Foto: Renata Ursaia, Especial para o JC Online Gilvan Oliveira, do Jornal do Commercio Um mês e meio depois de se submeter a um transplante de rim, o prefeito João da Costa (PT) concedeu ao JC sua primeira entrevista a um jornal do Estado e em nada lembrou alguém que convalesce de uma cirurgia delicada.
Conversou durante uma hora e meia na chuvosa tarde da última segunda-feira no restaurante do Quality Flat, na Rua Bela Cintra, próximo à Avenida Paulista, em São Paulo, onde está hospedado desde a alta hospitalar.
Demonstrou vitalidade e entusiasmo.
Na entrevista a seguir, ele projeta seu futuro político e administrativo.
Afirma que 2011 será o ano para consolidar sua gestão e, com a saúde restabelecida, confirma que será candidato à reeleição em 2012.
Foi incisivo ao tratar de ex-aliados no PT, caso do presidente da Câmara de Vereadores, Múcio Magalhães, que apresentou emendas ao Orçamento prevendo reajuste a servidores, colocando sindicatos da categoria em rota de colisão com a gestão.
João da Costa cita mobilidade e temas ambientais como prioridades da sua gestão para o próximo biênio.
Reconhece que a CTTU presta um serviço deficiente.
Também fala da sua recuperação e dos problemas de saúde que enfrentava antes do transplante.
Ele volta ao Recife no início de dezembro, mas ainda passará um mês em casa em recuperação, só retornando ao trabalho em janeiro.
JC - Como está sendo sua recuperação?
João da Costa - Os exames têm sido muito bons. É o resultado de uma cirurgia planejada, pensada, preparada.
Acho que isso atesta a evolução da medicina no Brasil.
Estou muito contente também porque todo esse processo foi feito pelo SUS (Sistema Único de Saúde); a gente tem uma imagem do SUS só da emergência e dos problemas, mas acho que na área de alta complexidade hoje, principalmente na de transplantes, o SUS tem um trabalho excelente.
Não paguei nada, ninguém paga nada hoje. É um serviço democrático: tem gente no mesmo estado (de saúde) que vem de outros Estados.
Lá não tem o prefeito, todo mundo é tratado da mesma forma. É uma cirurgia de certa forma muito comum hoje no Brasil: se faz cerca de 4 mil transplantes por ano no País.
Essa equipe que fez a minha cirurgia já fez 2,5 mil transplantes, também tem uma experiência de pós-operatório muito grande.
Eles têm um protocolo de três meses, que é o período mais crítico, quando a gente toma um número de medicação maior, então as defesas baixam.
No meu caso foi um pouco diferente, porque a compatibilidade do meu irmão (o doador do rim) foi de 100%, então a quantidade de remédios é bem menor.
Mesmo assim você cumpre esse protocolo de pós-cirurgia, tem que voltar toda semana para fazer exames para que o processo corra normalmente.
Mas desde o primeiro momento, clinicamente a cirurgia foi um sucesso, os resultados foram muito bons, e tem a recuperação própria de qualquer cirurgia, independentemente de ser transplante.
JC - O seu organismo respondeu rapidamente?
João da Costa - Já no segundo dia as taxas já estavam entrando na normalidade.
Agora como eu passei 20 anos com um problema renal isso desorganizou todo o meu organismo.
Então quando ele começa a funcionar, ele começa se organizar para o bem, vamos dizer assim. É o período também que eles (a equipe médica) monitoram todos os outros órgãos.
E os resultados que vêm aparecendo vêm até surpreendendo.
Eu tenho um problema de gota, um problema no joelho; então todos os resultados vem apontando para a cura.
Isso era um problema gerado pelos rins, que desencadeou uma série de outros problemas.
Eu tomava uma série de outros remédios para hipertensão; hoje tomo uma dose mínima e a pressão baixa.
Pode ser até que eu saia também disso sem hipertensão.
Isso são coisas muito positivas que têm nos animado muito.
O processo de recuperação é positivo, mas, é como os médicos dizem, isso não uma cura; é um tratamento.
E como qualquer tratamento, você tem que manter uma disciplina, uma rotina, um cuidado, mas certamente com uma qualidade de vida muito maior do que a que eu tinha antes.
JC - Por falar em rotina, como é sua rotina aqui em São Paulo?
O senhor tem algum tipo de restrição, alimentar, por exemplo?
João da Costa - Essa questão da restrição alimentar eu tinha há muito tempo, e nos últimos três anos ela ficou bastante rigorosa.
