Manoel Medeiros Neto, do Jornal do Commercio Ao mesmo tempo em que a PCR se articula para fazer de 2011 o tempo da guinada na avaliação da gestão João da Costa, o presidente da Câmara do Recife, Múcio Magalhães (PT), ex-aliado de Costa, inaugura o debate da sucessão municipal.

Nesta entrevista ao JC, Múcio alerta a Frente Popular para a necessidade de rever o quadro político na capital.

Para o fiel escudeiro do ex-prefeito João Paulo, o PT está em “sérias dificuldades” e a oposição tende a se aproveitar da crise.

JORNAL DO COMMERCIO – Qual a previsão que o senhor faz sobre o comportamento da bancada governista na Câmara do Recife, em especial do PT, nesse próximo biênio (2011/2012)?

MÚCIO MAGALHÃES – Eu acho que vão ser dois anos de muito debate, porque todas as forças de Pernambuco estão se reposicionando.

Umas porque cresceram, estão mais fortes, outras porque estão sem espaço praticamente nenhum e precisam conquistar algum lugar de importância, e a capital é o mais importante abaixo do próprio governo estadual.

Então vai ser um biênio muito duro, muito polemizado, com vários agentes políticos interferindo.

JC – Como fica o PT nessa conjuntura?

MÚCIO – O PT tem de encontrar o ponto de convergência para uma saída que permita entrar na disputa com força.

Na situação em que o PT se encontra hoje, está em sérias dificuldades.

O nível de racha interno é profundo, a forma como se tratam essas divergências nem sempre ajudam.

Não sei como, mas o partido e as suas lideranças precisam encontrar o caminho da unidade.

Um ponto de unidade que dê condições ao partido de continuar nessa disputa.

Do jeito que está, prevejo dias de muitas dificuldades para o PT.

JC – Quais são esses problemas?

A quantidade de pré-candidatos da própria Frente?

Já se fala nas tentativas de eleição do atual prefeito (João da Costa), de João Paulo, de Mauricio Rands e até de um candidato do PSB…

MÚCIO – Todo mundo vai entrar na disputa de 2012 com soluções unificadas, partidárias ou em torno de alguma liderança e o PT com várias lideranças, cada uma dizendo uma coisa.

A sua pergunta já confirma o que eu temo.

Numa conjuntura onde os próprios aliados, internos e externos, já começam a avaliar várias possibilidades de disputar a Prefeitura, é sinal de que hoje nós (PT) não somos o polo que aglutina todo o campo aliado.

Quando disputamos a reeleição de João Paulo, tínhamos uma frente de 14 partidos.

A avaliação da gestão era tão forte que conseguiu polarizar todo mundo e estar junto, da mesma forma como foi na eleição de João da Costa, que a frente era maior ainda.

Talvez o momento do ápice do PT como polo aglutinador foi a eleição de João da Costa, tanto que permitiu a eleição dele, com o PSB de vice, que antes tinha se retirado.

Será que nós temos as mesmas condições hoje?

Na hora que se começam essas articulações de bastidores não será um sinal amarelo que está sendo aceso para que as pessoas pensem, vejam que a situação não é tão confortável como foi em 2008 para que haja algum tipo de movimento que permita de uma forma racional identificar as ameaças, identificar nomes de dentro do PT ou de fora do PT que sejam capazes de aglutinar e garantir essa continuidade das forças de esquerda à frente da Prefeitura?

JC – Quais seriam as soluções?

MÚCIO – Tudo isso são cenários, discussões, nenhum deles é fácil.

Não tem solução fácil numa situação como essa e a gente vai ter que discutir muita coisa porque nós temos dois anos de gestão ainda para frente e tudo pode acontecer.

Todo mundo acha que por conta da última pesquisa Datafolha, que deu um nível de aprovação muito baixo da gestão (na época, 30% dos recifenses aprovavam a administração atual contra 31% que classificavam a gestão como ruim ou péssima)…

Sinais como esse animam muita gente que acha que chegou a hora da discussão de um novo nome.

Tinha um jornal hoje (quinta, 25) que perguntava: será que os aliados vão querer uma quarta gestão do PT?

Por que floresce tanta especulação num momento como esse?

Eu acho que a baixa popularidade da gestão tem a ver, mas não só isso.

A própria condição do PT querer disputar o quarto mandato também já é uma situação…

JC – O senhor acha que esse retorno do prefeito, em franca recuperação de saúde, será uma oportunidade dele conquistar a popularidade que não conquistou até aqui?

MÚCIO – Eu não sei, porque se eu achasse que era simplesmente isso então eu vou responsabilizar problemas de saúde do prefeito ao resultado que saiu na pesquisa (Datafolha, publicada no dia 27 de julho de 2010).

Aí eu acho que seria rebaixar muito uma análise política.

Resolvido o problema de saúde pessoal, resolve o problema da Prefeitura?

Não sei, eu acho que eu não tenho intimidade suficiente para saber se era a doença que estava levando a isso.

