Discurso do Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, durante cerimônia de anúncio de investimentos da Fiat em Pernambuco Salgueiro-PE, 14 de dezembro de 2010 Bem, primeiro, eu jamais imaginei que iria fazer uma reunião no sertão pernambucano, em Salgueiro, embaixo de uma tenda, pois eu não pareço nem um pouco com o Kadafi, nem um pouco.
Fazer uma reunião embaixo de uma tenda, em Salgueiro, para anunciar a vinda da Fiat para Pernambuco.
Se a gente contasse isso ontem, ninguém acreditaria.
Então, nós estamos vivenciando hoje uma coisa que eu acho que é histórica para o Brasil e para o Nordeste.
Meu querido companheiro Eduardo Campos, Meu querido companheiro João Santana, Companheiros deputados federais Fernando Bezerra Filho e Gonzaga Patriota, Nosso querido companheiro Belini, presidente da Fiat para a América Latina e da Anfavea, Nosso querido companheiro Marcones Libório de Sá, prefeito de Salgueiro, por intermédio de quem cumprimento todos os prefeitos, Meu caro Fernando Bezerra Coelho, secretário de Desenvolvimento, Companheiros e companheiras, Quando eu cheguei ao governo, em 2003, tinha a mania de refinarias de petróleo no Brasil.
O Ceará reivindicava uma refinaria, o Espírito Santo reivindicava uma refinaria, o Rio de Janeiro reivindicava uma refinaria na cidade de Campos, o Rio Grande do Norte reivindicava uma outra refinaria, e a Petrobras dizia que o Brasil não necessitava mais de refinaria porque as que existiam davam conta das necessidades do Brasil.
Então, nós tomamos a decisão, primeiro, de que a Petrobras não ia decidir sobre as refinarias, que era uma decisão de governo e que nós iríamos decidir se iríamos ou não fazer a refinaria.
E disse a todos os governadores que queriam refinaria que nós…
Porque todos, todos os governadores me diziam: “Porque tal empresa quer investir, porque tal empresa vai trazer dinheiro, porque tal empresa quer fazer refinaria”.
Eu disse: “Olhe, quem trouxer um parceiro para fazer refinaria, vai ter refinaria”.
Eis que – foi o companheiro Chávez da Venezuela, que veio lançar a pedra fundamental, não, que veio lançar uma estátua em homenagem ao Abreu e Lima, na cidade de Abreu e Lima, e lá nós conversamos e – o Chávez disse que, então, ele estaria disposto a fazer uma parceira para construir a refinaria em Pernambuco, desde que o nome fosse Abreu e Lima.
Portanto, era o custo mais barato para essa parceira, era emprestar o nome de Abreu e Lima para a gente fazer a refinaria e, se Deus quiser – a refinaria está em um estágio avançado – se Deus quiser, em 2012, a gente inaugura a transposição das águas, a gente inaugura a Transnordestina, a gente inaugura a refinaria e, se a Fiat trabalhar um pouco, a gente inaugura a Fiat.
Ora, quando nós começamos a recuperação dos portos brasileiros, foi a mesma coisa.
Todo estado queria um estaleiro – e é normal que queira – todo estado queria produzir sondas e plataformas para a Petrobras; todos os estados queriam construir navios para a Petrobras.
Nós fizemos a mesma coisa: Apresentem as propostas que nós vamos fazer um chamamento às empresas para que a gente faça a tomada de preços.
Quem ganhou foi Pernambuco.
O segundo estaleiro, quem ganhou foi Pernambuco.
O estaleiro de Fortaleza, que a prefeita nossa não quis porque era um estaleiro que ia mexer um pouco com a imagem de Fortaleza, quando Fortaleza não quis, ele foi para onde?
Para Pernambuco.
Mas por que ele foi para Pernambuco?
Porque as coisas estavam preparadas, inclusive com licença ambiental mais adiantada do que em outros estados.
Mas nós queremos fortalecer estaleiro no Rio de Janeiro; nós queremos fortalecer estaleiro em Salvador; nós queremos fazer estaleiro no Espírito Santo, porque nós temos uma responsabilidade enorme.
A Petrobras é hoje a indústria petrolífera no mundo que mais está fazendo investimento – fazendo investimento em sonda, fazendo investimento em plataformas, fazendo investimento em pesquisa.
E, portanto, os investimentos nossos são de US$ 224 bilhões até 2014, e nós vamos precisar de muita coisa neste país.
E, portanto, nós vamos querer distribuir de forma mais justa, pelo território nacional, porque nós queremos que todos os estados tenham a chance de se desenvolver.
Eu tenho certeza de que essa é a cabeça da nossa presidenta Dilma, eu tenho certeza de que essa é a cabeça de todos os membros do governo federal, porque nós precisamos reparar um pouco o que foi o modelo de desenvolvimento do Brasil do século XX, em que ele concentrou nas regiões Sul e Sudeste, e muito mais no Sudeste, (falha na gravação) comparativa (falha na gravação) as outras regiões do país: tem mais mercado, tem mais universidade, tem mais mão de obra qualificada, tem mais engenharia, tem as estradas melhores, tem as pontes melhores. É justo, então, que a gente consiga, enquanto governo – e é essa a intromissão, que eu acho que o governo tem que estar no desenvolvimento – é o governo ser o indutor do modelo de desenvolvimento que a gente quer para o nosso país.
Eu disse hoje, e vou repetir aqui, Belini, esse Canal do São Francisco que nós estamos fazendo, isso foi pensado em 1847, era o Imperador que governava o Brasil.