Foi engraçado, porque após a cirurgia, os médicos me recomendaram comer tudo o que eu não podia antes.
Eu precisava recompor as proteínas, fósforo, ferro.
Então eu estou com uma dieta hoje sem qualquer restrição.
JC - Que restrições o senhor tinha antes?
João da Costa - Eu não podia beber álcool, comer carne vermelha, nos últimos três meses eu fazia uma dieta grande de proteína; eu quase não comia proteína.
Era uma dieta basicamente vegetariana.
Eu já estou acostumado a isso, mas se eu quisesse comer uma picanha ou um filé eu não podia.
Hoje eu posso; mais do que poder, eu fui recomendado a comer tudo isso, que é para recuperar ferro, fósforo.
Meu fósforo baixou um pouco porque meu sistema ósseo passou a funcionar normalmente e ele estava com déficit de fósforo, e isso acelerou o consumo de fósforo.
Esse é um período que uma vez por semana eu faço exames, vou na equipe médica, para monitorar o funcionamento do organismo de forma positiva.
Como ele está funcionando bem, todos os órgãos começam a funcionar normalmente.
Tinha problema de mau hálito; isso acabou.
Então coisas que um organismo intoxicado e não funcionando bem vai gerando, tudo agora começa a se regularizar.
Cada dia eu tenho saído para almoçar, procuro jantar no flat mesmo.
Estou aproveitando a riqueza da gastronomia em São Paulo.
Vou a um restaurante árabe, italiano, português, tailandês e estou conhecendo um pouco da gastronomia.
Tomo café-da-manhã aqui no flat, dou uma caminhada, leio alguma coisa, saio para almoçar. À tarde eu às vezes vou a um shopping, a uma livraria, mas geralmente tiro para a leitura.
Como estou com tempo aqui leio bastante.
Ganhei muitos livros também de presente de quem me visitou.
E à noite aproveito para descansar e dormir mais cedo, porque é um período de recuperação.
Eu não estou de férias aqui, estou me recuperando.
Então tenho que repousar um pouco mais para que o organismo descansado possa ir se recuperando de um processo cirúrgico.
Sempre tem muita me visitando; procuro fazer uma agenda para não me sobrecarregar também.
O governador (Eduardo Campos) veio aqui, ministros, secretários (municipais), pessoal do PT nacional - fui almoçar lá no PT com eles e eles vieram aqui.
E sempre alguém do Recife que está vindo e pergunta se pode me visitar.
JC - Mas o senhor tem recebido ligações para tratar de assuntos administrativos, tem entrado na internet para acompanhar o que acontece na cidade?
João da Costa - Não diariamente, mas Milton (Coelho, o prefeito em exercício) veio aqui duas vezes, a gente tratou de algumas coisas que eu vinha acompanhando e ele precisava de algumas informações até para a gente tomar uma decisão conjunta.
Alguns secretários vieram também.
Porque tinham várias coisas que eu vinha acompanhando há bastante tempo, que estavam sob meu encaminhamento e que eu precisava conversar e repassar. Às vezes dou uma olhada na internet - não todo dia - para acompanhar o ambiente político no Recife, mas de forma muito superficial, porque minha prioridade é cuidar da minha saúde e da minha recuperação.
Agora a gente vai começar um período de descompressão.
Então hoje eu já me envolvi mais, olhei mais as coisas.
Logo após a cirurgia meu envolvimento era zero; eu até disse (à equipe de gestão) não me liguem, não quero saber, e foi no período de segundo turno (presidencial).
Mas, mesmo assim, o pessoal veio aqui e disse: “olha, você tem que ligar para o seu povo lá, botar o povo na rua, ajudar as coisas acontecerem”.
Eu falei, “está bem, vou fazer isso paro”.
Chamei o pessoal aqui (não especificou quem) e pedi: “façam assim e toquem lá, mas eu não quero nem saber”.
Nos primeiros 15 dias eu tomei a decisão de não me envolver.
Porque essa é uma função que, mesmo que você não queira, envolve um estresse.
Eu disse não, até possibilidade de eu voltar bem vai depender da minha recuperação.
Como a gente tem um histórico dessa cirurgia que as pessoas levam uma vida praticamente normal - tem até olimpíadas de transplantado de rim em nível internacional - eu disse: “oh, vou voltar a ter uma vida normal, mas vai depender do que eu fizer no processo de recuperação”.
Hoje estou bem, estou normal, mas sempre identificando o nível de estresse.
