Da revista Istoé Diante da expressiva vitória da base aliada do governo nestas eleições, partidos oposicionistas como PSDB e DEM terão que passar por uma reforma radical para se manterem vivos na cena política nacional.
Líderes dos dois partidos admitem que será necessário se reciclar e buscar novos espaços, bandeiras e estratégias de ação para atuar num Congresso que tende a ser mais dócil aos anseios da presidente Dilma Rousseff.
Nesse quadro, o PSDB pretende uma forte mudança de perfil, abrindo espaço para a ascensão de políticos mais jovens e menos ligados aos dirigentes paulistas que dominam a legenda.
O nome mais citado desta nova tendência é o do ex-governador de Minas Gerais e senador eleito, Aécio Neves.
Ele fez seu sucessor, saiu muito forte das urnas e obrigará o partido a repensar a maneira de fazer oposição. “O PSDB vai ter que se reformular, com base nas novas lideranças”, reconhece Euclides Scalco, ex-secretário-geral da Presidência do governo FHC e um dos fundadores do PSDB.
No caso do DEM, que ainda carrega o peso da origem, como sucedâneo da Arena, do PDS e do PFL, que apoiaram a ditadura militar, não bastará uma guinada de rumo ou a renovação de seus quadros.
A luta dos democratas será efetivamente pela sobrevivência.
O partido encolheu nas urnas.
Com uma bancada pouco expressiva na Câmara, o DEM nem sequer terá força numérica para barrar votações do governo.
E a legenda ainda poderá, num futuro próximo, sofrer baixas com as saídas de Rosalba Ciarlini (RN) e Gilberto Kassab (SP), suas principais lideranças nas regiões Nordeste e Sudeste. “Nós é que vamos pagar o maior preço dessa derrota”, atesta o deputado Alceni Guerra (DEM-PR), que está preocupado com a extinção de seu partido a partir da perspectiva de mais quatro ou até oito anos de governo petista.
O DEM tinha se reformulado para representar a defesa de um liberalismo mais moderno, de estilo europeu, mas não conseguiu votos.
Seu problema agora é a própria identidade.
Embora a situação do PSDB seja menos dramática do que a do DEM, graças a algumas vitórias em Estados importantes, os tucanos já buscam um reposicionamento no cenário político e uma nova forma de agir como maior partido de oposição.
Pensam, por exemplo, em retomar com força bandeiras históricas da legenda, que foram praticamente alijadas desta eleição.
Entre elas a responsabilidade fiscal, a descentralização dos serviços públicos e o combate ao patrimonialismo, ao inchaço da máquina estatal e à alta carga tributária. “O PSDB deve recuperar a posse de suas bandeiras, resgatando o que tem de positivo do legado do ex-presidente Fernando Henrique”, afirma o cientista político Celso Roma, doutor pela Universidade de São Paulo.
Nesse contexto, o PSDB tende a pautar sua atuação por uma crítica menos raivosa e mais propositiva ao governo Dilma Rousseff. “Precisamos de diretrizes claras”, prega o ex-presidente da Assembleia Legislativa de SP Luiz Benedicto Máximo.
Ao deixar de apresentar bandeiras bem definidas e optar por uma oposição truculenta no estilo, os tucanos concordam que o partido perdeu sua essência social-democrata nesta campanha eleitoral. É quase unânime dentro do PSDB a visão de que o triunfo do PT nas urnas deve-se não só aos méritos do atual governo, ancorado na popularidade de Lula, mas também aos graves erros cometidos pela oposição.
Dessa autocrítica brota com força a liderança de Aécio Neves, um político jovem, eleito duas vezes governador de Minas Gerais e que chega ao Senado como o principal nome da oposição no Congresso a partir de 2011.
Cotado para ser o candidato do PSDB à Presidência da República em 2014, Aécio tem defendido, com insistência, uma nova forma de fazer oposição. “Deve mesmo haver mudança na correlação de forças no interior do PSDB, com o fortalecimento do diretório de Minas Gerais, sob a liderança de Aécio.
O núcleo paulista tende a perder influência sobre os rumos do partido”, concorda Roma. “Aécio é a linha da oposição que vem se fortalecendo.
Essa linha da truculência não tem futuro e tende ao isolamento”, afirma o líder do governo, deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP), um dos nomes fortes do partido para comandar a Câmara em 2011.