Por Sérgio Montenegro Filho, no blog www.polislivre.blogspot.com Final de mandato, para muitos políticos, costuma representar um alívio.
Mas para o presidente Lula, a expectativa de passar a faixa adiante parece estar se transformando num elemento de desequilíbrio profundo.
Só isso poderia explicar o destempero e o comportamento bipolar a cada aparição pública.
Hoje cedo, no Maranhão, Lula voltou a protagonizar cenas no mínimo indignas do cargo.
Questionado por um jornalista se seria grato pelo apoio que recebeu da “oligarquia dos Sarney” ao longo do seu governo, o presidente descompensou: além de classificar a pergunta de “preconceituosa”, ainda mandou o repórter “se tratar, fazer psicanálise”.
Na realidade, é o presidente quem parece estar sofrendo de algum transtorno psíquico.
Amnésia, para dizer o mínimo.
De que outra maneira ele poderia justificar a veemente defesa que faz agora dos Sarney, depois de tantas denúncias e escândalos envolvendo todo o clã?
Lula parece ter esquecido, por exemplo, dos indiciamentos do filho mais velho do coronel maranhense, o empresário Fernando Sarney.
Seja por formação de quadrilha, tráfico de influência e falsificação de documentos, seja por envio de dinheiro ilegal ao exterior.
E o que dizer dos outros filhos do coronel?
Será que Lula esqueceu da condenação do deputado federal Zequinha Sarney pela Justiça Eleitoral por propaganda antecipada em 2006?
Ele virou ficha-suja e foi proibido de disputar a reeleição este ano, mas misteriosamente o TRE do Maranhão voltou atrás alguns dias depois, liberando o registro da candidatura.
Ah, presidente, o senhor também não lembra do escândalo Lunus?
Aquele que detonou a candidatura de Roseana Sarney à Presidência da República, em 2002, e ainda terminou por causar sua derrota na disputa pelo governo do Maranhão quatro anos depois.
Seria bom relembrar a Lula que, atendendo a um pedido de Fernando Sarney, o desembargador Dácio Vieira, do Tribunal de Justiça do Distrito Federal, proibiu o jornal O Estado de S.
Paulo de publicar notícias sobre seu indiciamento, restabelecendo no Brasil uma prática de censura que não se via desde o regime militar.
Embora medidas dessa natureza pareçam contar hoje com a simpatia de alguns setores petistas.
Mas ao defender José Sarney, presidente Lula, o senhor parece que esqueceu mesmo de uma famosa frase: “Ademar de Barros e Paulo Maluf podiam até ser ladrão, mas eles eram trombadinha perto do grande ladrão que é o governante da Nova República, perto dos assaltos que faz”.
A ausência de plurais dá uma pista sobre quem fez a declaração, não?
Se você disse Lula, acertou.
O desabafo aconteceu em 1987, num improvisado discurso em Aracajú, quando o então presidenciável petista não escondia o “ódio” pelo clã dos Sarney.
Mas hoje cedo, no Maranhão, a declaração foi bem outra.
A um mês de desembarcar na planície, e certo de que já não precisa mais das atenções da imprensa como em 1987, Lula afagou publicamente os Sarney, agradecendo pelo apoio à sua administração.
E vociferou contra o repórter que o questionou: “Sua pergunta preconceituosa é grave para quem está há oito anos comigo em Brasília.
Significa que você não evoluiu nada do ponto de vista do preconceito, que é uma doença.
Sarney é o presidente do Senado.
E colaborou muito para que a institucionalidade fosse cumprida.
Você devia se tratar, quem sabe fazer psicanálise, para diminuir um pouco esse preconceito”.
Depois dessa, só resta à imprensa brasileira despedir-se e agradecer a atenção dispensada, presidente Lula.