Milton está tocando muito bem as coisas e o secretariado foi muito solidário, compreendeu bem as coisas, a cidade vive uma certa normalidade, e o que a gente puder resolver depois, serão resolvidas.
JC - Numa escala de 0 a 100, qual seu envolvimento hoje com os assuntos da gestão?
Costa - Cinco (risos).
Não, veja bem, eu estou licenciado, tem um prefeito em exercício.
A gente nesses dois anos preparou muita coisa, planejou, que estão acontecendo.
Na semana passada, o pessoal foi fechar a questão do PAC 2 em Brasília.
Eu tinha feito todas as reuniões anteriores, tinha discutido quais os projetos, o que tinha para apresentar.
Então foi um fechamento natural de tudo isso.
Hoje estamos em via de licitar a Via Mangue; foram dois anos de trabalho.
Tem muita coisa acontecendo que ia acontecer de qualquer forma.
Meu envolvimento é em algumas coisas que eu tinha conhecimento, ou de alguma decisão que Milton acha que tem que me consultar.
No resto, ele é o prefeito em exercício, temos uma relação de confiança muito grande; então ele está lá, ele decide, encaminha.
Eu não iria me licenciar e o vice-prefeito assumir e eu querer, daqui, exercer o papel dele. É alguma coisa que só eu tenho a informação, ou eu tinha a informação e preciso repassar, algumas coisas que as pessoas me consultam informalmente.
Mas o próprio secretariado tem o cuidado de não ficar me ligando para me trazer problema administrativo.
JC - A decisão de o senhor vir a São Paulo fui apenas para ficar mais próximo da equipe médica ou também para não ficar próximo dos problemas administrativos?
Costa As duas coisas.
A previsão inicial era eu ficar aqui 30 dias.
Depois eu decidi ficar mais tempo.
A equipe que fez o transplante, ela prefere, se possível, acompanhar os três meses. (…) Então conversei com a médica que está me acompanhando, ela acha que se tiver tudo do jeito que vai, é possível que dia 1 (de dezembro) eu esteja de volta, e aí vou concluir o terceiro mês com a equipe (médica) do Recife. (…) JC - Por que o senhor optou por manter em sigilo seu problema de saúde até instantes antes da cirurgia?
Costa - Foi uma decisão minha.
Marília (Bezerra, esposa do prefeito) queria que eu conversasse isso com mais gente.
Mas, por vários motivos, achei que era melhor não divulgar.
Isso ia trazer uma certa apreensão na equipe de governo; ia gerar muita especulação, que iria me trazer um estresse pessoal; tinha a questão da privacidade pessoal, que eu levo muito em conta: a figura pública do prefeito é uma coisa, a figura pessoal é outra - embora que, no Brasil, a vida pessoal termina fazendo parte da sua figura pública, mas eu procuro preservar isso o máximo que posso.
Tinha o próprio processo eleitoral: Milton era o coordenador da campanha de Eduardo.
Se eu coloco esse problema antes, é claro que Milton, que estava focado na eleição, iria estar preocupado para resolver isso também.
Como houve uma conversa com o médico e ele achou que poderia fazer isso pós eleição.
E tinha o próprio processo em si, que as pessoas ainda vêem uma questão como essa, que não é fácil, ainda com muita falta de informação, e isso gera um monte de especulação.
Muitos acham que o cara vai morrer.
Então decidi deixar isso para o último momento: falei na sexta-feira e na segunda já estava fazendo a cirurgia.
Acho que foi a melhor forma.
Mas teve também um processo de amadurecimento para isso aí.
No final me convenci que tinha que tornar isso público, que não tinha como ficar aqui três meses sem isso acontecer.
Depois me convenci que eu, por ser uma figura pública, tratando isso publicamente vai ajudar muita gente que também está nesta situação.
Até mesmo o esclarecimento do que é um transplante - eu voltar depois e ter uma vida normal - vai fazer com que muita gente que tenha o problema veja esse problema com outra perspectiva, e não que está tudo acabado. (….) Já recebi três telefonemas de pessoas com esse problema, querendo saber quem é a equipe, como fazer para vir a São Paulo.
JC - Qual momento o senhor avalia como crítico à saúde?
Costa - Nas últimas três semanas.
Eu não conseguia dormir.
No momento que eu estava na prefeitura trabalhando, acho que a adrenalina é que me acalmava.
Quando chegava em casa, que baixava (a adrenalina), era uma situação difícil.
