Felipe Lima, no JC deste domingo A Fiat não chega em Pernambuco sozinha.

Trará consigo pelo menos outras 50 empresas.

São fábricas de peças e componentes automotivos.

Fornecedores de longa data que trabalham sob encomenda e em sintonia afinada com a montadora na cidade de Betim, em Minas Gerais.

Eles serão os personagens coadjuvantes da cadeia produtiva automotiva em Pernambuco, já que o papel de destaque é do grupo italiano.

Mas quando se analisa o impacto econômico que provocam, ganham mais atenção dos holofotes.

Quando estiverem funcionando irão criar milhares de vagas de emprego, formarão a mão de obra, ampliarão a geração de riquezas dentro do Estado e aumentarão a movimentação de cargas (e de receitas) no Porto de Suape.

No próximo dia 28, quando deverá ser lançada a pedra fundamental da fábrica da Fiat, estima-se que cerca de 30 novas empresas sejam anunciadas.

Para entender o impacto da chegada desses grupos, a melhor base de comparação é o desempenho do setor em Minas Gerais.

Lá, a Fiat possui 88 fornecedores que geram R$ 6 bilhões por ano - 54% do PIB industrial do Estado mineiro.

Na área considerada “centro nervoso” do complexo em Betim, passam todos os dias 30 mil pessoas. É um contingente tão alto que exigiu a implantação de serviços típicos de uma cidade: postos bancários (14), refeições (são servidas mais de 20 mil por dia), nove postos de saúde.

Para fazê-los funcionar são gerados mais empregos indiretos, não necessariamente ligados a área industrial, e firmados contratos com empresas prestadoras de serviços, que contratam para atender a nova demanda.

Parte dos fornecedores é conhecida como sistemista.

Trabalham dentro do parque industrial da montadora.

Bem próximos da linha de produção.

Isso porque precisam entregar as peças e componentes no momento em que serão utilizados. É o modelo de produção conhecido como “just in time”, ou, em bom português, “em cima da hora”.

Os que não atuam nesse modelo fecham contratos com a Fiat, que se encarrega de buscar as encomendas.

Trata-se do “milk run” - a corrida do leite - em alusão ao funcionamento da indústria leiteira, onde as fábricas transportam o leite do produtor rural à planta industrial.

Nos dois grupos, nem toda a produção é consumida exclusivamente pela Fiat.

Muito é vendido no mercado internacional.

Entre janeiro e novembro deste ano, Minas Gerais exportou US$ 973 milhões (R$ 1,65 bilhão) em autopeças.

E para fabricarem seus produtos importam mais ainda.

No mesmo período, trouxeram um total de US$ 1,29 bilhão (R$ 2,19 bilhões) em insumos de fora do País.

Para Pernambuco, que possui o Porto de Suape, essa movimentação internacional representa altos valores de receitas portuárias, que, se bem empregadas pelos administradores públicos, ajudarão a construir a infraestrutura necessária para o Complexo Industrial Portuário receber todos os investimentos previstos e futuros. “O impacto em uma economia local é muito grande.

E o efeito multiplicador da chegada dos fornecedores trará um maior reflexo para Pernambuco que para Minas Gerais que, na época em que esse modelo de produção começou a ser implantado, no final da década de 80, tinha na siderurgia e mineração duas grandes atividades geradoras de riquezas”, comentou o professor da Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Édson Domingues.