A economia brasileira se desacelerou no terceiro trimestre do ano.

Mesmo assim, deve fechar 2010 crescendo cerca de 7,5%.

O Produto Interno Bruto (PIB) cresceu apenas 0,5% entre julho e setembro na comparação com o trimestre anterior.

A alta equivale a um quarto da média dos últimos quatro trimestres na mesma comparação (2,2%).

Se o ano tivesse terminado em setembro, o PIB teria crescido 7,5%.

Na comparação com o terceiro trimestre de 2009, a alta foi de 6,7%.

A desaceleração foi puxada pela agropecuária (-1,5%) e pela indústria (-1,3%).

Os setores de serviço (alta de 1%), o consumo das famílias (1,6%) e os investimentos (3,9%) lideraram a alta.

Entre as notícias positivas do PIB, a queda da atividade pode colocar o País na rota de uma alta mais sustentável.

O PIB só rodou a 7,5% ao ano pela explosão das importações (alta de 40,9% em 12 meses) para atender a forte demanda interna.

A médio prazo, isso tende a comprometer as contas externas.

No terceiro trimestre, o País precisou de R$ 24,1 bilhões de fora para se financiar (o dobro do que necessitava há um ano).

A outra boa notícia é que a taxa de investimentos (Formação Bruta de Capital Fixo, ou FBCF) está voltando ao patamar pré-crise de 2008.

Quanto maior essa taxa, menor o risco de inflação.

No terceiro trimestre, a FBCF alcançou 19,4%, pouco abaixo do teto de 2008 (20,6%).

Muitos consideram que o Brasil precisa de um nível próximo a 25% para crescer mais de 5,5% ao ano sem pressões inflacionárias. “Havia um claro descompasso entre a oferta e a demanda, daí o grande aumento das importações.

A desaceleração é positiva, pois coloca a economia em uma trajetória mais próxima de seu potencial”, diz o economista da PUC-RJ e da Opus, José Márcio Camargo.

Entre as más notícias figuram uma queda além do esperado da atividade industrial e um nível de consumo das famílias (puxado pelo crédito) ainda elevado, o que aumenta o risco de inflação.

A indústria cresceu 8,3% no terceiro trimestre ante igual período de 2009.

Mas boa parte da alta veio do setor extrativo mineral (16%), de baixo valor agregado.

Já os segmentos que fabricam produtos de alto valor agregado (transformação) tiveram alta menor, de 7,1%. “A maior preocupação do setor industrial é com a explosão dos importados, que vem levando a uma retração da produção”, afirma Rogério César de Souza, economista-chefe do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi).

Outra notícia considerada preocupante é que o consumo das famílias segue elevado.

Cresceu 1,6% sobre o trimestre anterior e 5,9% sobre o mesmo período de 2009 (o 28º aumento consecutivo).

Segundo o coordenador de Contas Nacionais do IBGE, Roberto Olinto, a alta foi sustentada por salários maiores e pela oferta de crédito.

A massa salarial real cresceu 10,2% no período e o saldo de operações de crédito com recursos livres para pessoas físicas aumentou 17,1%, sempre na mesma comparação.

O resultado apurado nesse confronto, no entanto, é menor do que o dos dois trimestres anteriores.

No segundo trimestre a alta foi de 6,4% e, no primeiro, 8,4%, também ante o mesmo período de 2009.

Especificamente no terceiro trimestre, houve ainda alta de 1,6% nesse indicador ante o trimestre imediatamente anterior e um acúmulo, no ano, de uma expansão de 6,9%.

Segundo o economista da MB Associados Sérgio Vale, a desaceleração do crescimento do consumo no trimestre se explica pela base de comparação, já que o País já voltava a crescer de forma mais acelerada no terceiro trimestre de 2009.

Já nos primeiros trimestres do ano passado, o crescimento ainda sofria efeitos da crise financeira internacional iniciada em 2008, favorecendo os dados do primeiro semestre de 2010. “Na margem, o crescimento continua em ritmo forte.

Li o resultado como bem positivo para o consumo”, afirmou o economista, que prevê uma redução para uma alta de 5,6% no indicador no quarto trimestre – ainda ante igual período de ano anterior – e uma retomada para cerca de 6% em 2011.

Para Vale, o recente pacote do governo que pretende restringir o crédito no País e a perspectiva de alta dos juros básicos na economia, no início do ano que vem, “vão impactar certamente o consumo”.

O especialista, no entanto, não aposta em perdas muito grandes. “Alguns setores serão mais afetados, como automóveis, em virtude do que o BC fez recentemente, mas ao mesmo tempo isso pode liberar espaço para consumo de outros produtos.

Quem queria comprar um carro e não vai conseguir pode decidir por trocar agora o aparelho de TV, por exemplo”, disse.