É oportuna, mas insuficiente, a ação penal movida pela Ordem dos Advogados do Brasil, Secção de Pernambuco, contra uma jovem desorientada que usou os canais de comunicação da internet para expressar seu preconceito contra os nordestinos e incitar à prática de homicídio.
O caso é extremamente grave e vai muito além dessa desvairada: as manifestações criminosas são muitas, procedem das áreas mais desenvolvidas do País, e partem predominantemente de jovens e mulheres.
A desvairada que iniciou esse novo capítulo de preconceitos contra o Nordeste trouxe duas joias do pensamento racista.
Uma sugere que se mate um nordestino afogado, outra, associa o afundamento do País ao direito de voto para os nordestinos.
Para quem imagina que essa futura advogada – pois é estudante de direito – é um caso isolado, ainda não viu sequer a ponta do iceberg dessa assombrosa manifestação de ignorância de uma geração que está potencialmente a caminho de governar os destinos de todos os brasileiros.
Há, de outros maníacos da internet, frases mais assustadoramente preconceituosas, como “vocês nordestinos que infectam São Paulo devem pegar o pau de arara e voltar pro Nordeste de Lula e Dilma”, “Quero um Brasil sem o Nordeste.
Sonegação já.
Vamos esvaziar os cofres públicos e dar fim ao bolsa vagabundagem”, “É tudo culpa dos nordestinos… seca eterna pra vocês!
Dilma presidente, parabéns povo burro!”, “A gente no Sul paga pra esses nordestinos de merda terem o Bolsa Família e votarem”, “O Nordeste não deveria existir, bando de ignorante morto de fome, que se vendem por uma cesta básica e coisas do tipo”.
Há mais, muito mais, montando um cenário gravíssimo, que vai além da simples revolta pela eleição de Dilma Rousseff.
Ela apenas potencializou um sentimento que já se manifestou em muitas oportunidades.
O que está acontecendo é um capítulo a mais de uma cultura separatista que ainda não teve a abordagem política e educacional necessária para unificar a Nação.
Como a temos hoje não é uma Nação, mas várias nações.
Não importam os tratados sociológicos que nos apresentam como uma Nação unificada pelo idioma, pela religiosidade e por um suposto sentimento de solidariedade.
O que vomitam jovens de todos os Estados mais ricos contra o Nordeste desfaz inteiramente essas crenças.
E é assustador constatar que não será a ação penal contra uma jovem qualquer, nem a eloquência dos que recorrem às leis, a começar pela maior, a Constituição, que mudará a cabeça desses jovens.
Nessas manifestações estúpidas há uma carga gigantesca de ignorância, do que só pode decorrer a constatação de que nossas escolas fracassaram na formação da consciência de humanidade e nacionalidade.
Não sabem dizer, por exemplo, o papel do Nordeste na formação do Brasil e até mesmo como os nordestinos construíram e continuam construindo os grandes centros mais desenvolvidos do País.
Já tentaram refletir, com esses jovens, sobre a hipótese de os nordestinos abandonarem São Paulo?
O que seria da maior e mais rica cidade do País?
Por que não informam aos jovens privilegiados valores de cidadania?
O sentimento antinordestino apenas vem a tona em decorrência de um episódio eleitoral, mas é dele que resulta o nosso atraso em relação ao Brasil mais desenvolvido.
Os jovens ignorantes que hoje vociferam contra os nordestinos podem estar apenas verbalizando o que os pais não fizeram ou temem fazer de público. É a estupidez em matéria de cidadania, com que contribuem dirigentes que segregam a região, tiram dela a força motriz, principalmente a mão de obra mais barata, e instalam as condições odiosas de separatismo.
Esse episódio não pode se esgotar na indignação diante das agressões de jovens despreparados, que utilizam desse instrumento revolucionário de comunicação para expor ignorância e ódio.