Então o fato de não dormir, estar no meio da campanha - tanto é que não fui ao comício de Lula com Dilma, mas depois fui às caminhadas, às carreatas, não faltei nada - aquilo era uma situação limite para mim.
Tinha dificuldades, mas era uma forma de não mostrar que tinha o problema até revelá-lo.
E tem também, como qualquer ser humano numa situação dessa, em que você percebe um limite físico, e que vai se submeter a uma cirurgia que tem um risco, não tem como não passar pela cabeça de que pode dar errado.
Isso é uma coisa mexe muito, porque a gente termina fazendo uma revisão da vida, da postura, do que é importante para você, daquilo que importa realmente.
Você começa a perceber que muitas coisas são secundárias, que a gente pode relevar a importância delas. É um momento de solidão muito grande.
JC - E no pós cirurgia, teve algum momento crítico?
Costa - Não teve nenhum momento crítico.
Tem um padrão de nas primeiras 24 horas ficar na UTI.
Então o pessoal veio me visitar e esperava me ver cheio de tubos, mas eu estava conversando com todo mundo.
E eu nem fiquei 24 horas.
Não tive qualquer complicação.
JC - O senhor falou em mudança de foco.
O que mudou no seu foco após passar por esse problema?
Costa - A gente tem a dimensão da finitude da vida.
A gente que milita na política e que exerce uma parcela de poder acha que é eterno, que isso dura para sempre e pode fazer qualquer coisa.
E fica naquele mundo que eu diria um mundo virtual, fugindo dos padrões das relações humanas normais.
Quando a gente viver uma situação como essa, se você não mudar sua perspectiva de ver a vida (…) Sem querer mudar as relações de poder e as que existem na política, mas acho que hoje posso fazê-las numa dimensão diferente, enxergando o que é fundamental e o que é secundário.
Acho que hoje vou fazer isso com muito mais alegria, sem cultivar ressentimentos de nenhuma ordem.
A gente percebe que as coisa não deixam de acontecer porque estou aqui há dois meses - a gente acha que sem a gente nada acontece.
Podemos ter uma relação diferente no próprio exercício do poder, também preservando sua qualidade de vida, sem deixar de priorizar nem de ter compromisso, mas mudando essa relação: os militantes como eu, que vêm da década de 80, que eram fulltime (tempo integral) e a vida era só isso.
Eu acho que posso trazer isso como ensinamento para quem está começando a fazer política. (….) Afora a possibilidade de eu ter muito mais qualidade de vida, que é melhor para pensar, para formular e vendo isso hoje com outra dimensão.
Tudo isso estou maturando nesse tempo de recuperação.
O tempo que estou aqui me fez olhar a gestão de fora, ver o que na gente errou, o tempo que perdeu com determinadas coisas, o que deve ser priorizado daqui para frente.
Estou esse tempo descansando, mas não tenho como me liberar daquilo que foi minha vida nos últimos 30 anos.
JC - Aproveitando sua visão de fora da gestão, tem alguma coisa que foi muito bem e precisa de alguns pequenos ajustes e outras que não foram bem e precisa de uma remodelagem completa?
Costa - Tem tudo isso…
JC - E o senhor pode apontá-las?
Costa - (Risos) Nem voltei ainda ao Recife, Milton está lá exercendo o mandato, seria até deselegante eu falar de algo que pretendo fazer agora.
Até porque uma das coisas que refleti aqui é que a gente precisa conversar muito, fazer as coisas bastante articulada com quem tem compromisso com nosso projeto dentro da cidade.
Estou vendo os resultados do que tem acontecendo no Recife que tem me animado muito.
O Recife desde agosto deste ano está entre as cidades que mais tem gerado emprego.
Isso é uma realidade nova.
Nos últimos quatro meses se gerou mais de 4 mil empregos na cidade, o dobro de Ipojuca; e a gente sempre vem achando que os empregos estão em Ipojuca.
Isso mostra que o Recife pode ser a grande beneficiária do crescimento econômico do Estado, do ponto de vista de geração de emprego.
Não vou entrar aqui no mérito da qualidade do emprego e da remuneração, porque a gente não tem esses estudos.
Mas, do ponto de vista de números, é significativo que o Recife esteja entre as cinco cidades brasileiras que mais geram empregos.
E tem outro dado interessante: Recife tem ficado entre as cidades brasileiras que o aumento rela dos salários e da renda mais tem crescido. (…) Essa oportunidade a gente tem que pegar para mudar o perfil social do Recife: diminuir a desigualdade de renda, romper com a miséria secular que existe na cidade e com a pobreza extrema, que faz parte do cotidiano de milhões de moradores; aproveitar o desejo da presidente Dilma de erradicar a miséria e a pobreza em seu mandato, para trabalhar junto com o governo federal.
