A elaboração de suco de uva é a nova alternativa de renda para os produtores do Vale do São Francisco, no Nordeste brasileiro, que hoje enfrentam problemas com a desvalorização do dólar, a irregularidade das chuvas e o aumento do custo da produção de uvas de mesa.

Para dar suporte a essa mudança, pesquisadores da Embrapa Semiárido (Petrolina – PE) e da Embrapa Uva e Vinho (Bento Gonçalves – RS) estão desenvolvendo métodos para elaborar o suco de uva a partir de processos industriais mais rápidos e durante o ano inteiro.

De acordo com o pesquisador na área de enologia Giuliano Elias Pereira, da Embrapa Uva e Vinho/Semiárido, o suco de uva permite um retorno financeiro mais rápido para o produtor. “Enquanto o vinho precisa esperar todo o processo fermentativo e de estabilização, que dura para os vinhos mais rápidos no mínimo 50 a 60 dias, para os vinhos jovens, podendo chegar a até 2 anos para os vinhos de guarda, o suco é elaborado e está pronto para o consumidor em cerca de quatro ou cinco horas após o recebimento da uva", destaca.

Mesmo sendo experimental, o processo de elaboração de sucos tropicais já atraiu a atenção de pequenos, médios e grandes produtores da região, que poderão utilizar o espaço e os equipamentos da Embrapa Semiárido para processar o suco. “A idéia é realizar pesquisas científicas e ao mesmo tempo prestar serviços em parceria com os pequenos, médios e grandes proprietários.

A ideia é mostrar que, se organizados, eles poderão trabalhar em sistema de associação ou cooperativa”, enfatiza Pereira.

Para montar esse espaço de processamento do suco de uva, será necessário um investimento de pelo menos R$ 300 mil em equipamentos e instalações, o suficiente para produzir cerca de 1,5 mil litros por dia.

Cultivares - O pesquisador da Embrapa explica que a elaboração de suco poderá ocorrer o ano inteiro devido ao fato de as variedades de uva utilizadas na região, Vitis labrusca, serem mais tolerantes à chuva que as uvas Vitis vinifera L., usadas para uva de mesa e para a elaboração de vinhos finos.

Atualmente, as principais cultivares utilizadas para a produção de suco no Vale do Submédio São Francisco são a Isabel Precoce, BRS Cora e a BRS Rúbea, desenvolvidas pela Embrapa Uva e Vinho (Bento Gonçalves – RS).

Outras variedades, como a BRS Carmem e a BRS Violeta, têm apresentado resultados promissores na região e também serão avaliadas.

A cultivar mais plantada pelos produtores locais é a Isabel Precoce, que apresenta as características gerais da cultivar Isabel, porém com maturação antecipada em cerca de 33 dias.

Ela apresenta relativa susceptibilidade ao míldio da videira (Plasmopara viticola), à requeima (Alternaria sp) e à ferrugem (Phakopsora euvitis), mas comporta-se bem em relação à antracnose (Elsinoe ampelina) e ao oídio (Uncinula necator).

Com produtividade na faixa de 25 a 30 t/ha, o mosto da Isabel Precoce apresenta 18° a 20° Brix e coloração mais intensa do que a coloração de sua forma original.

A BRS Cora, também muito utilizada pelos produtores da região, é altamente fértil, normalmente com mais de dois cachos por broto, o que determina um alto potencial produtivo. É uma variedade de ciclo médio, entre 130 e 140 dias em regiões tropicais, dependendo da época do ano.

Em plena maturação, apresenta agradável sabor, típico das labruscas, e mosto intensamente colorido, com teor de açúcar entre 18° e 20° Brix e pH na faixa de 3,45.

O controle de míldio, ferrugem e requeima deve ser preventivo, tendo em conta sua relativa susceptibilidade.

Já a BRS Rúbea apresenta intensa cor violácea e características de aroma e sabor de alta qualidade para suco de uva. É uma cultivar vigorosa, medianamente produtiva e resistente às principais doenças fúngicas, como antracnose, míldio, oídio e podridões do cacho.

Sua principal qualidade é a intensa coloração do mosto, que contribui para a melhoria de qualidade de vinhos e sucos elaborados com outras uvas.

A BRS Violeta, por sua vez, é uma cultivar híbrida complexa que apresenta as características gerais das uvas labruscas.

Apresenta vigor moderado e hábito de crescimento determinado, naturalmente interrompido antes do início de maturação da uva.

Adapta-se bem tanto ao Sul, sob condições de clima temperado e subtropical, como em regiões tropicais. É uma cultivar precoce e de alta fertilidade, normalmente com dois cachos por broto.

Em condições normais de cultivo atinge 25 t a 30 t/ha de uvas com 19° a 21°Brix, dependendo das condições climáticas de cada safra.

No caso da BRS Carmem, trata-se de uma cultivar vigorosa e de ciclo tardio, com exuberante desenvolvimento vegetativo, característica que facilita a formação das plantas no ano do plantio.

Apresenta alta fertilidade de gemas, normalmente com dois cachos por ramo.

A cultivar apresenta boa resistência ao míldio, ao oídio e à podridão cinzenta do cacho (Botrytis cinerea).

Em plena maturação, apresenta sabor agradável, com teor de açúcar em torno de 19° Brix e pH na faixa de 3,60.

A BRS Carmem origina suco de cor violácea intensa, que pode ser consumido puro ou utilizado em corte com suco de outras cultivares, aportando-lhes cor, aroma e sabor.

Mudas e gemas dessas e de outras cultivares, bem como estacas de porta-enxertos, podem ser adquiridas de viveiristas licenciados ou da própria Embrapa.

Informações e reservas no site do Escritório de Negócios da Embrapa Transferência de Tecnologia em Campinas: https://www.campinas.snt.embrapa.br/seresmap/uvas/.