica os depoimentos à polícia sueca das duas moças que acusaram Assange de abuso sexual. É um vazamento que se parece aos que tornaram Assange uma celebridade instantânea: apenas detalhes de uma história que, pouco mais ou menos, já se sabia.

O que o vazamento contra o vazador traça é o retrato de um predador sexual, que força parceiras que queriam, de fato, manter relações com ele a fazê-lo sem preservativo.

A reação do próprio Assange reforça a imagem de machão empedernido: reclamou que não era assunto para ser levado à polícia.

Era, sim, a menos que se considere que as mulheres estão no mundo para servir apetites masculinos que não as respeitem.

Quase tão grave quanto essa visão machista é o fato de Assange festejar a propaganda que dá ao seu trabalho de vazador profissional esse outro tipo de vazamento.

Posso estar enganado mas não consigo fugir à sensação de se trata de um cidadão muito mais interessado em auto-promoção do que na transparência das atividades/declarações de autoridades.

Mas há também no episódio uma discussão que já surgira quando vazaram os papéis do Departamento de Estado: é lícito para jornais divulgarem tais vazamentos?

Minha resposta, já dada em texto para a Folha papel, é sim, absolutamente sim, desde que os papéis tenham interesse público, como é o caso dos vazamentos do WikiLeaks.

A questão seguinte é óbvia: tem igualmente interesse público o depoimento das moças que se dizem molestadas por Assange?

Respondo só por mim: não me interessa. É uma questão pessoal, não pública.

Claro que deve ser investigada exaustivamente, mas no âmbito adequado.

Temo, no entanto, que minha opinião seja perdidamente solitária.