Como atacar isso?
Pode ser pelas obras do PAC, mas acho que hoje tem duas ações complementares: profissionalização da juventude e a forma de pessoas com mais de 40 anos recomeçarem.
Temos um trabalho intenso neste sentido em parceria com o governo do Estado, a iniciativa privada; aproveitar o momento para mudar o perfil da cidade.
Quero muito trabalhar isso nos próximos dois anos.
JC - É seu último biênio do mandato.
O que o senhor projeta para o final dele, além da valoração da juventude e das pessoas acima dos 40 anos?
Costa - Eu vejo que a gente tem dois eixos fundamentais para os próximos dois anos: um preparar a infraestrutura da cidade para o novo momento econômico que o Estado vive e para a Copa (do Mundo de 2014).
A maturação do crescimento econômico de Pernambuco vai se dá nos próximos quatro anos; nos próximos 10 anos podemos dobrar o PIB de Pernambuco.
Então uma questão grave hoje é a mobilidade dentro da cidade.
Então precisa melhorar a eficiência da CTTU, entra aí a Via Mangue, o Capibaribe Melhor, entram outras obras como a (ampliação da rua) Arquiteto Luiz Nunes (Imbiribeira, paralela à Avenida Mascarenhas de Moraes); a obra que vamos começar agora ligando a (Avenida) Abdias de Carvalho à Caxangá por dentro de Roda de Fogo.
E os corredores de transporte coletivo, que estão sendo viabilizados pelo Estado, mas que serão feitos no Recife. É o corredor Norte-Sul, é o Leste-Oeste, é a revitalização da Avenida Norte e a ligação do Recife com a cidade da Copa.
Essas obras estão sob o comando do governo do Estado, mas estão sendo discutidas conosco.
A outra questão é a ambiental, que não só ampliar o número de parques, como a gente vai fazer.
Vamos iniciar agora, dentro do Capibaribe Melhor, a licitação de três parques e a recuperação de Santana, Caiara e de Apipulcos e vamos avançar bastante na questão do Parque da Tamarineira, e para o Parque do Jiquiá já temos assegurado financiamento pelo Ministério da Ciência e Tecnologia para a gente implantar um centro de vocação profissional e um museu da Ciência e Tecnologia com a questão do Zepelin.
Então esses cinco parques devem ser estruturados nesses dois anos.
Mas a principal questão ambiental do Recife é o saneamento, vital para a cidade.
Hoje a gente está com o Prometrópole, com o PAC Beberibe, com o PAC Caxangá e devemos ter aí cerca de R$ 300 milhões a R$ 400 milhões para obras de saneamento.
Então podemos ter ao final desse projetos todos, com quase R$ 1 bilhão, além de outros projetos que estão a cargo do governo do Estado, da Compesa, a gente avança para sanear em torno de 60% da cidade; hoje é cerca de 37%.
Além fazer desse recolhimento do esgoto, fazer também o tratamento.
Estamos fazendo uma estação de tratamento em Peixinhos e na Caxangá.
O Estado deve recuperar a estação de tratamento do Cabanga; só aí são três estações.
Então dentro da infraestrutura, a questão da mobilidade, a ambiental e a recuperação do Centro do Recife são três questões que vamos priorizar dentro dos três anos.
A recuperação do Centro é fundamental para esse novo momento da cidade; você tem muitos imóveis vazios, com o Recife Nosso Centro.
A outra é questão social; acho o Recife precisa de no mínimo mais seis escolas técnicas, uma em cada região da cidade (…) uma luta que pretendo encampar nesses próximos dois anos para viabilizá-las. (…) JC - O senhor citou uma série de obras que demandam tempo, e há algumas hoje na cidade em curso que estão pendentes gerando queixas, caso da duplicação do Viaduto Capitão Temudo.
Dá para viabilizá-las em dois anos?
Costa - A crítica ao Capitão Temudo é infundada.
Veja bem, eu não posso como prefeito de uma cidade como o Recife ter uma visão limitada da cidade.
Eu tenho que pensar a cidade segundo um horizonte do que eu penso que devo fazer para ela.
Tem obra que vai começar agora e só vai terminar em um segundo mandato meu, ou no mandato de outra pessoa, espero que seja no segundo meu.