O que eu acho é que sem ter uma discussão política que reunifique o partido, sem transformar o PT num polo de atração das demais forças, não vai haver, na minha opinião, as condições objetivas para que a sucessão seja como foi em 2008.

Sem ter isso, tudo pode acontecer, tudo, inclusive surgir candidatos de oposição com muita força e a Prefeitura passar para as mãos da oposição.

JC – Mesmo enfraquecida, a oposição enxerga nessa eleição de 2012 a chance mais factível de retomar o poder…

MÚCIO – É a chance da oposição, exatamente.

JC – Em relação à bancada governista na Câmara, grande em número, mas sem muitos vereadores ligados diretamente ao prefeito, qual a perspectiva?

A presença de muitos líderes comunitários sem grandes tradições políticas pode colocar o prefeito numa situação difícil?

MÚCIO - Eu ainda digo o seguinte, com toda a certeza: se tem um partido que o prefeito pode confiar é o PT, independente da opinião política de cada vereador petista sobre a gestão.

Se for feita uma análise séria sobre esses dois últimos anos, vai se ver que, por exemplo eu, vai se ver o esforço que fiz para a aprovação de todos os projetos da Prefeitura aqui.

Não foi brincadeira e qualquer um pode testemunhar isso.

Então o esforço que nós fizemos para ajudar essa gestão foi muito grande e todo mundo sabe da opinião política que eu tenho não só em relação à gestão, mas ao grupo político do prefeito.

Agora o nível de solidez das relações que são estabelecidas depende muito de quem dirige o processo, e quem dirige o processo é a gestão.

A gestão é que tem que ter capacidade de ter laços com todos esses partidos, grandes ou pequenos, de modo que tenha solidez nessa relação.

A responsabilidade de ter uma relação mais sólida aqui dentro da Casa é da gestão.

Eu não responsabilizo os vereadores não.

JC – Desde a instalação desta legislatura, em 2009, os vereadores reclamam bastante de não serem ouvidos pela Prefeitura.

De que forma isso se deu até aqui?

MÚCIO – A gestão tem que agradecer muito a todos, independentemente de ser de partido grande, pequeno ou médio.

Apesar dessa relação ser tão questionada, eles reclamarem tanto, qual foi a vez que a bancada faltou à Prefeitura?

Porque você podia dizer que eles votaram porque estão cheios de favores, cheios de empregos…

Eles dizem que não têm isso e votaram.

No geral, todos corresponderam a uma aliança que fizeram com a gestão.

A gestão não pode reclamar dessa bancada aqui.

JC – Uma reviravolta na conjuntura política da Câmara seria previsível?

MÚCIO – Essas coisas são muito sutis, mas eu acredito que não.

Quem já passou dois anos reclamando que a relação não é boa e mesmo assim continuou apoiando, qual o motivo que teria para chegar na reta final e mudar?

A não ser que aconteça a velha figura do barco afundando.

Alguém entende que o barco está afundando, não teve nenhuma reciprocidade do apoio que deu até agora e diz: ‘Bom, se não me tratar como eu tratei, vou pular do barco’.

Pode acontecer.

JC – O senhor disse que todo mundo sabe qual é sua opinião sobre o grupo político que hoje comanda a PCR.

Qual é?

MÚCIO – Eu acho que o grupo que hoje dirige a gestão precisa separar algumas coisas.

Por exemplo, a forma como as divergências são tratadas comigo.

Eu acho que extrapola os limites da racionalidade da boa convivência política. É uma coisa unilateral porque eu não respondo da mesma maneira.

No dia a dia não sou chamado para conversar, para ter um diálogo sobre alguma questão que pode envolver uma polêmica.

Eu estou terminando meu mandato de presidente e raríssimas vezes alguém da Prefeitura ligou para mim.

Ora, eu fui acostumado numa gestão onde eu via o prefeito João Paulo ligar praticamente todos os dias para o então presidente da Câmara para saber como estavam as coisas, o que podia resolver, dialogar.

Comigo não aconteceu isso. É uma coisa clara de que uma divergência política está sendo levada para outros campos.

JC – Além da relação institucional, de que forma esses problemas também refletem no PT?

MÚCIO – Nós tivemos pessoas que disputaram presidências de zonais no PED (em novembro de 2009 o PT promoveu o seu Processo de Eleições Diretas) que se colocaram como candidatos do OP (Orçamento Participativo).

Eu pergunto: o que é o OP?

Uma organização política ou um programa, uma concepção de governo?

No entanto, as pessoas foram lá e se utilizaram do fato de ter ligação inclusive profissional com o OP para disputar voto na base de filiados do partido.

Há uma mistura de coisas que jamais deveria ter acontecido.

E agora, quando o debate da sucessão vai começar pra valer, esses erros vão cobrar o seu preço.

Defendo que sejam criados espaços de diálogo na Frente (Popular) para pensarmos a situação e as saídas.

Estou à disposição.