Por Adriano Oliveira O Ministério da Educação errou mais uma vez.
As falhas no Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) 2010 causaram mais que uma polêmica no País quanto à segurança da aplicação das provas.
Um questionamento complexo surgiu: o Brasil tem instituições eficientes para realizar o Enem?
Há quem defenda que as falhas ocorridas com o exame são de responsabilidade exclusiva do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep).
Mas não se pode analisar o trabalho do Inep isoladamente, como se ele não fizesse parte do Ministério da Educação (MEC).
A Justiça Federal acatou liminar do Ministério Público Federal determinando a suspensão imediata do Enem.
Na opinião da juíza da 7ª Vara Federal, Carla de Almeida Miranda Maia, o requerimento que foi colocado à disposição dos estudantes prejudicados não é o bastante para corrigir as falhas ocorridas.
Os custos para a realização do Enem são altos.
E vários erros seguidos proporcionam o desperdício de recursos públicos.
Este ano, o Governo Federal gastou nada menos que R$ 128,5 milhões para realizar o Enem, um aumento de quase 30% em relação à aplicação das provas no ano passado.
Entretanto, ainda que se perca dinheiro, talvez seja adequado o cancelamento do exame.
Afinal, os erros foram muitos.
As falhas na impressão passam pela folha de respostas, contendo os cabeçalhos invertidos.
No caderno de perguntas, as questões de 1 a 45 foram de ciências humanas e, de 46 a 90, de ciências da natureza.
Na folha de respostas, no entanto, o cabeçalho de ciências da natureza estava antes (na numeração de 1 a 45) e o de ciências humanas depois (na numeração de 46 a 90).
Estes foram alguns dos problemas ocorridos.
Em outubro do ano passado, o MEC chegou a cancelar o Enem depois de uma reportagem no jornal O Estado de São Paulo sobre o vazamento do conteúdo das provas.
O exame foi remarcado para o mês de dezembro, mas algumas das grandes universidades do País, a exemplo da USP, Unicamp e PUC, desistiram de utilizar a seleção em seus vestibulares.
O resultado disso foi que, dos 4,5 milhões de estudantes inscritos, apenas 1,5 milhão dos alunos fizeram o teste.
E, como se não bastasse, o Inep ainda divulgou o gabarito errado das provas.
O Enem deste ano contou com a inscrição de 4,6 milhões de estudantes.
Ou seja, 4,6 milhões de brasileiros esperançosos por decidir o início de seu futuro profissional.
Certamente, muitos destes estudantes não esperavam tantos erros.
Pois, aprenderam em sala de aula que instituições são criadas para funcionar e atender com eficiência as demandas da sociedade.
Os erros do governo fazem com que o Enem não tenha a confiança dos estudantes e mostram a incapacidade do estado em criar instituições eficientes.
O Enem contribui para o descrédito do estado em vez de contribuir, e este era o seu objetivo, para o desenvolvimento das instituições brasileiras.
PS: Adriano Oliveira é cientista político, doutor, professor adjunto do departamento de Ciência Política (UFPE) e coordenador do Núcleo de Estudos de Estratégias e Política Eleitoral (UFPE)