Claudio Dantas Sequeira, na Istoé Ao ser eleito em 2002, o presidente Lula realizou um giro pelo continente que teve como primeiro destino os Estados Unidos.

Lula tinha aceitado prontamente o convite de George W.

Bush, inaugurando um novo e bom momento das relações bilaterais.

Há duas semanas, Barack Obama repetiu o gesto.

Convidou a presidente eleita Dilma Rousseff a visitar Washington antes de sua posse.

A ideia é retomar com Dilma uma parceria que andou negligenciada nos últimos anos.

Porém, até agora Dilma não respondeu nem agradeceu o convite.

O tema também não entrou na agenda do Itamaraty ou da equipe de transição. “Há um problema de natureza prática”, diz o assessor internacional da Presidência, Marco Aurélio Garcia. “O fato de ter havido segundo turno encurtou o tempo da transição”, alega.

Dilma já deixou claro a assessores que só pisará no Salão Oval após a posse.

Também quer que Obama venha primeiro ao Brasil, afinal, o presidente americano está devendo uma visita desde o ano passado.

Ele chegou a enviar a secretária de Estado, Hillary Clinton, para preparar o terreno.

Mas a agenda acabou cancelada depois de um embate público entre o chanceler Celso Amorim e Hillary, que classificou o governo brasileiro de “ingênuo” por apoiar o programa nuclear do Irã.

A verdade é que a relação bilateral já vinha se esgarçando, com divergências que ficaram evidentes no golpe em Honduras e em contenciosos comerciais.

Há pouco os dois países se enfrentaram no G20 por causa da desvalorização do dólar.

O embaixador aposentado Rubens Barbosa, que ajudou a organizar a viagem de Lula em 2002, afirma que Dilma assume o País numa situação muito mais confortável do que a do seu antecessor. “Ela não precisa acalmar os mercados como Lula, não precisa explicar nada.

A economia foi estabilizada e a inflação está sob controle”, afirma.

Barbosa pondera que dar ênfase à relação com os países emergentes não deveria significar a exclusão dos poderosos. “Os EUA continuam sendo o maior mercado consumidor.

Não se pode desprezar isso”, alerta.

Garcia, muitas vezes acusado de antiamericanismo, é intransigente na defesa da independência da política externa. “As pessoas têm de pôr na cabeça que boas relações não significa ficar dizendo ‘sim, senhor’ a qualquer coisa que digam ou façam as grandes potências”, afirma Garcia.

O governo americano tem evitado criticar publicamente a diplomacia brasileira, como, há uma semana, quando o Brasil se absteve de votar em resoluções contra o Irã e Mianmar por violação dos direitos humanos. “A estratégia americana é de ‘ente cordiale’, uma reaproximação cautelosa em diferentes frentes”, explica o analista de segurança nacional Salvador Raza, brasileiro que integra a equipe de consultores do governo Obama para a política externa.

O nó das relações, segundo Raza, está na diplomacia. “O Itamaraty tem adotado uma postura ambígua que cria irritação no Departamento de Estado”, afirma o analista.