Por Gustavo Krause, especial para o Blog de Jamildo Gim, forma preferencial a gin, de acordo com Houaiss, é bebida extraída de cereais e zimbro, arbusto da família da cupressácea, vulgarmente conhecida por cedro, genebra, etc.. segundo consta do dicionário de botânica.

Não confundir, pois, com Gim que, com gelo ou sem gelo, leva no sobrenome, de Argello, Senador Jorge Afonso e nome de guerra Gim Argello (PTB-DF e vice-líder do governo), protagonista da crônica da política brasileira, quando se tornou notório ao assumir a titularidade do mandato de Senador por conta da renúncia do titular, Joaquim Roriz, refugiado no expediente da renúncia para assegurar a impunidade.

Sua Excelência, homem de grande fortuna e sérios embates judiciais, ocupa, com destaque, o noticiário político.

O tema é recorrente: orçamento, emendas, beneficiários fantasmas e o nosso dinheirinho escorrendo pelo esgoto dos escândalos e indo direto engordar o enriquecimento ilícito dos deliquentes, travestidos de parlamentares. É inacreditável.

O orçamento federal, depois de tudo que aconteceu, é o suculento banquete que alimenta o apetite insaciável dos mercadores do templo.

E o que aconteceu?

Vamos refrescar a memória e informar os jovens.

Em 1993 estourou um dos maiores escândalos da política brasileira: o escândalo dos “Anões do Orçamento”, uma quadrilha organizada por homúnculos físicos e morais que surrupiaram, a partir de negociatas com as emendas parlamentares, milhões e milhões de cruzeiros na época, tirando o leite da boca das crianças, a assistência médica aos necessitados, a moradia dos sem-tetos e eliminando a possibilidade de converter o dinheiro público em benefícios coletivos.

Pois bem, dois dignos e honrados parlamentares, Senador Jarbas Passarinho e o deputado pernambucano Roberto Magalhães, foram designados Presidente e Relator da CPI do orçamento, popularmente conhecida como a “CPI do Anões”.

Com equilíbrio, serenidade e firmeza, conduziram os trabalhos.

A CPI não deu em pizza, lasanha ou feijoada.

De fato, foi realizado um trabalho gigantesco (395 quebras de sigilos bancários, 267 sigilos fiscais, 43, telefônicos, 77 depoimentos e 111 reuniões).

E mais: foi além de investigar denúncias e propor a cassação dos envolvidos; a CPI propôs medidas de aperfeiçoamento do processo de elaboração e execução orçamentária, dentre elas, a extinção de emendas de subvenções sociais (deslavado pretexto para corrupção), adoção de emendas de bancadas, restringindo as emendas individuais e a mais importante de todas que foi admitir a extinção da Comissão Mista do Orçamento.

Extinção da Comissão Mista de Orçamento, um tiro certeiro e necessário para a profilaxia das práticas escabrosas nos desvãos do Congresso Nacional!

Ficou no papel.

Com efeito, a Comissão é uma monstruosidade. É o simulacro do poder orçamental que efetivamente pode dentro do verdadeiro poder orçamental, o Parlamento, que não pode e apenas legitima a obra, aparentemente coletiva, nela embutida, muitas vezes, impressões digitais dos malfeitores.

Ora, o Orçamento, afirma a história, é a primeira peça (1215, Carta Magna da Inglaterra) de proteção do contribuinte, nascida do embrião dos parlamentos (assembléia de nobres para consentir ou não a cobrança de tributos) que, muito mais tarde, Orçamento e Parlamento se transformariam nos alicerces do que viria a ser a democracia representativa lastreada na vontade livre da cidadania. Às favas com a história.

Na prática, o sonho dourado de muitos congressistas é participar da Comissão de Orçamento. É o paraíso para os negócios e a política de clientela.

Usurpa, portanto, o poder original, indivisível e intransferível do Parlamento que é o poder orçamental.

E aí mora o perigo, as tentações e os delitos.

Uma vez extinta a monstruosidade e eliminado o espaço da promiscuidade, o projeto de Lei Orçamentária percorreria as comissões temáticas especializadas nas políticas setoriais contidas no orçamento, tal qual o rito dos projetos de lei para, depois, ir á votação no plenário do Congresso.

Simples, não?

Impossível eliminar a bocarra.

O sonho, eu sei, tem como inimigo figadal o pragmatismo vesgo e mal intencionado.

Mas continuo sonhando.

Por enquanto, o pesadelo é a nação se deparar com a tenebrosa notícia de que o relator do orçamento destinou emendas para empresas fantasmas em nome de “laranjas”.

Portanto, no lazer matinal das mansões brasilienses, à beira das piscinas, o refrescante gim-tônica foi destronado pelo gim-laranja.