Por: Raul Jungmann, especial para o Blog de Jamildo, direto de Cancún O Presidente mexicano, Felipe Calderón, fez ontem (06) um pronunciamento, seguido de debate aberto, com a plenária multinacional da COP 16 em Cancún, México por mais de uma hora.

Defendendo a participação da sociedade civil para quebrar o impasse nas negociações, ele atestava, indiretamente, a dificuldade em avançar um acordo multilateral que salvasse a face de Cancún.

Não vai ser fácil.

Até aqui, passados nove dias do início da Conferência e faltando apenas três para sua conclusão, não há nenhum texto ou rascunho escrito das decisões a serem tomadas.

Isto porque, a estratégia dos anfitriões é a de manter ao máximo as conversações na informalidade, evitando assim o que se passou em Copenhagen.

Lá, o primeiro ministro dinamarquês Hans Rassmussen, pré COP 15, negociou um texto preliminar com os EUA e China.

Esta, vazou a proposta para alguns países gerando um caos que paralisou por dias a Conferência e quebrou a confiança nos mediadores.

Os mexicanos tentam uma ”fuga prá frente”, organizando os países chave dois a dois, o Brasil está de par com a Inglaterra, na expectativa de não engessar o processo, deixando o máximo de possibilidades abertas, o que é positivo.

Hoje, porém, a onça começa a beber água. É que algum texto ou rascunho tem que fluir, ainda hoje, desse emaranhado de conversações.

Estas, como convivas num jantar, vão muito bem até que chega a hora de pagar a conta.

E, na “conta” da COP 16 temos problemas salgados.

O protocolo de Kyoto corre o sério risco de ir pro espaço.

Japoneses e americanos relutam em bancar a fase dois de Kyoto se os EUA não aderirem e eles não vão fazer isso tão cedo.

Já os americanos, queixam-se de que China, Brasil e Índia, permanecendo com programas e metas voluntárias, eles não teriam porque aceitarem um acordo que seja vinculante e monitorado pela ONU.

Noutro nível, se os recursos emergenciais do Fundo Clima de US$ 30 bi estão praticamente equacionados, tudo permanece indefinido, com relação aos US$ 100 bi anuais a serem aplicados de 2020 em diante.

Sem falar que vai se tornando consenso que as atuais metas de redução de emissões, em curso e previstas, não irão segurar o aquecimento global abaixo dos dois graus, até o fim do século XXI.

Se todos estes obstáculos foram driblados, o que esperar de Cancún?

Duas coisas.

Uma, a principal, que se vai ter a fase dois de Kyoto, preservando o seu arcabouço e processo, ficando a definição das metas para 2011.

Em segundo lugar, que se encontre uma fórmula de auditar os programas voluntários dos grandes emergentes mais os EUA, de modo satisfatório para as demais nações, em especial aos europeus e japoneses.

Há uma imensidão de obstáculos a superar nas próximas 72 horas para poder alcanças esses dois objetivos.

Não vai ser fácil, mas oxalá dê certo.

Deputado federal e vice-líder do PPS na Câmara.