Mas ela é uma obra fundamental da cidade.
Se o presidente Lula pensasse assim não teria começado a ferrovia Transnordestina - “ora, não vou terminar no meu mandato, então não começo (a hidroelétrica) Belo Monte, não começo o trem-bala, não começo nada”.
A gente não pode pensar assim, Brasil tem que pensar política de forma diferente. (….) À medida que a sociedade vai amadurecendo, ela vai percebendo que determinada obra não é importante para o governo João da Costa; é importante para a cidade. (…) Eu tenho que mostrar à cidade que eu tenho visão estratégica e fui atrás dos recursos, que viabilizei o projeto que vai começar e tem prazo para acabar (…) JC - Desse projetos todos que o senhor citou, o que pode acabar em dois anos?
Costa - Tem alguns que podem acabar em dois anos.
A Via Mangue não acaba em dois anos; é uma obra de três anos ou três anos e meio.
Mas quando chegar a Copa ela vai estar pronta.
Os corredores viários a mesma coisa.
Os parques têm prazo de 18 meses.
Começando este ano podem ficar pronto no período eleitoral (2012).
O pessoal fica cobrando o Capitão Temudo; a obra começou no final do primeiro semestre da minha gestão, então tem cerca de um ano de meio.
Em nenhum lugar uma obra daquela dimensão se acaba em menos de dois anos.
Agora, como ela foi licitada no final do governo João Paulo e as pessoas ficam cobrando de mim uma celeridade porque não podem dizer que não estou fazendo.
Então só sobre dizer que não está andando.
O Parque Dona Lindu também.
As pessoas compram um apartamento na planta e recebem em quatro anos; aí você uma obra daquelas com teatro, com salão de exposição em menos de dois anos dizendo que está atrasado.
Aí eu digo quando encontro esses jornalistas: “quando você compra um apartamento na planta tu não recebes em dois anos”.
Então é uma obra civil, chove, tem problema.
Então tudo está dentro de uma normalidade de quem está estruturando a cidade.
Ninguém diz: “não se deve investir no Capitão Temudo”, e fica se apegando ao tempo.
Depois que ele estiver inaugurado com benefício à população isso acaba.
Passei dois anos viabilizando recursos para essas obras na cidade, se articulando em Brasília.
A gente teve muita solidariedade, do governo Eduardo Campos, para ajudar nisso tudo.
Agora chegou a hora de colher os frutos, que não é só para minha gestão, é para a cidade.
JC - A preparação desse projetos é o que o senhor destaca como positivo na sua gestão?
Costa - A captação de recursos e a elaboração desses projetos foram importantes.
Criei as secretarias de Gestão e Planejamento, de Meio Ambiente, de Juventude e a Controladoria para buscar a melhoria da gestão.
Pegamos dois anos de osso duro nas finanças, é preciso ser dito isto. (…) E nós não deixamos de realizar nada.
Pelo contrário, lançamos quase R$ 200 milhões em obras do Orçamento Participativo, tocamos o Capitão Temudo, o Dona Lindu, a reforma da orla (Boa Viagem), a Arquiteto Luiz Nunes, fizemos uma dezena de obras importantes na cidade e fomos atrás de viabilizar projetos na cidade. (…) JC - O senhor reconheceu que há problemas na CTTU.
O que há de errado com o órgão?
Costa - É uma questão complexa.
Evidente que eu reconheço que a CTTU tem que melhorar muito seus serviços.
Mas a questão vai além disso.
A economia cresceu muito puxada pela industria automobilística, pelo crédito.
Então dobrou o número de frota (de carros e motos) sem melhorar as condições do transporte público de passageiros e sem crescer na mesma velocidade estruturas de mobilidade de suportasse essa frota toda.
Então a gente tem que melhorar a CTTU para gerenciar isso.
Aumentou a frota e não aumentamos o número de agentes de trânsito; isso precisa ser feito.
Precisa melhorar eficiência tecnológica da gestão de trânsito, de gerenciamento de sinalização da cidade, de identificar pontos críticos; isso envolve tecnologia, dinheiro e repensar a gestão da CTTU para esse novo momento. (…) Fizemos uma mudança, que dei posse um dia antes de anunciar que faria a cirurgia (à nova presidente do órgão, a engenheira Maria Pompéia, em substituição a Carlos Padilha).
Na minha volta agora isso será uma prioridade, mas isso vai envolver recursos, para contratar mais agentes de trânsito, para mudar tecnologia da gestão do trânsito.
