No Jornal do Commercio LISBOA – Chefes de Estado e de governo de 28 potências militares se reúnem hoje e amanhã, em Lisboa, para redefinir os rumos da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).
Na pauta oficial, um tema predomina: a tentativa de acordo sobre o programa de retirada das tropas aliadas do Afeganistão entre 2011 e 2014.
Além da guerra ao terror, também serão discutidas a construção de um escudo antimísseis, a reorganização dos arsenais nucleares na Europa e a tentativa do Ocidente de atrair a Rússia para o rol de países que colaboram com a aliança militar.
Na cúpula, líderes políticos como os presidentes dos EUA, Barack Obama, e da França, Nicolas Sarkozy, além do premiê britânico David Cameron e da chanceler alemã Angela Merkel, buscam uma forma de deixar o Afeganistão sem que a retirada seja interpretada como um abandono do país, que enfrenta a resistência dos Talibãs.
O objetivo oficial é estabelecer uma parceria de longo prazo entre a Otan e o governo de Hamid Karzai.
O acordo resultaria na transmissão progressiva das operações antiterrorismo às forças afegãs entre 2011 e 2014.
Essa transição de poder para o Exército e a polícia locais se daria distrito a distrito, ao longo de 18 a 24 meses, a partir do primeiro semestre de 2011.
Caso o cenário se concretize, as operações da Força Internacional de Estabilização (Isaf) seriam encerradas em 2014, possibilitando a retirada das tropas dos 48 países – 28 dos quais da Otan – com efetivos em solo afegão.
São 140 mil soldados, dos quais 100 mil americanos. “Nós vamos entrar em uma fase fundamentalmente nova no Afeganistão”, afirmou o secretário-geral da Otan, Anders Fogh Rasmussen.
O debate em torno do Afeganistão se anuncia difícil, já que a Grã-Bretanha, a Alemanha e agora a França pressionam pela retirada de suas tropas no menor prazo possível, contrariando os interesses dos EUA.
Também ontem, o ministro das Relações Exteriores da Alemanha, Guido Westerwelle, defendeu a redução dos efetivos já em 2012.
Já o premiê britânico estabeleceu 2015 como prazo limite.
Entre analistas europeus, o pessimismo reina sobre a possibilidade de um acordo. “Os aliados vão lembrar o engajamento de todos na luta contra o Talibã, mas será algo retórico”, disse Jean-Pierre Maulny, diretor-adjunto do Instituto de Relações Internacionais e Estratégicas (Iris), de Paris. “Não há grandes possibilidades de acordo real”, acredita.
Apesar de concentrar as atenções, a guerra não é o único tema da cúpula.
Os aliados da Otan também retomarão o debate sobre a instalação de um escudo antimísseis na Europa, projeto dos EUA até aqui combatido pela Rússia.
Defendido no governo George W.
Bush, o escudo volta à tona com Obama. “Bush negociava os sistemas antimísseis de forma bilateral, com a Polônia e a República Checa.
Obama negocia de forma multilateral, no interior da Otan.
Mas os EUA farão o projeto avançar de qualquer jeito, seja dentro ou fora da Otan”, entende Corentin Brustlein, pesquisador do Instituto Francês de Relações Exteriores (Ifri).
O problema é conciliar a instalação do escudo antimísseis com o objetivo de estreitar a colaboração com a Rússia.
Uma das opções é tentar atrair o presidente russo, Dmitri Medvedev, para um acordo sobre a redução de arsenais nucleares táticos dos EUA na Europa, desde com a contrapartida russa.
Ainda ontem, às vésperas da cúpula da Otan, o chefe da espionagem portuguesa, Jorge Silva Carvalho deixou o cargo.
Ele teria deixado o cargo em protesto contra os cortes no orçamento do governo.
O ministro da Defesa, Augusto Santos Silva, disse que a renúncia não afetará a segurança dos líderes que participarão do encontro.