Fernando Bezerra Coelho - Chegou o final do processo e a gente realmente fica muito honrado com o convite da presidente Dilma Rousseff, também muito agradecido ao apoio do governador Eduardo Campos, ao apoio de todo o partido PSB, dos seus governadores, da bancada federal.
Estamos agora desafiados a honrar esta indicação, para colaborar e constribuir para a construção de um Brasil ainda maior.
PERGUNTA - Como foram estas últimas três semanas de indefinição?
FBC - Faz parte do processo político.
A gente sempre teve muita confiança.
As negociações foram lideradas pelo nosso governador, pelo presidente do nosso partido.
O processo foi mais demorado do que imaginávamos, mas acho que concluímos bem.
PERGUNTA - O Ministério da Integração Nacional será, como se diz no jargão político, de porteira fechada para Pernambuco ou os cargos serão divididos entre o partido?
FBC - A presidente Dilma pediu ao governador Eduardo Campos que tivesse uma conversa com todos os governadores do Nordeste.
Essa conversa foi desenvolvida, inicialmente, com os governadores do PT, Wagner e com Deda, e, em sequência, com todos os governadores do PSB, governador Cid, do Ceará, governador Wilson, Ricardo Coutinho, que são os governadores do PSB, e acho que os cargos serão indicados primeiro por mérito, pessoas que possam agregar qualidade e possam trazer suas experiências para que a gente possa realizar um bom trabalho.
PERGUNTA - Já tem algum nome?
FBC - Vamos nos reunir primeiro com uma equipe que já estamos definindo.
Amanhã estou indo à Brasília.
Vou me reunir com o ministro João Santana (atual titular da pasta) para receber as primeiras informações.
A presidente Dilma me recomendou que recebesse todas essas informações dos projetos, dos programas que estão sendo tocados.
Pediu atenção especial para as duas maiores obras, que são a Transposição do São Francisco e a obra da Transnordestina.
A partir deste primeiro encontro com João Santana a gente vai começar a definir os nomes que vão formar a equipe.
PERGUNTA - Pernambuco indicará o nome que comandará a Codevasf?
FBC - Vamos conversar com os governadores do Nordest e com o presidente do nosso partido.
A presidente Dilma deu muita autonomia.
Ela vai cobrar de mim que a gente indique quadros que estejam a altura do desafio.
PERGUNTA - Está aliviado agora?
FBC - Animado.
Animado, desafiado para poder começar o trabalho.
PERGUNTA - O senhor tem algum projeto que pretende emplacar no Ministério?
FBC - Acho que o momento agora é de primeiro levantar as informações.
Mas a primeira conversa, o primeiro encontro com a presidente Dilma foi muito produtivo.
Ela pediu a minha opinião sobre a Transposição.
Eu disse a ela que vai ser mais fácil concluir a obra da Transposição.
O grande desafio é como gerir o canal da Transposição.
Como manter o canal, como cobrar a água do canal, como a água poderá ser utilizada para o abastecimento humano, para os fins industriais, comerciais e de irrigação.
Este é um desafio.
A partir da obras da Transposição, nós temos a chance de estabelecer a meta de universalizar o acesso à água a todas as pessoas que moram no semi-árido nordestino.
São 22 milhões de pessoas e o acesso à água é muito complicado.
A região do Agreste de Pernambuco é a região de maior deficiência hídrica do Nordeste.
Então, além da transposição, é importante realizar os investimentos em adutoras para que a gente possa resolver o problema de abastecimento hídrico.
Vai ser construído um grande programa de recursos hídricos para o Nordeste brasileiro.
Mas também tivemos a oportundiade de colocar para a presidente Dilma que esse ministério se chama Ministério da Integração Nacional, mas ele é visto sempre como o “Ministério do Nordeste”.
Está na hora de reposicionar o ministério, no sentido de que ele também possa ter um olhar mais atento para outras regiões do Brasil.
Porque mesmo no Sul, no Sudeste, nós identificamos regiões muito pobres.
O Vale do Ribeira, em São Paulo, a região sul do Rio Grande do Sul…
Então, tem grandes desafios e ela quer me ajudar e me estimulou muito a reposicionar o ministério, para ter uma visão mais nacional do que ter uma visão mais específica para o Nordeste.
PERGUNTA - Diante de tantas desigualdades regionais, qual será o maior desafio que o senhor tem a enfrentar?
FBC - O Ministério da Integração Nacional tem como atribuição a política de recursos hídricos para todo o Brasil.
Então, a oferta de água é um desafio importante.
Tem também como atribuição toda a política nacional de irrigação. É preciso fazer mais do ponto de vista de irrigação.
No Nordeste, em particular, mas também no Centro-Oeste e em outras regiões brasileiras.
Precisamos também pensar em obras que integrem a economia das regiões mais pobres com as regiões mais dinâmicas.
Então, essas obras passam por ferrovias, por transposição de águas, por rodovias… É um olhar mais abrangente sobre os desafios brasileiros e o que diz respeito à integração de regiões mais pobres com regiões mais ricas.
PERGUNTA - O que vai ser determinante para o senhor formar a sua equipe?
FBC - Capacidade de trabalho, experiência e competência.
Foi isso que a presidente me recomendou.
PERGUNTA - Faz só uma hora e cinco minutos que o senhor é ministro e já sabe tudo isso que vai fazer?
FBC - Conversei com Dilma ontem, na Granja do Torto.
PERGUNTA - Já como ministro?
