Por Adriana Vasconcelos, em O Globo.com Duas semanas após a terceira tentativa frustrada dos tucanos de voltarem ao poder central do Brasil, o presidente nacional do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE), admite que seu partido precisará passar por ampla reestruturação.
O PSDB, diz, passa a impressão de que é um partido de um pequeno grupo.
Nesta entrevista ao GLOBO, concedida na manhã de quinta-feira em seu gabinete no Senado, Guerra fala de sua preocupação com os rumos do futuro governo Dilma Rousseff, a começar pela ação articulada pelo ministro da Secretaria de Comunicação Social, Franklin Martins, de deixar pronto um projeto de regulação da mídia. » OUÇA TRECHOS DA ENTREVISTA Ele minimiza a nova disputa entre mineiros e paulistas pelo comando do PSDB - seu mandato termina em maio -, mas reconhece que, se o partido tiver mais de um candidato à Presidência da República em 2014, não terá como fugir das prévias.
Qual a estratégia da oposição daqui para a frente?
SÉRGIO GUERRA: Não pode ser outra a não ser se recompor e se reestruturar.
Ao longo especialmente do segundo turno, os partidos de oposição trabalharam em conjunto.
A avaliação nossa é que a eleição trouxe bons resultados.
Apesar da derrota para a Presidência?
GUERRA: Primeiro, 45% dos brasileiros disseram não.
Não foi apenas preferência à candidatura de José Serra, mas também negação ao nome de Dilma Rousseff e ao ‘status quo’, o que inclui o presidente Lula.
Segunda conquista, indiscutivelmente importante, foi a eleição de dez governadores: oito pelo nosso partido e dois pelo DEM, em governos relevantes como Minas, São Paulo, Paraná, Goiás, Pará, Rio Grande do Norte e Santa Catarina.
Sensato é ponderar, refletir e montar um projeto para o futuro.
Que tipo de oposição pretendem fazer?
Pontual, radical?
GUERRA: A oposição radical, não sabemos fazer.
Um dia desses, o presidente Lula disse que sofreu oposição radical. É a maior piada do mundo.
Muita gente acha que a gente não fez oposição.
Discordo.
Nós fizemos oposição do tamanho que tinha de ser, nem radical, nem moderada.
O senhor fala em reestruturação do partido, Aécio Neves em refundação, o que seria isto?
GUERRA: Aécio falou em refundação e sugeriu que seja nomeado um pequeno grupo para tratar de definir um novo posicionamento diante dos problemas do país.
Esse grupo inclui o próprio Aécio, (o ex-presidente) Fernando Henrique Cardoso, (o senador) Tasso Jereissati e José Serra.
Mas é apenas o começo de uma reavaliação mais voltada para programas partidários.
A reestruturação a que me refiro é outra, muito mais geral.
Isso significa que o PSDB precisa ser menos paulista?
GUERRA: O PSDB deve ser reconstruído e ganhar um caráter nacional, reestruturando não apenas seu pensamento, mas também a sua linguagem, ganhando organização e conteúdo para que o partido seja mais forte do que as pessoas. É preciso que o partido defina metas e objetivos, antes mesmo das pessoas, por mais relevantes que elas sejam, definirem as suas.
A impressão é que o partido é comandado por um pequeno grupo, ainda que de excelente qualidade.
Quanto mais abrir para a participação, colaboração, melhor.
Há clara falta de sintonia entre o partido e setores sociais emergentes e organizados, que não têm canal com o PSDB.
A quais setores se refere?
GUERRA: O PSDB ganhou as eleições nos centros brasileiros.
Foi a regra.
Perdeu as eleições nos grotões, nas áreas menos críticas do país.
Não falo do Nordeste contra Sul, nem do Sudeste contra o Centro-Oeste.
Em todas as regiões, este fato se deu.
O eleitorado mais dependente, menos crítico, votou no PT.
O mais crítico e menos dependente tende a votar no PSDB.
O que levou a oposição a perder mais uma vez a disputa presidencial?
GUERRA: Vamos ser sinceros, o prestígio e a força de um cidadão brasileiro, pobre, que se constituiu na maior liderança do país: Luiz Inácio Lula da Silva.
O resto é conversa.