Manoel Medeiros Neto, do Jornal do Commercio Personagem de uma campanha eleitoral que reduziu drasticamente os espaços da oposição em Pernambuco, a deputada estadual Terezinha Nunes (PSDB) recebeu a reportagem do JC no seu gabinete na quarta-feira (1º).
Prestes a deixar a Casa, após uma derrota por 1.355 votos, a tucana, uma das principais figuras de oposição ao governo Eduardo Campos, na prática, afirma não se arrepender de nada.
Ponte entre Jarbas Vasconcelos (PMDB) e Sérgio Guerra (PSDB), divididos por rusgas políticas e pessoais, a secretária-geral do PSDB crê na reconciliação dos líderes.
Ao indicar que os tucanos devem permanecer na oposição, sugere o nome de Guerra para a sucessão de 2014.
JORNAL DO COMMERCIO – Dois meses depois de uma ampla derrota nas urnas, em todos os níveis, como a senhora resume o resultado da eleição deste ano para a oposição em Pernambuco?
TEREZINHA NUNES – Eu acho que nós fomos vítimas de uma debacle, um tsunami.
Nós realmente nunca pensamos em ter o resultado que tivemos.
Eu acho que independente da análise da eleição deste ano, é preciso fazer uma análise histórica.
A esquerda de Pernambuco, que foi muito combativa em relação à ditadura militar, guardou algumas mágoas muito grandes entre seus líderes com a volta de Arraes do exílio.
Arraes ficou fora, Jarbas, Marcos Freire e todos os outros ficaram aqui trabalhando para que o regime democrático se estabelecesse.
Com a volta dos exilados, Arraes preferiu entrar no PMDB e encontrou o terreno bem pavimentado para a candidatura de Marcos Freire a governador.
Marcos Freire se destacou muito, era o nome natural e foi quem Jarbas apoiou naquela época (1982).
Havia um certo compromisso com isso.
Arraes ficou magoado e se aprofundou um problema entre ele e Jarbas que não existia antes.
Jarbas se encontrou algumas vezes com Arraes no exílio e era como se fossem muito amigos e tivessem o mesmo pensamento.
Quando houve essa preferência (Marcos Freire), Arraes se distanciou de Jarbas.
JC – Os desentendimentos entre os dois partiram daí?
TEREZINHA – Eu acho que tanto da parte de Arraes quanto da parte de Jarbas, foi criada uma certa mágoa entre os dois.
Arraes porque não tinha sido lançado por Jarbas como candidato a governador e Jarbas porque a partir deste momento deixou de ser prioridade para Arraes, a ponto de, na campanha de 90, quando Jarbas foi candidato a governador, ter dado um trabalho enorme, e eu estava presente, para convencer Arraes a gravar para pedir votos.
Isso demonstrava que ele não tinha o menor interesse em fazer de Jarbas o governador e o projeto de Jarbas era ser governador de Pernambuco.
Já tinha sido prefeito, eleito em 85, e o projeto era ser governador.
Quando ele sentiu em 90 que não iria, que estava fora do projeto de Arraes, foi quando então buscou uma aliança com o PFL para poder se tornar governador.
JC – Esses fatos históricos rebateram em 2010?
TEREZINHA – Essa coisa, essa mágoa, permaneceu e passou em grande parte para o atual governador Eduardo Campos (PSB), que era naturalmente a pessoa que ia continuar o projeto de Arraes.
Na hora em que nenhum filho de Arraes se interessou pela política, ele (Eduardo) conviveu com o avô, guardou essas mágoas e agora deu um troco.
Isso é um ciclo que está se esvaindo em Pernambuco e deve terminar com o fim do mandato de Eduardo, em 2014, a não ser que o governador aproveite o próximo governo para reduzir o impacto dessa raiva, dessa mágoa.
Não só Jarbas pagou esse preço, como eu também paguei na medida em que eu fui encarada, por fazer oposição, como se fosse uma inimiga do governador.
Ele não me via como adversária, me via como inimiga.
Todos nós fomos de alguma forma atingidos por essa raiva que se acumulou durante muitos anos entre Jarbas e Arraes.
JC – A senhora tinha noção das possíveis consequências de exercer um mandato de oposição, da maneira que fez, sobretudo em contraponto a um governo bem avaliado?
TEREZINHA – Tinha noção.
Aqui na Assembleia já se falava nisso.
Dois anos antes das eleições, alguns deputados do governo começaram a invadir minhas áreas, deixando claro que era atendendo a um pedido do governador.
Eles falavam isso.
O governador chegou a mandar um secretário procurar prefeitos meus para apoiarem outros candidatos e não a mim.
Foi uma coisa deliberada. É lamentável porque a oposição tem que fazer oposição e na hora em que o governador não aceita, dá um mau exemplo como democrata.
