Ruth de Aquino, colunista da Revista Época “Nordestino não é gente. faça um favor a São Paulo, mate um nordestino afogado”, escreveu a estudante de Direito Mayara Petruso em seu perfil no Twitter.

O show de preconceito de Mayara foi uma reação irritada e burra à vitória de Dilma Rousseff no Nordeste.

Além de perder seu estágio e ser processada pela OAB de Pernambuco, Mayara conseguiu outra façanha.

Despertou uma onda de comentários de ódio e preconceito contra os paulistas.

O que não falta hoje na rede é gente como a gente, intolerante e racista.

Euclides da Cunha em Os sertões escreveu que “o nordestino é antes de tudo um forte”.

Alguém duvida disso?

A seca, a separação de parentes pela migração, a falta de terra, a renda menor, a oportunidade cavada à base de luta e provação, tudo isso faz deles resistentes.

Não estão apenas no Nordeste.

Os nordestinos estão nas portarias, construções e nos restaurantes do Rio de Janeiro e de São Paulo.

A convivência no “Sul maravilha” é intensa e enriquecedora.

Música, comida, festas, danças, crenças, literatura, quantas trocas podem ser feitas entre o povo de cá e de lá, todos brasileiros falando a mesma língua?

Do Nordeste veio o baiano Jorge Amado.

O alagoano Graciliano Ramos.

O pernambucano João Cabral de Melo Neto.

A cearense Rachel de Queiroz.

O paraibano José Lins do Rego.

Vieram Caetano, Gal e Bethânia. É sem fim a contribuição cultural dos nordestinos.

Mas o preconceito existe na cabeça de muitas Mayaras por aí.

Um sentimento escondido que essa moça escancarou.

Numa eleição em que o presidente Lula estimulou a rixa e a animosidade entre ricos e pobres, sul e norte, é normal que os ânimos continuem acirrados.

Anormal é todo esse ódio e desprezo de uma estudante, e logo de Direito.

Em seu perfil no Twitter, ela escreveu: “Deem direito de voto pros nordestinos e afundem o país de quem trabalhava pra sustentar os vagabundos que fazem filho pra ganhar o bolsa 171”. É ofensivo, triste e dá vergonha.

Mesmo assim, muitos outros internautas se animaram com Mayara e pediram “câmaras de gás no Nordeste matando geral” ou então sugeriram “separar o Nordeste e os bolsas vadio do Brasil”. É xenofobia em alto grau.

O significado original de “xenofobia” é preconceito com estrangeiros, mas se aplica a esse caso.

Essa turma parece considerar os nordestinos um povo estranho e inferior.

Os comentários da estudante de Direito no Twitter são um crime contra os nordestinos Mayara tampouco sabe fazer conta.

Mesmo sem os votos do Nordeste, Dilma seria a nova presidente do Brasil.

Entre os paulistas, ela teve uma votação expressiva e ganhou no Rio de Janeiro e em Minas Gerais.

Para os tucanos fanáticos, porém, o recado do Nordeste nesta eleição foi um acinte: Dilma teve mais de 70% dos votos, uma vantagem de 10,7 milhões somente nessa região.

E isso representa quase toda a diferença obtida no país.

Por isso, Mayara partiu para cima dos nordestinos e virou a antiestrela da maior diversão atual na rede: achincalhar, caluniar, difamar (leia mais).

O lado bom é que o gesto parece não ter ficado impune.

A estudante responderá por crime de racismo e de incitação a homicídio, segundo a OAB de Pernambuco.

E a pena é de dois a cinco anos de prisão, mais multa.

Mayara talvez precise ser advogada em outro país.

Na Inglaterra pode ficar difícil, pois o caso foi parar em detalhe num dos jornais mais importantes de Londres, o Daily Telegraph.

O lado ruim é que detonou uma campanha de ódio contra os paulistas.

Não sei até que ponto a Justiça reage com a mesma presteza contra quem demonstra preconceito contra ricos e brancos.

Mas os paulistas estão sendo chamados de “bestas” e “gente que não trabalha” e “vota em palhaço”.

Chega desse besteirol étnico.

A eleição terminou.

Vamos deixar que o espetáculo pobre fique por conta dos políticos, em sua guerra por cargos e boquinhas.

Tão excitados estão os parlamentares – paulistas, cariocas, nordestinos, nortistas e sulistas – que deixaram às moscas e sem quorum, na semana passada, os salões do Congresso Nacional.

Isso sim vale uma campanha no Twitter.

Voltem ao trabalho, congressistas!