Do iG O custo da mão de obra no Brasil está nos níveis mais altos dos últimos dez anos.

Por conta do fortalecimento do real em comparação com o dólar e do aumento da renda do trabalhador, o custo unitário do trabalho em dólares (ULC-US$, na sigla em inglês) – indicador que mede o custo da mão de obra na produção de uma unidade do produto – atingiu, em setembro, o maior nível desde 2001.

Os números constam na base de dados do Banco Central.

O indicador chegou a 147,8 pontos no mês de setembro, superando os 147,7 de julho, o mais alto até então.

Em 2001, quando a série histórica começou a ser apurada, o ULC estava em 63,7. “A desvalorização da moeda barateia as importações e encarece, relativamente, os bens e serviços produzidos localmente”, diz o professor do Instituto de Economia da Unicamp e ex-presidente da Associação Brasileira de Estudos do Trabalho (Abet), Cláudio Dedecca.

Segundo os dados do Banco Central, desde dezembro de 2008 – quando o mundo ainda se via em meio ao caos da maior crise econômica dos últimos 70 anos -, os produtores brasileiros perderam cerca de 30% com a variação cambial.

No período, o índice de taxas reais de câmbio baixou de 103,7, em dezembro de 2008, para 72,5 em setembro de 2010.

As perdas, no entanto, foram parcialmente compensadas com o ganho de produtividade, que ficaram próximos de 15% nos últimos dois anos. “O mercado de trabalho está muito aquecido e, com isso, há um ganho enorme de renda.

Por conta disso, o custo do trabalho não consegue ser compensado pelo ganho de produtividade”, diz o economista da Tendências Consultoria Bernardo Wjuniski.

Entre dezembro de 2008 e setembro deste ano, o indicador que mede o índice de taxa real de câmbio corrigida pela produtividade baixou de 71 pontos para 59,1 pontos.

Com isso, a relação câmbio-salário corrigida pela produtividade fechou o nono mês de 2010 em 69,6 pontos, o segundo menor nível da história.

Segundo Cláudio Dedecca, o Brasil “é penalizado” por não conter a forte valorização cambial. “Outros países em desenvolvimento atuaram contra a valorização da moeda, especialmente a China, impedindo o aumento espúrio do custo do trabalho.” Apesar disso, continua o professor, o custo da mão de obra no Brasil não é um dos mais altos do mundo, sendo superado pelos países desenvolvidos.

Dedecca diz, no entanto, que, em relação aos emergentes, a situação do Brasil é “desfavorável”.