Espero que ele reveja essa prática, que abandone essa mágoa.
Eu não tenho raiva de Eduardo Campos.
Como cristã, tenho compaixão dele.
Quem guarda mágoa, raiva e rancor sofre muito com isso.
Acho que ele fez o papel dele, que era derrotar Jarbas para vingar o avô, e também me escolheu como meta.
Escolheu a mim e a Raul Henry.
A Raul ele não conseguiu derrotar porque Raul é uma pessoa que tinha participado da eleição municipal do Recife, cresceu, teve muita mídia naquele período e foi praticamente salvo desse tsunami.
JC – Muitos falam que o grupo jarbista, do qual a senhora faz parte, não tem mais espaço na política pernambucana.
Por outro lado, a senhora acredita que a eleição de 2010 fecha um ciclo histórico iniciado na década de 80.
Como a senhora projeta o futuro próximo para a oposição?
TEREZINHA – Eu vejo com otimismo o fim desse ciclo.
Eu acho que esse período de raiva e de mágoas não foi bom para Pernambuco, embora Jarbas tenha feito um grande governo, o próprio Eduardo tem se saído bem na medida em que tem tido o apoio incondicional do presidente Lula.
Mas no relacionamento político ficou muito ruim essa relação.
Eu colocaria nesse patamar a situação de Sérgio Guerra.
Sérgio foi uma pessoa que sempre transitou entre Jarbas e Arraes.
Sérgio se prejudicou, mesmo sendo uma pessoa que não guarda mágoa e nunca fecha portas.
Ele ficou entre um e outro e pagou um preço por isso.
Hoje é uma pessoa que tem dificuldade de relacionamento com os dois lados.
Sérgio tem chance de surgir como uma liderança que venha depois desse processo todo de decantação.
Não sei se ele tem interesse, não sei…
O que ele tem dito é que está satisfeito com o que fez, mas eu acho que ele é uma liderança que pode aparecer como opção para 2014.
JC – Mas e a situação do PSDB em Pernambuco?
TEREZINHA – Como jornalista, eu fiz amizade com Sérgio e com Jarbas, na medida em que os dois sempre me trataram bem, sempre me concederam boas entrevistas.
Quando Jarbas foi chamar Sérgio para participar do governo, ele me usou muito para isso.
Não só para ajudar a abrir espaço dentro do governo para o PSDB, para reduzir resistências de grupos do governo a Sérgio Guerra.
Quando você está num governo, se ocupa um espaço, e entra alguém novo, gera problema.
Ninguém quer perder espaço.
Você vê o que Dilma está enfrentando com o PMDB.
O pessoal acha que aquele lugar deve ser mantido.
Na dificuldade do PSDB entrar no governo, Jarbas me usou muito para reduzir essa resistência e eu fiquei muito vinculada a esse projeto do PSDB.
Na hora em que Eduardo se elegeu e foi atrás das bases do partido deliberadamente para subtrair a sigla da oposição, conseguiu o apoio dos prefeitos e Sérgio não pode ser culpado.
Praticamente teve que conviver com isso.
Foi muito difícil porque ele não tinha condições de segurar esse povo.
O partido teve essa dificuldade realmente, ficou dúbio, e agora tem que repensar isso.
JC – E qual é o caminho?
TEREZINHA – Eu espero que seja um caminho de uma oposição, mas uma oposição propositiva, que abra a brecha de uma composição futura, de um processo que possa ter o PSDB até na condução dele, com chances na eleição do próximo governador.
JC – Então a senhora sugere uma oposição mais propositiva?
TEREZINHA – Eu não proponho, eu acho que é o que vai acontecer.
Na medida em que eu não estou mais na tribuna, é mais fácil esse trabalho.
Eu realmente fiquei marcada por uma oposição muito forte, então na hora em que eu saio, na hora em que o povo não me deixou aqui ou o governador conseguiu me derrotar, a própria forma de oposição dos demais deputados não é da mesma linha que eu segui, é uma coisa mais light.
JC – Por ser muito próxima de Jarbas e de Guerra, a senhora enxerga alguma possibilidade de reconciliação?
TEREZINHA – Quem mais sofreu nesse período fui eu, porque realmente eu fiquei amiga dos dois.
No PSDB, mas com profundas ligações com o PMDB.
O meu primeiro mandato eu devo a Sérgio Guerra e a Jarbas Vasconcelos, os dois trabalharam, me ajudaram.
Eu diria que agora os 30 mil votos que tive são meus mesmo, na medida em que eu já tinha uma história, um trabalho como deputada, isso contou muito.
Eu continuo achando que é preciso que Sérgio Guerra e Jarbas se entendam.
Eles sempre foram amigos.
Esse foi um episódio que tem que ser entendido como histórico, que já aconteceu, e acredito que eles vão se entender.
