Da Folha de São Paulo Em dezembro de 2008, João Paulo Lima e Silva (PT) encerrou seu mandato como prefeito de Recife inaugurando o Parque Dona Lindu, em uma área à beira-mar, no bairro de Boa Viagem.

Projetado por Oscar Niemeyer, o parque foi repudiado por arquitetos e moradores locais, que protestaram com faixas onde se lia: “Lula, evite o agito e mais 4.000 m2 de concreto”.

O imbróglio começara quatro anos antes, quando moradores da região reivindicaram que a área, então em posse da Aeronáutica, fosse transformada em um parque.

João Paulo se fez valer da demanda, moldando-a à sua maneira: encomendou uma obra pública a Niemeyer-a única com a grife do arquiteto em Recife.

Gentil Porto Filho, professor de arquitetura da Universidade Federal de Pernambuco, explica: “A classe média queria um parque; a prefeitura queria a assinatura do Niemeyer.

Pedimos um misto-quente e chegou uma pizza”.

Vitória Andrade, presidente do IAB de Pernambuco, acredita que a prefeitura teria dificuldade de emplacar a a obra se ela fosse assinada por um arquiteto menos conhecido: “A marca Niemeyer dá poder.

Legitima escolhas nem sempre democráticas”.

Vitória conta que o IAB sugeriu ao prefeito que o projeto fosse erguido em outro local, distante da praia, e de mais fácil acesso: “O ganho político seria o mesmo”.

Hoje, a área externa do parque está aberta ao público.

O teatro para 500 pessoas continua em obras.

João Paulo Lima e Silva minimiza: “Houve uma resistência por causa do concreto, mas o parque vive lotado”.

A presidente do IAB vê a obra como o marco de uma gestão: “A arquitetura afirma poder desde o Egito antigo.

Mas o Niemeyer não merecia isso.

A obra dele foi emblemática.

Precisamos de líderes que queiram construir o novo, e não reconstruir o que um dia foi novo”.