Ayrton Maciel, do Jornal do Commercio Com a cúpula nacional do Democratas (DEM) mobilizada para abortar a saída do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, da legenda no começo de 2011 – motivado pelo projeto eleitoral de disputar o governo paulista em 2014 –, dirigentes democratas no Estado revelam a crença na doutrina liberal e no futuro do partido.
Os liberais descartam qualquer possibilidade de fusão com o PMDB ou de uma nova mudança de sigla, especuladas após os resultados das últimas eleições, quando o partido saiu reduzido no Congresso Nacional, perdeu espaços nas assembleias legislativas e elegeu só dois governadores.
Ideólogo do partido, o ex-ministro da Fazenda do governo Itamar Franco, Gustavo Krause, minimiza o peso da perda de espaço político, situando-a no contexto e nas circunstância de um tempo histórico, porém, credita, responsabiliza e não perdoa a falta de identidade de muitos quadros com os ideais do liberalismo.
Segundo Krause, esse descompromisso é a maior causa da redução do espaço do DEM no País. “O DEM tem que assumir que é um partido liberal, de centro-direita, não há problema nisso”, cobra.
Krause, também ex-prefeito do Recife e ex-governador do Estado, recorre aos ciclos políticos da história para afirmar que, em um momento futuro – próximo ou não –, o Democratas voltará a ser partidariamente forte e pode voltar a ser hegemônico no País.
Todavia, como condição, seus quadros necessariamente deverão ter que se assumir como sociais-liberais e pregar sem medo o liberalismo.
O ex-ministro destaca que resultado eleitoral “é momento”, por isso, considera que o fundamental é a fidelidade às ideias, o que significa ter identidade permanente. “É uma ignorância monumental e um descompromisso a infidelidade.
No Brasil, as pessoas não conseguem ser liberais, não se assumem.
Haverá sempre gente que comungue da doutrina (conjunto de ideias e princípios), mas as pessoas são enrustidas.
A prática deveria ser liberal, porém, preferem se dizer sociais-democratas.
Verbalizam e praticam outra coisa.
Ora, se você defende a liberdade política, a economia de mercado e uma rede de proteção social, essa é a doutrina liberal.
Tem que se assumir”, aponta o caminho Krause.
Deputado federal e um dos vice-presidentes do DEM, André de Paula revela – em consonância com a pregação de Krause – ser incompatível a proposta de fusão com o PMDB, ideia já descartada pelo diretório nacional. “O Democratas é diametralmente oposto ao PMDB.
O povo nos mandou (de novo) para a oposição (nas eleições).
E é, exatamente, por estar na oposição que o partido está reduzido.
O DEM enfrentou o uso da máquina pública.
Vivemos um desafio”, esclarece André.
Em vez de fusão, o partido formou uma comissão com a tarefa de apresentar um planejamento e um projeto de fortalecimento da legenda para as eleições de 2012. “Não concluímos ainda a refundação (reestruturação de PFL para DEM)”, pondera.
A organização da ideias liberais é anterior à organização da ideias comunistas.
Adam Smith, com a Riqueza das Nações, é considerado o pai do capitalismo, Karl Marx, com O Capital, é o ideólogo do comunismo.
Como as ideias não morrem, uma sobrevive como estrutura econômica permanente e dominante, a outra sobrevive como desejo. É inspirado na história, então, que Gustavo Krause prefere prevê o futuro do DEM. “As ideias liberais são antigas, consistentes e profundas.
O DEM é um partido que foi grande e ficou pequeno.
Não há problema em perder eleição.
Quem tem projeto político, fica no partido.
Quem tem projeto eleitoral, muda de canto”, ressalta Krause.