A amizade pessoal será restabelecida.
Há caminhos.
Mesmo na política, o PSDB se mantendo na oposição aqui na Assembleia, certamente vai caminhar junto com o PMDB.
A questão com o DEM é preciso ser mais colocada e mais desenvolvida.
Realmente houve problemas maiores entre os dois partidos, é mais difícil uma reconciliação, embora não impossível.
Com Jarbas eu acredito que é possível reatar os laços.
JC – Os problemas do DEM com o PSDB existem desde a entrada dos tucanos no governo Jarbas…
TEREZINHA – Exatamente.
O DEM foi quem mais resistiu à entrada de Sérgio Guerra.
Isso criou uma rusga entre os dois partidos até hoje.
Você vê, Sérgio se entende muito bem com o PSDB nacional, todas as lideranças do DEM nacional conversam muito com ele, mas aqui em Pernambuco é diferente.
JC – Na eleição de 2012, a senhora acredita na possibilidade de o PSDB caminhar com um candidato jarbista no Recife?
TEREZINHA – A gente (oposição) tem uma grande chance de fazer o novo prefeito, mas temos que discutir muito a estratégia a ser adotada.
Hoje está mais para sair dois ou três candidatos de oposição e aí eu não me refiro só ao PSDB, DEM e PMDB.
Por exemplo, o PV é um elemento novo que vai entrar nas discussões.
O PP, que Eduardo da Fonte se coloca como um dos possíveis candidatos…
Eu não afasto a possibilidade de, mesmo nessas condições, o PSDB vir a se juntar ao PMDB nessa eleição.
Eu não vejo dificuldade nisso não, sobretudo se o PSDB assumir uma postura de oposição, como parece que vai acontecer. É importante lembrar que o Recife é o lugar onde se inicia a eleição para governador e aí eu aposto que depois da eleição de 2012 em Pernambuco a oposição vai crescer muito.
Hoje ela está muito pequena na Assembleia, mas a tendência é crescer muito.
Vai crescer com gente do outro lado, gente da bancada de Eduardo.
Já existem alguns que demonstram insatisfação por conta de espaço político.
Quando surgirem possíveis candidatos a governador, ou candidatáveis, vão surgir divisões…
JC – Seria um movimento parecido com o que ocorreu no segundo governo de Jarbas?
TEREZINHA – Uma coisa é o primeiro governo…
Jarbas também foi muito bem avaliado, Eduardo está numa avaliação melhor, mas Jarbas também estava confortável e perdeu muita gente no segundo governo.
Está certo que o governador tem o apoio da presidente, que o fortalece.
No caso de Jarbas, ele já não tinha o apoio federal, Lula trabalhou no sentido de diminuir a força dele, então eu acho que Eduardo vai ter melhores condições, mas é impossível agregar tanta gente sem ter defecções.
Certamente elas vão acontecer.
JC – O governo Eduardo Campos enfrentou duas crises, na Empetur e na Fundarpe, após denúncias levantadas pela senhora e pelo deputado Augusto Coutinho (DEM).
A senhora acredita que as providências corretas foram tomadas?
TEREZINHA – Essas questões da Empetur e da Fundarpe foram episódios da oposição que eu fiz aqui dentro.
Realmente chamaram mais atenção, estão sendo apuradas e eu acredito em punição.
Depois de tudo que foi levantado, nada foi contestado, ninguém me chamou de irresponsável.
Eu só falo com provas e o governo acabou se beneficiando, como se beneficia quando há oposição séria.
JC – Depois de doze anos sucessivos ocupando cargos públicos, no Executivo e no Legislativo, como a senhora se prepara para enfrentar a planície?
Quais são os planos?
TEREZINHA – Eu acho que uma derrota ensina muito a um político, encaro com muito otimismo.
Você quando passa por um revés eleitoral pensa em muita coisa que não estava pensando antes, que o tempo, a confusão, não deixa você nem respirar.
Agora eu vou ter esse tempo, de pensar melhor, de estar fora, de ver qual o caminho melhor para mim, mas eu não quero abandonar a política.
Tanto é que recebi três propostas do PSDB: ir para a equipe de Alckmin, em São Paulo, ir para Brasília, trabalhar na sede do partido, ou ficar no Recife, e eu optei por ficar aqui.
Me distanciar de Pernambuco seria ruim para mim.
Eu sou secretária-geral do PSDB de Pernambuco e já discuti com o senador Sérgio Guerra.
Vou ficar na sede do partido, trabalhar na reestruturação do PSDB no Estado todo, que vai ser necessário agora com a renovação das filiações, porque o partido vai se preparar para as prévias.
Vou ficar responsável por esse trabalho de formiguinha.
Sempre quando eu entro em algum projeto eu gosto de construir e é isso que vou fazer agora no PSDB.