JC - O senhor pensa em algumas medidas mais concretas para melhorar a mobilidade?
Costa - Tem algumas medidas que precisamos discutir, como por exemplo a restrição do desembarque do transporte de cargas em alguns corredores na cidade precisa ser regulamentado urgentemente.
Hoje eu estava acompanhando o JC Online e estava lá: “caminhão descarregando na Avenida Recife, trânsito lento”.
Essa é uma avenida que durante a semana, das 7h às 17h talvez não caiba mais esse tipo de coisa.
Então, assim que voltar, vou conversar com o sindicato das empresas transportadoras de carga para a gente pactuar isso.
A questão do acesso a estacionamento nós precisamos discutir isso.
A questão do concurso dos agentes da CTTU é uma questão que precisamos tomar imediatamente, em janeiro, para dar tempo realizar o concurso.
A modernização do gerenciamento da sinalização é uma decisão que envolve investimentos.
E a própria gestão cotidiana do trânsito: a gente sabe os pontos críticos; e a gente tem que atuar de forma imediata, mesmo com o padrão que temos hoje. (…) Uma questão central é melhorar o transporte público, da integração metrô ônibus.
JC - O senhor pensa em mudar sua equipe para o final do mandato?
Costa - Equipe é como time de futebol: precisa se fazer ajustes quando necessário para o time continuar ganhando.
Evidente que quando se tem mais dois anos e aproveitando o período de tempo que estive aqui pensando sobre tudo que aconteceu lá a possibilidade mudança sempre existe.
Mas isso só será feito se for necessário.
JC - A mudança seria por contingência política ou administrativa?
Costa - No governo são sempre as duas.
Nós vamos entrar num período político de definições também.
Nós temos dois momentos, o de consolidação do governo é esse agora de 2011 e 2012 com a sucessão, e essas coisas têm que estar articuladas.
JC - O senhor já está pensado na sua sucessão?
Costa - 2011 é o ano de eu consolidar o governo.
Aliás, não só meu governo; 2011 é decisivo a curto prazo para os destinos do Brasil. É o ano para trabalhar muito, aqueles que ajudaram a eleger Dilma, a montar a governabilidade.
Eu tenho um papel a cumprir nisso, sem superestimar, mas também sem subestimar. É um ano fundamental para a transição do governo Lula ao governo Dilma e garantir a governabilidade dos quatro anos do governo dela.
Nós temos um momento em que a crise de 2008 mostra que a recuperação internacional vai levar um tempo mais longo que se imaginou. (…) Temos um conjunto de projetos que vão amadurecer agora.
Então não cabe em 2011 está discutindo a sucessão de 2012.
O nosso campo político, desde 2000, e isso fez com o quê tivéssemos sucesso de lá para cá, sempre o governador ou o prefeito do Recife coordenou sua sucessão.
Acho que não vai ser diferente em 2012.
E isso eu só vou tratar em 2012; 2011 é ajudar com a governabilidade do governo Dilma, com as mudanças que estão acontecendo em Pernambuco e a gente consolidar, dentro de uma agenda positiva de governo, um projeto que há 10 anos vem sendo tocado no Recife.
JC - Mas, afinal, o senhor é candidato à reeleição?
Costa - Hoje mais do que era antes, porque hoje estou com saúde, disposto, animado, voltando com outra perspectiva completamente diferente.
Esses dois daqui para frente serão completamente diferentes dos dois que passaram.
Volto mais animado porque já fiz o trabalho e o que a gente tem para consolidar é um trabalho positivo e não teria motivo de eu poder ser candidato à reeleição e não ser.
Então eu vou me colocar para o meu partido, para as forças que compõem o nosso campo, mas não agora; isso é coisa para 2012.
A coordenação da sucessão vai caber a mim, no momento certo vou colocar aos aliados minha posição.
JC - Na questão da mudança do secretariado, o senhor pode fazer mudanças levando em conta o novo ministério do governo Dilma e até o novo secretariado do governo Eduardo Campos?
Costa -É evidente que, às vezes, tem determinado secretário e determinado ministro que você construiu relações, que podem continuar nos governos em funções diferentes, e tudo isso você leva em conta na hora de montar a equipe, para facilitar.
Hoje, por exemplo, temos uma relação muito boa com o ministro das Relações Institucionais (Alexandre Padilha), e com toda a equipe, mas cogita-se dele ir ao ministério da Saúde.
Mas essa não é a questão; a questão é a gente ajustar o governo para as tarefas que a gente tem: em 2011 mais da consolidação do governo, da questão administrativa, e em 2012 do projeto político.
