Por Gustavo Krause, especial para o Blog de Jamildo A coexistência de nações ricas e pobres sempre desafiou a capacidade de resposta das ciências sociais, em especial, da teoria econômica.
O esforço acadêmico, além de insuficiente, passa longe de um consenso capaz de explicar natureza, causas e soluções para a pobreza e riqueza das nações.
No entanto, a experiência histórica que, embora não responda como verdade científica a estas questões, fornece algumas pistas encorajadoras dos caminhos a serem seguidos.
Para chegar ao desejado patamar de nação desenvolvida, governos e sociedades têm feito a lição correta de conjugar alguns verbos.
Vamos a eles.
O verbo educar.
Nações desenvolvidas, sem exceção, atingiram elevados padrões educacionais.
Formaram uma sociedade de cidadãos educados o que significa pessoas capacitadas para exercer um permanente papel transformador.
O cidadão educado é o núcleo primeiro do desenvolvimento; é ele o motor de uma consciente participação política e a mola mestra da inovação no seu sentido mais amplo.
O uso proposital da expressão “cidadão educado” busca superar os resíduos de preconceito ideológico ao termo “capital humano”, cuja elaboração teórica, como fator de produção, hoje largamente aceita, é devida a Theodore Schultz e Gary Becker, Nobel de Economia/1992.
No Brasil, este verbo não vem sendo bem conjugado.
Tanto é verdade que, a despeito de avanços quantitativos, nosso País alterna último e penúltimo lugar, entre 57 países avaliados pela PISA, pesquisa que leva em conta o desempenho dos alunos do ensino fundamental e médio em línguas, matemática e ciências.
Os verbos trabalhar e produzir.
Os referidos verbos devem ser acompanhados dos advérbios de modo “produtiva e competitivamente”.
No caso brasileiro, o trabalho e todo o setor produtivo são onerados, de um lado, por enorme carga fiscal e, de outra parte pelos chamados “custos de transação”, resultantes do peso da burocracia, da corrupção, da insegurança jurídica, da lentidão do Judiciário e da precariedade da infra-estrutura física.
Os verbos poupar e investir.
São os níveis de poupança nacional que financiam os investimentos e asseguram o crescimento econômico sustentado.
No caso brasileiro o governo é gastador e, por isto, “despoupa”; o nível da poupança privada, por sua vez, é insuficiente para garantir o nível de investimento adequado para que o PIB tenha um desempenho elevado e constante.
O tripé do crescimento brasileiro tem sido o consumo desembestado, a gastança corrente do governo e a concentração de crédito das instituições de fomento (72,6 bilhões aplicados pelo BNDES nos sete primeiros meses de 2010: 64% grandes empresas; 18% pequenas e micro empresas; 11% médias; 7% pessoas físicas).
Preocupa, ainda, o rumo que venha a ser dada á política econômica do próximo governo com nítidos pendores estatizantes e o indisfarçável desejo de empurrar o CPMF goela abaixo do contribuinte.
Os verbos criar, consolidar, aperfeiçoar e respeitar instituições democráticas.
Não há registro de países desenvolvidos sem que a democracia esteja enraizada nas culturas políticas e que as instituições funcionem de modo a assegurar as liberdades política, econômica, de expressão, o funcionamento do sistema político e a segurança jurídica nas relações econômicas e sociais. É este arcabouço jurídico-institucional que confere estabilidade sistêmica e proporciona o que a escola institucionalista denomina “produtividade geral dos fatores de produção”.
No Brasil, as reformas foram congeladas; o sistema político, anacrônico e disfuncional consagrou definitivamente o slogan “política também é investimento”; a reverência e o respeito pela legalidade e pelas instituições deram lugar ao afrontoso comportamento do Presidente da República.
Findo o debate eleitoral, talhado a ferro, fogo, muito calor e pouca luz; conjugado o verbo prometer em todos os modos e tempos, o Brasil tem governo eleito e a procedente expectativa de que nosso futuro depende da superação do dil(e)ma: ou a chefe do governo assume a dimensão de estadista o que significará um avanço, entrecortado pelos inevitáveis amuos do seu padrinho; ou cumpre a triste sina de refém da proveta que lhe deu o sopro vital na eleição presidencial.
Para o bem de todos, que conjugue os verbos do desenvolvimento sem esquecer o mais novo e nobre verbo que passou a compor a gramática da humanidade: respeitar a natureza.