Por Gustavo Krause O exercício de poder coloca em pólos distintos os que mandam, oprimem e o que obedecem e são oprimidos.Com o ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio) não é diferente. É mais grave.

Com efeito, esta relação de poder entre os que avaliam e são avaliados se reveste de dois conteúdos: o político-institucional que vem do Estado; o conhecimento que tem origem nos “educadores”.

Pois bem, nesta complexa relação que permeia a vida social há traços virtuosos da solidariedade e da compaixão, mas há, também, graves sintomas da patologia do sadismo.

Aliás, o aristocrata libertino, Marquês de Sade, doido de pedra e de hospício, inaugurou não apenas a teoria e a prática das relações sexuais alimentadas pelos maus tratos entre parceiros, como também possibilitou a percepção mais ampla de que esta grave patologia se estende pela variada gama das relações sociais.

De forma disfarçada, enrustida, sempre, porém, a partir de uma relação de poder onde o sofrimento causa prazer.

O momento em que milhares de jovens, sofridos, nervosos, extenuados e, com eles, famílias inteiras, tensas, angustiadas, passam pela seleção o vestibular/ENEM, determinadas exigências somente podem ser explicadas por desvio de ordem psicológica.

Proibir o relógio significa vedar ao aluno a possibilidade de medir o tempo, elemento fundamental para a organização mental do que se pode chamar da tecnologia na execução da prova.

O lápis, sim, o lápis, também entra na proibição e devia constar nas prescrições de Sade para outro tipo de uso.

Razões?

O zelo pela segurança na lisura da aplicação da avaliação, avaliação que os avaliadores fogem como o diabo da cruz.

Ridículo!

Lembrem-se do ano passado: uma vergonha!

E o mais grave: a exigência do edital foi confirmada pela Justiça.

Parabéns, senhores juízes.

Mas os sintomas de sadismo praticado contra aquela nervosa e aturdida multidão de jovens que parecem caminhar para o cadafalso, não vem só.

Está na manchete do JC, edição do domingo, dia sete: ENEM COMEÇA COM ERROS E ATROPELOS.

Inacreditável!

Antes dos resultados, reprovados certos: O MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, os organizadores do ENEM que dispõem de uma estrutura enorme, paga com o dinheiro do contribuinte.

Com o ano inteiro para preparar o exame, cometem lambanças do tamanho do Brasil.

Falhas capitais que confundem, gera insegurança e compromete um mecanismo que, se bem aplicado, tem indiscutível valia para aferir conhecimento nesta desumana competição.

Falhas na forma (prova amarela com páginas da prova branca), falta ou repetição de quesitos, troca de gabarito, descuido na elaboração do conteúdo, despreparo dos fiscais, tudo contribuindo para aumentar os stress dos vestibulandos. “Ninguém será prejudicado”, afirma, afirma candidamente, o presidente do INEP.

Já prejudicou, cara pálida!

Vocês deviam estar, já que se falou na confusão entre o branco e o amarelo, roxos de vergonha.

Não dá para contestar a triste colocação do Brasil no ranking do IDH que despenca do septuagésimo terceiro lugar quando considerado o critério educacional e a vergonhosa oscilação do último/penúltimo lugar na pesquisa internacional PISA feita entre 57 países considerando o desempenho dos alunos em línguas, ciência e matemática.

Mas há quem ache a educação brasileira vai bem…..

PS: Gustavo Krause é ex-ministro da Fazenda