O noticiário policial tem mostrado, nos últimos tempos, que, infelizmente, o Recife se tornou um dos grandes corredores do tráfico de drogas, com apreensões quase diárias e em quantidades cada vez maiores.
São quilos e mais quilos de pasta-base de cocaína, cocaína pura, pedras de crack, maconha e até mesmo haxixe, o que não é muito comum no nosso Estado.
Algumas dessas apreensões são feitas no Aeroporto dos Guararapes, o que coloca Pernambuco na rota internacional das drogas, enquanto outras apreensões são realizadas em blitzes realizadas nas rodovias do Estado.
Quando se verifica que o tráfico é a fonte de grande parte da violência em nosso País, temos que refletir profundamente sobre a gravidade do problema e nos advertir de que não é apenas no Rio de Janeiro que as drogas instalam a insegurança.
Os mais recentes episódios no Rio, com carros incendiados, tiroteios e correrias que costumam fazer os cenários de guerras civis, estão repercutindo na Europa e sendo mostrados como campos de batalha num dos principais palcos de dois grandes eventos internacionais programados para 2014 e 2016 – a Copa do Mundo de Futebol e as Olimpíadas.
As cenas chamadas de campos de batalha pela televisão francesa nesta semana têm um impacto que vai além daqueles dois eventos.
Desde já repercutem num dos setores da economia que mais crescem em todo mundo, o turismo, transmitindo para os operadores, em tempo real, cenas incompatíveis com uma das mais belas e mais receptivas cidades do mundo.
E esse impacto não diz respeito apenas à cidade maravilhosa.
Ele irradia influência negativa sobre nós, também sujeitos à criminalidade que se transforma, no País, em um Estado paralelo.
Não temos dúvida de que essas preocupações povoam as mentes de nossas autoridades, desde o governador ao secretário de Defesa Social e os comandos da Polícia Militar.
Entretanto, muito além das preocupações eles devem saber – mais do que os que padecemos como vítimas ou vivemos o terror como espectadores –, que o tráfico de drogas tem a força e o poder de um empreendimento criminoso altamente rentável.
Rentável o bastante não apenas para expor o enriquecimento sem causa de seus mentores e chefes, mas para expandir um mercado igualmente criminoso, o de armas, muitas vezes mais potentes e mais sofisticadas do que as que são usadas pelo nosso sistema de segurança.
Mais de uma vez reconhecemos neste espaço de opinião que se trata de um problema muito complexo, para o qual não cabem aconselhamentos fora de uma realidade construída sobre uma intricada malha de criminalidade, enraizada nas penitenciárias superlotadas, no uso farto do dinheiro para comprar cumplicidades, ou da violência para impor silêncio e parceria intimidada. É difícil cobrar do Estado legal mais investimentos para combater os bandidos, sabendo que esse é o custo do desvio de recursos que melhor seriam utilizados em escolas, hospitais, em infraestrutura para ativar mais a economia.
Porém, se entendemos a complexidade do problema também é evidente que não podemos cruzar os braços e aceitar que nos transformem em reféns do medo, transformando a nossa sociedade em uma sociedade bandida, excluída do conjunto de nações que já conquistaram o mínimo de civilidade.
Por este motivo, a expectativa de todos é que a Defesa Social do Estado corresponda a esse nome e se torne de fato em instrumento de confronto permanente, utilizando os mecanismos que forem necessários, para enfrentar e desarticular os bandidos.
Isso é mais que uma aspiração: é um imperativo, sob pena de nos transformarem em campo minado.
A mensagem, definitiva, deve ser a de que se o tráfico cresce e se especializa, as forças da lei e da ordem precisam seguir o mesmo caminho.