FBC - Não.
Recebendo o convite para assumir a pasta da Integração Nacional.
Amanhã eu volto a Brasília. Às 10h vou estar com o ministro João Santana.
Já estou levando uma equipe pequena de transição para poder começar a levantar os dados de trabalho.
Vou também procurar me avistar com o ministro Nelson Jobim (Defesa).
O Ministério de Integração também tem como responsabilidade toda a política de Defesa Civil e normalmente ocorrem muitas chuvas pesadas no Sul e no Sudeste do País no início do ano.
Ela me recomendou especialmente, se tivermos que enfrentar algum problema já no início do governo, procurar se articular com o Ministério da Defesa para que a Secretaria de Defesa Civil possa estar ingrenada para uma eventual ocorrência.
PERGUNTA - Qual seu cronograma de ações até tomar posse como ministro?
FBC - Primeiro é só levantar as informações.
Ver os programas que estão sendo tocados, como é que estão as obras, com essa atençao especial para estas duas maiores obras que são a Transposição e a Transnordestina, e fazer todo um levantamento dos demais órgãos do ministério, como é o caso da Sudene, da Sudam, procurando saber como que esses órgãos estão atuando.
Os dois grandes braços do ministério são o Dnox e a Codevasf.
Também num momento oportuno, possivelmente na próxima semana, a gente vai colher informações sobre Codevasf e Dnox.
PERGUNTA - Como vai ficar o Complexo de Suape, do qual o senhor é presidente, agora?
FBC - Eu vou trabalhar como secretário de Desenvolvimento Econômico até o dia 31 (de dezembro).
Foi uma responsabilidade que me deu muita alegria.
A gente estar concluindo este trabalho ao lado do governador Eduardo Campos tendo a satisfação de receber o presidente Lula no próximo dia 28 e já colocar a pedra fundamental deste grande empreendimento industrial que é a fábrica da Fiat, que vai alavancar uma nova cadeia de negócios para Pernambuco.
Estou muito feliz de estar concluindo um trabalho que realizei sobre a liderança do governador e estar iniciando outro grande trabalho, tendo merecido o apoio e a indicação do governador Eduardo Campos para poder servir ao Brasil e à presidente Dilma Rousseff.
PERGUNTA - Vai conseguir fazer um sucessor (na Secretaria de Desenvolvimento Econômico)?
FBC - O governador não conversou comigo.
Não posso fazer nenhum comentário.
No momento certo o governador vai abrir esta conversa.
Ainda não abriu.
PERGUNTA - Ciro Gomes, que iria ser ministro da Integração Nacional, já lhe desejou boa sorte?
FBC - Falei com Cid Gomes.
Ciro está viajando.
Mas Ciro é um grande brasileiro.
Tenho uma grande admiração por ele.
Trabalhamos juntos, fiz a campanha dele para presidente.
Portanto tenho uma sincera admiração pelo Ciro.
PERGUNTA - Como vai ser a questão da Sudene?
FBC - Conversamos sobre isto.
Acho que a Sudene precisa ser reposicionada.
Ainda são ideias preliminares, mas acho que precisamos dar um novo desafio para a Sudene.
A Sudene apenas com as isenções de imposto de renda e com o Fundo de Desenvolvimento do Nordeste, de apenas R$ 1,5 bilhão, é muito pouco para os problemas do Nordeste.
Hoje os governadores do Nordeste brigam por recursos do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), Ministério do Planejamento, Casa Civil…
E a Sudene tem um papel importante como articuladora de políticas públicas, de planejamento, de antevisão das obras de intervenção que precisam ser feitas para que o Nordeste possa de fato diminuir sua distância em relação ao resto do País.
Mas eu coloquei para a presidente algumas ideias iniciais.
Ela pediu para aprofundar.
No momento correto nós vamos levar.
Acho que dois grandes papéis a Sudene poderia ter.
Um, poderia servir como um grande órgão executor de uma política pública que pudesse fazer a transição da Bolsa Família para a empregabilidade. É no Nordeste brasileiro onde a gente tem o maior volume de Bolsa Família, de pessoas mais pobres.
Então, (ela poderia) articular políticas públicas com diversos ministérios que possam garantir a empregabilidade e a saída do Bolsa Família.
Porque o Bolsa Família tem que ser visto como algo transitório.
Em segundo lugar, acho que a Sudene tem que recuperar este papel de reforçar a infraestrutura do Nordeste.
O NOrdeste só vai dar dinamismo à sua economia se for capaz de realizar obras de infraestrutura importantes.
A Ferrovia Transnordestina é um começo.
Mas temos diversas outras ferrovias a serem feitas.
Temos a conexão ferroviária da Transnordestina com a Centro-Atlântica, na Bahia, temos a ligação da Transnordestina com a Norte-Sul, temos o início da nova ferrovia que vai ligar o Oeste baiano até Ilhéus, para a construção de um novo porto da Bahia.
São muitas obras de infraestrutura que precisam ser feitas.
Acho que a Sudene poderia retomar este papel de articular com os governos estaduais as obras de infraestrutura importantes que podem consolidar o desenvolvimento regional.
PERGUNTA - É o momento mais importante da carreira política?
FBC - Com certeza.
Estou há 30 anos na vida pública.
Servi a Pernambuco, à minha região, ao meu município como prefeito, como deputado estadual, como deputado federal.
E agora estou merecendo a confiança da presidente Dilma Rousseff para servir ao Brasil.