Flávia Marreiro, na Folha de São Paulo Na campanha para eleger o presidente do Haiti, no domingo (28), os principais candidatos reservaram tempo na agenda para duas visitas estratégicas: uma, à poderosa diáspora haitiana vivendo nos EUA e no Canadá.
A segunda, à Embaixada do Brasil em Porto Príncipe. É algo sintomático de um país onde o núcleo de poder não está no Estado, mas em grande parte na Minustah, a missão da ONU (Organização das Nações Unidas) que está no país desde 2004.
O Brasil tem o comando e o maior contingente da força.
Também são importantes as ONGs, que têm nos emigrantes para os EUA uma fonte de financiamento.
Na mais recente visita do chanceler brasileiro, Celso Amorim, ao Haiti, em setembro, o ministro encontrou cinco dos 19 candidatos a presidente – a pedido deles.
Anteontem, o embaixador brasileiro em Porto Príncipe, Igor Kipman, jantou com Charles Baker, veterano candidato e um dos principais industriais do pais.
Baker aparece em quarto lugar nas pesquisas.
INFLUÊNCIA Kipman considera natural a movimentação em torno do Brasil, fiador da missão da ONU.
Rejeita a palavra ingerência, mas admite “influência” no processo.
Michel Soukar, o mais influente jornalista e analista político do pais, critica tanto os EUA como o Brasil pelo que ele considera tolerância com o frágil esquema de controle eleitoral. “Estão preparando já a fraude.
O presidente René Préval não está se preparando para deixar o poder”.
Ao ser questionado se avaliava que o Brasil tinha preferências na corrida, ele respondeu com uma provocação: “O Brasil é mais parceiro de Préval do que do Haiti”.