Do Jornal do Commercio O ministro da Educação, Fernando Haddad, anunciou ontem que não homologará parecer do Conselho Nacional de Educação (CNE) contrário à distribuição em escolas públicas do livro Caçadas de Pedrinho, do escritor Monteiro Lobato.
Diferentemente do conselho, Haddad disse não ver racismo na obra.
Ele pedirá à Câmara de Educação Básica do CNE que reexamine o assunto e modifique o parecer.
A decisão do conselho só pode entrar em vigor com a homologação do MEC.
O ministro disse que inúmeros educadores se manifestaram contra a posição. “É incomum a quantidade de manifestações que recebemos de especialistas na área que não veem prejuízo em que essa obra continue sendo adotada nas escolas”, disse Haddad.
O presidente da Câmara de Educação Básica do CNE, Francisco Aparecido Cordão, negou intenção de veto ao livro e disse que houve um problema de redação no parecer. “Vamos fazer uma discussão interna nossa para rever a redação.
Ninguém quis censurar Monteiro Lobato”, disse Cordão.
Segundo ele, o parecer só exige a inserção de nota explicativa no livro para alertar sobre a presença de estereótipos raciais na obra, auxiliando o trabalho dos professores em sala de aula.
Haddad se disse favorável à nota.
Caçadas de Pedrinho foi publicado em 1933.
De acordo com o parecer do CNE, o livro contém trechos racistas envolvendo a personagem negra Tia Nastácia.
Num trecho, a personagem Emília refere-se ao iminente ataque de onças e animais ferozes ao Sítio do Pica-pau Amarelo: “Não vai escapar ninguém – nem Tia Nastácia, que tem carne preta”.
Em outro trecho, a personagem sobe num mastro para fugir das onças.
A cena é descrita assim por Monteiro Lobato: “Tia Nastácia, esquecida dos seus numerosos reumatismos, trepou que nem uma macaca de carvão”