Por José Araújo Os avanços tecnológicos, principalmente nas comunicações e no transporte, proporcionam oportunidades ímpares para o melhor conhecimento do mundo e do que nele acontece.
Já não se manda ninguém à China, como algo inatingível, nem tampouco se pode guardar segredos ou fazer valer falsidades sem se correr o risco iminente de ver aqueles desvendados e estas identificadas.
Nesse contexto, surge no mundo da internet, o grande facilitador atual da comunicação, o Wikilieaks, fundado por Julian Assange, para revelar segredos e verdades que mexem com o equilíbrio das relações internacionais e, ao mesmo tempo, assustam os poderosos e detentores do poder.
Não nos cabe aqui ponderar sobre a forma da obtenção dos dados, se legal ou ilegal, mas cabe refletir sobre o real papel da diplomacia e seus valores bem como sobre o submundo que a envolve.
Os dados revelados, oriundos das mais diversas embaixadas norte-americanas, oferecem uma boa imagem do que seja e do que é praticado nesse submundo, podendo-se admitir que princípios norteadores da autodeterminação dos povos sejam minimizados ou ridicularizados e, por vezes, que as percepções ideologizadas e assim de competência duvidosa, sirvam de argumentos oficiais que regulem a matéria das relações internacionais.
O que veio à mostra até agora, em nada contribui para o engrandecimento da função diplomática.
Pelo contrário, pois se já havia suspeitas sobre se o que seria explicitado nas notas oficiais realmente corresponderia aos fatos, comprovam-se os descaminhos e a valorização das aparências, tudo se transforma em objeto de censura ou de possível correção.
A diplomacia se desnuda.
Quando a evolução social clama por transparência de ações, os atos explicitados seguem o caminho inverso da sombra, do esconderijo protegido pela função exercida. É de se questionar, quantas decisões foram e estão sendo tomadas que tiveram, ou tem, origem em atos espúrios?
Quantos golpes de Estado, revoluções, bloqueios econômicos e tecnológicos, foram ou são “justificados” através desse submundo?
E, ademais, são as percepções de fato as mais corretas?
Pelo que lemos, nem sempre.
Para quem não participa das cúpulas nacionais que tratam das relações entre países um alerta: não acreditar, de início, nas informações oficiais - pensar antes.
Avaliar o contexto; procurar entender os fins a que se destinam e se estes são justificáveis.
Determinar quem são os favorecidos e os prejudicados; quais os grupos e interesses envolvidos; os valores econômicos, sociais e políticos.
Aguçar a percepção e buscar entender o mais possível a realidade.
A amostra que temos é preocupante; não pode nem deve ser minimizada.
Tais comportamentos tem que ser combatidos, ou vamos concordar com o princípio já percebido por Maquiavel onde para obter, manter ou ampliar o poder “os fins justificam os meios”.
Ou ainda corroborar com Hobbes e aprofundar o comportamento onde “o homem é o lobo do homem”.
Rousseau considerava o homem bom por natureza, o que o tornava ruim eram as instituições.
Tocqueville, para comprovar Rousseau, era um arquiteto da liberdade, mas somente quando essa liberdade não prejudicava os seus próprios interesses como funcionário do governo francês.
Isso mesmo, a ética da responsabilidade superando a ética da convicção ou a instituição corrompendo o homem.
Assim, temos que estar atentos, pois há opções que dependem só de nós, da nossa busca pelo entendimento, pois: “não vos enganeis; as más conversações corrompem os bons costumes” (I Co. 15:23).
José de Araújo Pereira Filho Eng.
Eletricista; MsC em Ciência Política Prof. de Ciência Política da Fir