Por Isaltino Nascimento Em uma de suas acepções a palavra guerreiro refere-se aos que usam da força para dominar o adversário ou conquistar seus objetivos.
Neste artigo recorro à outra acepção: atribuída aos indivíduos que defendem seus ideais por meio do diálogo, demonstrando coragem e firmeza de espírito, para referir-me de Inaldete Pinheiro de Andrade, que recebe nesta quarta-feira, 1º de dezembro, a Medalha Leão do Norte Classe Ouro – Mérito Zumbi dos Palmares.
A comenda, outorgada pela Assembleia Legislativa de Pernambuco, simboliza a liberdade e os direitos dos afro-descendentes, agraciando, anualmente, os maiores expoentes do segmento.
Inaldete faz jus ao título desde jovem, quando começou a militar na defesa da convivência pacífica entre as várias etnias, carregando permanentemente a certeza de que o combate ao racismo é o caminho para a humanidade rumar a um futuro harmonioso.
A sua história como ativista coletiva começou no Recife, para onde esta potiguar de Parnamirim veio morar em 1969, aos 20 anos, para estudar Enfermagem, pela ausência do curso na Universidade do Rio Grande do Norte.
Aqui, concluiu o curso pretendido e tornou-se mestre em Serviço Social pela Universidade Federal de Pernambuco.
Em 1979, período no qual vigora a repressão promovida pela Ditadura Militar, engajou-se no movimento em defesa da igualdade racial, tornado-se fundadora do Movimento Negro do Recife.
As batalhas empreendidas por Inaldete de lá para cá são muitas.
Entre elas, a defesa da inclusão da disciplina História da África e da Cultura Afro-pernambucana, primeiro no currículo da rede de ensino municipal do Recife, depois na grade da rede pública estadual.
Os esforços na Câmara Municipal do Recife e na Casa de Joaquim Nabuco, em legislaturas passadas, não vingaram.
Contudo, tal mobilização não foi em vão, pois anos depois Inaldete testemunhou a defesa incansável da proposição por parte do então deputado federal Humberto Costa no Congresso Federal.
A aprovação e sanção de lei federal neste sentido ocorreu oito anos depois, em 9 de janeiro de 2003, com o número 10.639, tornando obrigatório o ensino da História da África e da Cultura Afro-brasileira nos três níveis de escolaridade.
Inaldete também empreendeu lutas em prol da saúde da população negra, sendo uma das incentivadoras da implementação do Programa de Combate à Anemia Falciforme da População Negra, pela Prefeitura do Recife, em 2001.
A criação de programa semelhante, em âmbito estadual, foi objeto de projeto de lei de minha autoria, na Casa de Joaquim Nabuco, e ações de saúde voltadas à população negra ganharam programa federal, sob a batuta do então ministro da Saúde Humberto Costa, já respaldado com sua iniciativa no Recife, ampliando para agravantes que acometem esta população.
Hoje, Inaldete – que também foi fundadora do Centro Solano Trindade (1989) e do Fórum de Mulheres de Pernambuco (na década de 80) – faz parte do GT Saúde da População Negra da Prefeitura do Recife e da Comissão do Programa de Anemia Falciforme da Secretaria Estadual de Saúde.
Suas ações em prol do fortalecimento da cultura afro-brasileira também são significativas.
Filiada à União Brasileira de Escritores (UBE), Inaldete é autora de livros e publicações com ênfase na difusão da riqueza da cultura negra em nosso Estado, alguns especialmente direcionados às crianças.
Os livros “Cinco cantigas para se contar” (1989), “Pai Adão era Nagô” (1989), editado pelo Centro de Cultura Luiz Freire, “Racismo e anti-racismo na literatura infato-juvenil” (2001), pela Etnia Produção Editorial, “A Calunga e o Maracatu” (2007), editado pela Secretaria de Cultura da Prefeitura do Recife, e “Baobás de Ipojuca” (2008), pelas Edições Bagaço, são exemplo de sua preocupação com a educação em cultura afro-brasileira.
As publicações, inclusive, são utilizadas por Inaldete, em capacitações que realiza com crianças em escolas do Recife e de outros municípios do Estado.
Para nosso orgulho, Inaldete Pinheiro de Andrade, é detentora do título de Cidadão Recifense, outorgado por iniciativa do vereador Vicente André Gomes.
Há quatro décadas ela vem fazendo ecoar da capital pernambucana o vigor de sua militância no Movimento Negro, reiterando, como bem disse a escritora Graça Graúna, “a sonhada convivência pacífica entre os povos; uma luta que reporta-nos à resistência em Mandela e à Africamérica sonhada por José Marti”.
Ainda citando Graça Graúna e somando-se às suas palavras, postas no prefácio do livro “Racismo e anti-racismo na literatura infanto-juvenil”, compartilhar as idéias e ideais de Inaldete Pinheiro de Andrade – merecedora da Medalha Zumbi dos Palmares –, é: “Mergulhar nas múltiplas vozes da África, apreender a solidariedade ativa inspirada no poeta Solano Trindade, reafirmando um encontro Brasil-África”.
Parabéns Inaldete Pinheiro e todo povo negro pela bravura e resistência !!!!
Isaltino Nascimento (www.isaltinopt.com.br / www.twitter.com/isaltinopt ), deputado estadual pelo PT, escreve para o Blog à terças-feiras.