E o Imperador não teve força para fazer uma obra que precisava de uma construção de engenharia política que nós fizemos quase 150 anos depois.
A Ferrovia Oeste-Leste, que eu fui anunciar em Ilhéus, essa semana, é um investimento de R$ 2 bilhões e 800 milhões.
Essa ferrovia, Belini, ela foi pensada, Eduardo, em 1790.
Em 1790 se discutiu pela primeira vez a ferrovia, mostrou-se que ela era necessária, e ela não foi feita.
E não fazendo na hora certa, o país acumula um atraso histórico, e nós queremos acabar com esse atraso histórico. É por isso que eu falo com muito orgulho: O Nordeste está se desenvolvendo.
Certamente a Fiat não vem para cá só por causa dos seus belos olhos, dos meus olhos, e da lábia desse aqui.
A Fiat vem para cá porque ela está enxergando que o Nordeste é a região que mais se desenvolve no Brasil, que a classe pobre está ficando menos pobre, que a classe média está crescendo e que o Nordeste passa a ser um mercado em potencial extraordinário.
Ela vem para cá também porque sabe que o Porto de Suape é um porto extraordinário.
E ela vem para cá também porque ela sabe que a Itália está mais perto daqui também, a Europa está mais perto, e dá para distribuir por toda a América do Sul e América Latina o nosso produto.
Então, combinou o interesse econômico da Fiat com o interesse de desenvolvimento que tem o Nordeste brasileiro, que não pode ficar para trás a vida inteira. É importante a gente lembrar, companheiros e companheiras, que essa Ferrovia Transnordestina estava abandonada há mais de 40 anos, há mais de 40 anos.
Porque, neste país, em um momento histórico, houve gente que achou que o Brasil não precisava mais de ferrovia, de hidrovia, não precisava mais de nada.
A indústria naval brasileira, Belini, em [19]70, tinha 50 mil trabalhadores, só perdia para a do Japão.
Em [19]90, nós tínhamos apenas 1,6 mil trabalhadores.
Eu não sei se vocês, companheiros italianos, sabem: o Brasil, hoje, não produz um metro de trilho.
Nós estamos fazendo 6 mil quilômetros de ferrovia e não produzimos um metro de trilho.
Nós compramos trilhos da Itália, nós compramos trilhos da Polônia, nós compramos trilhos do Vietnã, quando, na verdade, é uma vergonha que a gente não tenha uma laminadora aqui para fazer os trilhos que o Brasil precisa.
Se a Fiat puder, já faça logo uma laminadora e vamos produzir trilho para vender trilho para esse país inteiro, porque a ferrovia voltou a fazer parte do nosso sistema intermodal de transporte. É isso, meu querido Belini.
Então eu quero, companheiros e companheiras, dizer para vocês que eu não poderia terminar o meu mandato…
Eu ainda venho mais uma vez.
Eu comecei falando da refinaria, Belini, a Petrobras não queria fazer.
Nós estamos fazendo uma de 600 mil barris/dia no Maranhão, uma de 300 mil barris/dia em Fortaleza, uma de 35 barris/dia em… no Rio Grande do Norte, uma de 220 barris/dia em Pernambuco e uma de duzentos e pouco ou 300 que é o Complexo… o Comperj, no Rio de Janeiro.
Ou seja, para quem não queria fazer uma refinaria estar fazendo cinco, isso significa um investimento de US$ 60 bilhões até 2014, é muita coisa para este país.
Portanto, companheiros da Fiat, na verdade vocês estão investindo aqui, no Brasil, nas ações mais rentáveis que vocês já investiram.
Porque é o seguinte: quando, em 2008, a Europa inteira não soube como lidar com a crise; quando, em 2008, os especialistas do FMI não sabiam como dizer aos europeus e aos americanos como sair da crise, eu fui, no dia 22 de dezembro de 2008, para a televisão, para fazer um apelo ao povo brasileiro, que ele tinha que consumir, ele tinha que comprar, porque se ele ficasse com medo de comprar, a indústria não ia produzir, o comércio não ia vender, ele ia perder o emprego e aí, sim, que a gente ia ter uma desgraça neste país.
E foi a classe pobre do Nordeste que mais foi às compras em 2008.
Portanto, eu sou agradecido de a Fiat ter tomado a decisão, primeiro, de optar pelo Brasil; segundo, de optar pelo Nordeste; terceiro, de optar por Pernambuco.
Não poderia querer coisa melhor.
Agora, não se lembrem [esqueçam] que se, por acaso, um dia, tiver uma grevezinha na Fiat, eu poderei estar na porta, incitando, que eu aprendi com os italianos, assistindo ao filme “A classe operária vai ao paraíso” ou “Mimi, o Metalúrgico”, a fazer uma grevezinha.
Muito obrigado à Fiat.
Obrigado, Eduardo, e parabéns pela competência.
E eu acho que o Nordeste brasileiro, dentro dos próximos 15 anos, não vai ser mais lembrado como a parte pobre.
Nós temos, agora, muita universidade, nós já temos 10% dos mestres e dos doutores do Brasil se formando aqui – era menos que 3% quando nós chegamos ao governo –, nós temos muitas escolas técnicas.
E daqui a 15 ou 20 anos, este Nordeste será irreconhecível pelo seu alto desenvolvimento.
Um abraço, parabéns.
E viva Pernambuco, e viva o Brasil!