Vai mais por esses objetivos.
Agora a gente tem que levar em conta a composição do governo do Estado e do governo federal.
Mas a gente só vai se pensar (em mudança no secretariado municipal) quando isso estiver resolvido.
JC - De que forma que o senhor pode contribuir para ajudar Dilma e assegurar a governabilidade, distender essa relação PT-PMDB, por exemplo?
Costa - Esse período que tem que ter muito diálogo e muita responsabilidade com o projeto.
Evidente que a trajetória de Dilma é diferente da de Lula e isso traz consequência para o campo da disputa política.
Agora o Brasil vem crescendo e com possibilidade de consolidar seu crescimento econômico. (…) Isso vai requerer dos agentes políticos muito responsabilidade, maturidade, conversa, sem abrir mão do espaço que conquistou.
O PT cresceu, conquistou a maior bancada no Congresso, foi o principal avalista do sucesso de Lula, sem menosprezar a participação dos aliados.
Alguns aliados também cresceram, caso do PSB.
Então tudo isso vai se refletir numa nova coalizão de forças de um governo de coalizão. (….) Acho que tenho um papel.
Nesses dois anos construímos um espaço mínimo em nível nacional, na Frente Nacional de Prefeitos, na relação com ministros.
Hoje tenho uma relação com a direção nacional do partido diferente da que tinha há dois anos.
Sou um dos seis prefeitos de capitais brasileiras do PT.
Então a gente tem sempre um papel a desempenhar, seja lá no Estado, seja em nível nacional pelas relações que vai construindo.
Evidentemente que em 2012 vamos ter eleições e isso vai ter um peso na correlação de forças do governo Dilma, e certamente tudo isso vai ser pesado.
JC - O senhor tem problemas de relacionamento com correligionários que lhe eram próximos (ele e o ex-prefeito João Paulo, que bancou sua candidatura em 2008, estão rompidos).
Um sintoma disso aconteceu semana passada.
O presidente da Câmara do Recife, Múcio Magalhães (do grupo liderado por João Paulo), apresentou emendas ao Orçamento para pagamento de reajuste aos servidores, afirmando que a proposta da prefeitura não contemplava aumento salarial.
I isso expôs o governo.
Como anda essa relação hoje?
Costa - Do meu ponto de vista, eu não mudei nada.
O projeto que estou tocando na prefeitura não tem nenhuma diferença política do que vinha sendo feito nos últimos oito anos do ponto de prioridades estratégicas, de relacionamento político.
A composição do governo é mesma há dois anos.
Então onde está a diferença? É um governo que contemplou todos os aliados, todas as forças do PT, inclusive o companheiro Múcio: todos os cargos por ele indicados permanecem no governo.
Então não cabe a mim explicar a diferença.
Essa questão do orçamento é inusitada: nenhum orçamento trata de reajuste, a não ser no governo federal quando se discute salário mínimo - é salário mínimo e não percentual de reajuste de servidor.
O Orçamento traça uma previsão; não tem como levar à Câmara quanto vai ser de reajuste, porque só é possível ver percentuais quando, chega março, abril, a gente vê a arrecadação.
Nesses últimos dois anos, demos reajustes significativos a diversos servidores.
Acho que o vereador Múcio tem todo o direito de lidar bem com suas bases, mas não necessariamente propondo essas emendas. (…) Ele foi secretário de governo durante oito anos e atuou para que essas coisas não acontecessem; agora quem tem que explicar a mudança é ele.
JC - Sobre sua sucessão, já houve declarações de pessoas do grupo petista liderado pelo senador eleito Humberto Costa, e até dele mesmo, defendendo o senhor como candidato natural à reeleição.
Mas o grupo ao qual o senhor pertencia (liderado por João Paulo) silencia sobre o assunto.
O senhor acha que pode surgir daí uma resistência à sua candidatura?
Costa - Não vou ser candidato de mim mesmo.
Serei candidato de um projeto.
Não vou fazer esse debate em 2011 de maneira alguma, só em 2012.
No momento adequado aí nós vamos discutir com os aliados, com o PT.
E em 2012 eu vou defender um projeto que vem dando certo de um campo político, que no Recife é comandado pelo PT. É a partir desse patamar que vamos discutir.
Acho que não é o momento agora dessa discussão.
Como diz o ditado popular, “quem come apressado come cru”. É hora agora de cozinhar o pirão para a gente comer direitinho em 2012.