Carla Seixas, do Jornal do Commercio Parcelar as compras sem se preocupar com os juros cobrados é um costume comum entre os consumidores brasileiros.
Muitos sequer calculam o valor global das compras ao dividir o pagamento em sete, oito e até dez meses.
Neste Natal, com as medidas anunciadas pelo Banco Central (BC) para segurar o crédito na tentativa de controlar a inflação, a falta de cuidado do consumidor pode pesar ainda mais no bolso.
Em algumas grandes redes varejistas, os juros para parcelar qualquer item já chegam a 6,9% ao mês. É praticamente a taxa de juro do temido cheque especial – um dos formatos de crédito mais caros do mercado.
Mas apesar disso, a maioria sede ao apelo do parcelamento.
Estimativas da Associação de Lojistas de Shopping (Aloshop) apontam que apenas 20% das compras sejam pagas com dinheiro.
Com o retorno do crédito farto, principalmente ao longo de 2010, o varejo terminou desistindo de estimular as vendas à vista.
Cenário bem diferente do final de 2008.
No auge da crise, os lojistas chegaram a ofertar descontos de 10%, 20% e até 30% para alavancar caixa por conta da falta de crédito.
Mesmo considerada irregular, a diferenciação entre o valor pago à vista e o com cartão de crédito era facilmente encontrada, até com anúncio nas vitrines.
Neste Natal, o cenário tem sido outro.
Uma circulada pelo comércio e quase nenhuma placa de desconto é encontrada.
Ainda assim, em alguns estabelecimentos, se o consumidor insistir e demonstrar interesse em comprar o item pagando de uma só vez, as reduções aparecem, embora em menor proporção do que num passado recente.
A vantagem tem chegado a 5% sobre o valor de venda.
Comprar um fogão parcelado na Laser Eletro pode custar R$ 507 caso ele seja pago em 12 vezes, com juros mensais de 2,9%.
Mas se o consumidor souber negociar e tiver separado um valor para pagar de uma só vez, levará para casa o mesmo item por R$ 427 – uma diferença de R$ 80, valor suficiente para levar também um liquidificar.
Em setores com grande concorrência, como é o caso de eletrodomésticos, a negociação para baixar preço ainda é comum no pagamento em dinheiro.
A funcionária pública Fernanda Pereira Gomes diz que costuma parcelar as compras.
Apesar disso, ela procura usar um número de parcelas que não tenha a incidência de juros. “Vou olhar os produtos.
Se eu tiver o dinheiro na mão e for suficiente para pagar à vista, eu prefiro.
Normalmente quando eu vou parcelar, procuro saber até em quantas parcelas posso pagar sem juros”, conta ela.
A dona de casa Ana Priscila da Silva se queixa da falta de informação sobre as taxas de juros cobradas pelas redes quando o parcelamento é mais longo. “Eles insistem para gente parcelar em oito vezes e dizem que o valor é o mesmo, mas a gente sabe que tem juros”, diz ela.
O presidente da Aloshop, Ricardo Galdino, diz que a concorrência no varejo, principalmente no segmento de confecções, terminou reduzindo muito as margens dos empresários e consequentemente vetando descontos mais agressivos. “Além de ser oficialmente proibido, o varejista já não tem mais tanta margem para isso”, comenta.
Galdino destaca que o setor de maior concorrência é o de vestuário – responsável por 40% do mix dos shoppings.