Por Tiago Ferreira da Silva Carta de repúdio à Mayara Petrusco e à líder do Movimento SP para Paulistas As eleições para presidente neste ano nos trouxeram uma grande lição: o quão intolerantes podemos ser em defesa dos nossos candidatos, que representam nossos ideais e, possivelmente, nossa forma de pensar.

No segundo turno, essa intolerância tomou mais corpo com sucessivas apelações para tentar alavancar a vitória de determinado partido, dando margem aos preconceitos explícitos - como é o caso da senhorita Mayara Petrusco, que postou em seu Twitter a seguinte mensagem de caráter xenófobo: “nordestino não é gente, faça um favor a São Paulo, mate um nordestino afogado”.

Não fosse o bastante, o Movimento SP para Paulistas praticamente selou seu apoio à declaração, alegando que “querem vitimizar o Nordeste”.

Aqui, deixo meu repúdio a essas declarações totalmente desprovidas de embasamento teórico e absurdamente discriminatórias.

Primeiramente, não fossem os nordestinos, a economia do estado de São Paulo não teria todo esse aquecimento.

Segundo o censo de 2000 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a cidade comporta cerca de 19,7% desses migrantes.

Isso sem contar as gerações póstumas dos nordestinos (da qual estou incluso), que nascem aqui depois de seus pais já terem batalhado bastante e, na maioria das vezes, conseguem se estabilizar profissionalmente, conquistando empregos mais bem remunerados que seus progenitores.

Noutras palavras, quem faz a cidade de São Paulo são os migrantes, em sua maioria nordestinos.

Claro que há uma lógica marxista em tudo isso: na procura de melhores condições de vida, o cidadão que mora em uma cidade pequena do Nordeste, por exemplo, cria o mito de que a capital paulistana é o lugar certo para trabalhar devido às inúmeras oportunidades de emprego.

Chegando aqui, depara-se com serviços braçais que, ainda assim, lhe garantem melhores condições financeiras do que o isolamento sertanejo.

Há uma possibilidade, mesmo que pequena, das coisas melhorarem.

E essa ponta de esperança é a força motriz para conquistarem aos poucos seu espaço nas periferias da cidade, até atingirem melhores níveis socioeconômicos e garantir estabilidade aos filhos.

Afinal, o que seria da classe dominante sem a classe trabalhadora?

De acordo com o pai da sociologia Max Weber, “o trabalho enobrece, mas o nobre não trabalha”.

E alguns péssimos exemplos de paulistas ‘elitizados’ veem o nordestino como subjugado, sem perceber que o giro econômico do estado como um todo está concentrado em trabalhos de baixa e média renda.

E o subjugo é revertido como forma de preconceito e xenofobia, como pudemos ver com a declaração hedionda de Mayara.

A doutora em Ciências Sociais pela PUC-SP Dulce Maria Tourinho Baptista acredita que essa indiferença entre paulistas mais radicais e os nordestinos são construídas de uma forma simples: o estranhamento com o diferente. “Será que o preconceito contra o nordestino em São Paulo é porque a cultura paulista também é nordestina?

Qual a identidade de São Paulo?”, indagou a pesquisadora certa vez, quando estava gravando um documentário para a faculdade de jornalismo. “São várias culturas que estão aqui presentes, inclusive a do nordestino.

Ele ajudou a construir São Paulo por fruto da sua mão-de-obra”.

Portanto, antes dos rebeldes sem causa como Mayara ou a líder do Movimento SP para Paulistas, Fabiana Pereira, dispararem argumentos vazios de preconceito com os migrantes de sua terra, sugiro uma alternativa: que tal perceber melhor a realidade ao seu redor e se informar mais?

Um pouco mais de conteúdo não faz mal a ninguém.

PS: Tiago Ferreira Silva é jornalista e editor do blog Na Mira do Groove