Wagner Sarmento, do Jornal do Commercio No dia em que a Polícia Civil do Rio encontrou no Complexo do Alemão uma galeria de águas pluviais com 400 metros de comprimento, que teria sido utilizada como rota de fuga pelos traficantes do morro, a Secretaria Executiva de Ressocialização de Pernambuco (Seres) informou que está monitorando os presos do sistema penitenciário pernambucano que têm ligações com o Comando Vermelho (CV) e outras facções criminosas cariocas.
O objetivo é evitar o contato entre os traficantes de ambos os Estados e aumentar o cerco contra a possível entrada em Pernambuco de criminosos fugidos após as operações policiais na capital fluminense.
De acordo com o secretário Humberto Viana, o governo estadual está seguindo os passos de cerca de 100 detentos relacionados ao CV e a outras gangues.
Por questão de segurança, Viana não quis divulgar os nomes dos presos fiscalizados. “Mantemos em sigilo pela segurança deles e do sistema carcerário.
São informações de caráter reservado.
Não podemos expor essas pessoas, apenas monitorá-las”, afirmou ontem, em entrevista por telefone, de Barcelona, onde o Centro Integrado de Ressocialização de Itaquitinga, na Mata Norte de Pernambuco, recebeu o título de uma das dez obras sociais em andamento mais importantes do mundo.
A unidade terá capacidade para abrigar 3.126 detentos.
Diante dos episódios no Rio, a Seres passou a adotar medidas internas no sentido de impedir que apenados pernambucanos mantenham contato telefônico com traficantes cariocas. “Estamos fazendo reuniões regulares.
Com o aperto no Rio, esses criminosos vão ter que migrar para algum lugar.
Independentemente do impacto que haverá aqui, precisamos ter uma atitude de prevenção.
Trata-se de uma preocupação que já temos no dia a dia, mas agora acendeu a luz vermelha”, observou.
A última reunião sobre o assunto ocorreu anteontem.
A maior preocupação, segundo Humberto Viana, é com os presos do semiaberto.
Dos 22 mil detentos que compõem a população carcerária do Estado, 3.120 estão no regime que permite saídas temporárias.
Metade deles está no Grande Recife, foco da atenção da Seres. “Os detentos ligados ao Comando Vermelho ou a alguma outra facção criminosa carioca já são mapeados pelo serviço de inteligência.
Quem está no semiaberto está tendo seus passos monitorados nos locais aonde eles dizem à Justiça que vão.
Se tiver recomendação especial, a gente acompanha”, explicou o secretário.
O monitoramento é feito em parceria pela inteligência da Seres e da Secretaria de Defesa Social (SDS).
Os presos do sistema fechado também estão sendo monitorados. “Eles passam a ficar em áreas específicas, onde a comunicação é mais difícil.
São medidas preventivas”, salientou.
Viana disse que o CV e o Primeiro Comando da Capital (PCC), de São Paulo, são as organizações criminosas com maior presença nos presídios pernambucanos, mas ressaltou a importância de outras facções menores. “Sabemos da união de algumas facções.
Não é só o Comando Vermelho.
Outros grupos também merecem atenção.
Os detentos gostam de pertencer a essas facções, é uma forma de autoafirmação”, frisou.
Um dos locais com detentos mapeados pela inteligência é a Penitenciária Professor Barreto Campelo, na Ilha de Itamaracá.
Na segunda-feira, o governador Eduardo Campos e o secretário de Defesa Social, Wilson Damázio, afirmaram que Pernambuco está reforçando, em parceria com a Polícia Rodoviária Federal, o policiamento nas divisas do Estado para impedir a entrada de criminosos provenientes do Rio.
O anúncio foi feito durante solenidade de entrega de equipamentos no Comando Militar do Nordeste (CMNE), no Curado, Zona Oeste do Recife.